No passado dia 9 de Outubro faleceu na sua casa de Ronfe, concelho de Lousada, o Rodrigo Rosas Leitão, TCor Engº Tm na situação de Reforma.

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Filho do Cor Eng Mário Leitão, figura marcante da Arma de Tm nos anos 60, pertencia a uma família de militares, pois ele e os seus irmãos, depois de todos terem frequentado o Colégio Militar, todos enveredaram pela carreira das Armas, tendo dois vindo a integrar a Arma de Engenharia e dois a de Transmissões.

Em 2012 o TCor Rodrigo Rosas Leitão contribuiu com o seu depoimento para a história da Arma de Tm, podendo ser recordado aqui o que então deixou escrito e que ficou arquivado sob o menu “História das Tm” deste blogue.

O MGen Pinto de Castro, que com ele privou e trabalhou de perto, prestou-lhe uma sentida homenagem que aqui fica registada:

Ao meu Amigo 

Rodrigo Leitão

O Rodrigo virou a última página da sua história. Era um desígnio marcado. Parte deste Mundo para outras realidades, deixando um registo memorável da sua passagem, concretizado por uma obra extraordinária, muito acima da média, só ao alcance das grandes personagens.

Era uma cabeça brilhante que nunca parava de pensar, tendo sempre ideias sem fim. Muito estudioso estava permanentemente interessado nas novidades tecnológicas de que era bom conhecedor e que o levavam a um constante lançamento de iniciativas inovadoras arrojadas.

Ele foi sem dúvida uma figura marcante na Arma de Transmissões, que pela sua ação, granjeou a reputação de possuir uma alta capacidade técnica não só na área Militar como no meio civil Industrial e Comercial

O Rodrigo, por quem nutria uma enorme amizade, deixa-me uma grande dívida de gratidão por ter sido com ele que iniciei a vida técnica que procurava.

Rendo-lhe, por isso, a minha homenagem e o meu agradecimento.

Não posso deixar de referir factos e circunstâncias que testemunhei enquanto com ele convivi e trabalhei.

Lembro-me de me ter oferecido para ir para o DGMT, onde fui colocado em 25-02-1977, por Influencia do meu amigo Costa Dias e por saber que estava nas intenções do Diretor da Arma, o então Brig Pereira Pinto, em modificar aquele órgão, que era um depósito de material velho e obsoleto, para uma unidade técnica eficiente destinada a servir de Base ao Apoio das Transmissões Táticas, o que perspetivava uma atividade técnica que desde sempre me atraiu.

Conheci nessa altura o Rodrigo Leitão. Ele tinha grandes ideias e projetos para transformar o Depósito num órgão eficiente no apoio ao material das transmissões táticas, reformando os processos de manutenção, reabastecimento e reequipamento do Exército

Com o fim da Guerra de África, o Exército deparou-se com a necessidade de fazer o reequipamento total dos meios de transmis-sões para se adaptar às necessidades de atuação das Unidades enquadradas num TO moderno. Perante a questão de ter que se proceder à aquisição de novos equipamentos, ele, mais uma vez, impelido pelo seu ideal de criação e inovação, lança o desafio ousado de se fazerem os desenvolvimentos e fabrico dos novos equipamentos no País.

Para isso, convidou a mim e ao Costa Dias para formarmos uma equipa, que teria como primeiro objetivo avançar com o desenvolvimento de um Rádio que funcionasse na Banda VHF dos 41 MHz aos 51MHz e que pudesse ser usado a dorso, como o rádio TR-28, e também em viatura.

Houve inúmeros debates e trocas de ideias sobre as especificações e forma de realizar o projeto. Sabíamos que a iniciativa era muito arriscada porque, havendo uma grande descrença no meio Militar sobre a capacidade de realização de um rádio pela nossa Indústria, o mesmo não poderia falhar.

Depois de vencidas muitas dificuldades, conseguiu-se produzir com êxito 3 protótipos. Seguiu-se uma produção de uma pré-série de 100 equipamentos e mais tarde o fabrico de várias séries.

Logo a seguir, conceberam-se e produziram-se as montagens veiculares adaptadas para trabalhar com a versão base.

 

Na sequência daquela experiência, sempre impulsionada pelo Rodrigo Leitão, seguiram-se vários desenvolvimentos na Indústria Nacional que terminaram com êxito, designadamente, os Sistemas de Inter-comunicações para Carros de Combate, Telefone Eletrónico de Campanha, Cabines de Transmissões, Rádio Portátil de mão, Rádio de HF ligado a Teleimpressor, Central Digital de Campanha, as bases da versão seguinte do primeiro Rádio, que pode trabalhar nas Bandas de HF, VHF e UHF, entre muitos outros.

Estes desenvolvimentos tinham a caracte-rística importante de incluir componentes e tecnologias de ponta, pelo que, muitas vezes, atingiram o top dos seus concorrentes a nível mundial. 

A ideia da Central Digital surge por se perspetivar que na década de 90 as Centrais Digitais viriam a substituir as Centrais Eletromecânicas.

A Área da logística, teve também um fortíssimo avanço impulsionada pelo Rodrigo Leitão.

Com o seu espírito sonhador, criativo, estudioso e extremamente persistente, lançou as iniciativas para uma reviravolta completa do DGMT, começando por promover o esvaziamento de vários pavilhões que estavam degradados, cheios de sucata e material obsoleto, para os adaptar a novas infra-estruturas modernas para as áreas de Estudo e Projeto, Laboratório, Manutenção, Reabastecimento e de Recuperação do material.

A group of people in uniform

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A Zona da Recuperação do material, que concebeu e pôs a funcionar, permitiu recuperar o material completamente arruinado evacuado da Guerra, deixando-o em estado novo não só nas partes mecânicas como na parte eletrónica. 

A rotina de funcionamento deste órgão, implantou-se de tal modo que, quando o DGMT recebia material evacuado das Unidades, o mesmo era enviado obrigatória-mente para a recuperação antes de entrar nos Armazéns da Cadeia de Reabastecimento. Era uma autêntica atividade de 5º Escalão.

Introduziu a capacidade de manutenção e intervenção nos equipamentos de Fx Hz baseados no FM-200 e Multiplexer DX-15/60 da Telefunken e AEG/SIEMENS, respetiva-mente. Negociou com aquelas empresas o fornecimento dos equipamentos em kits para serem montados em Portugal, com a inclusão dos jigs de teste e a aparelhagem de medida especial necessária, bem como, a sua posterior utilização no DGMT. Estes equipa-mentos eram muito sofisticados, não se conseguindo fazer a sua calibração e manutenção até serem montados e reparados na EID após 1982

Para a manutenção dos Teleimpressores T1000Z, que passaram de aparelhos electro-mecânicos a quase 100% eletrónicos conse-guiu que a empresa SIEMENS cedesse as condições técnicas para a sua reparação no DGMT onde se criou uma área com um Sargento especializado naquela tecnologia

Teve influência decisiva na concretização e materialização da organização da Cadeia de Manutenção do Material de Transmissões com a criação dos órgãos do 2º, 3º e 4º Escalões, a qual, tinha sido concebida e divulgada pelo então Diretor da Arma, Brig Pereira Pinto.

Com a recuperação e transformação dos pavilhões velhos, criaram-se áreas de manutenção específicas e novos métodos de trabalho que tornaram a resposta do 4º Escalão muito eficiente. A Manutenção beneficiou muito com o facto de passar a estar ao lado da Área do Reabastecimento, que também passou a trabalhar de forma mais organizada e eficiente. 

Nas Novas Tecnologias teve muitas iniciati-vas, lançando, entre outras, a ideia: de Produção em Portugal de Circuitos Híbridos, o que deu origem à celebração de um Protocolo de acordo entre o LNETI e o Exército; de produção de circuitos impressos de furo metalizado, que permitiu começar a produzir-se aquelas placas no DGMT e mais tarde na EID durante o fabrico do nosso primeiro rádio; e de se aperfeiçoar a técnica de soldar, para o que se adquiriu um Curso de Soldadura a uma empresa especializada dos EUA.

A Área da Formação existente na Escola Militar Eletromecânica, teve uma grande melhoria com a sua iniciativa de introduzir novos métodos para a instrução dos radio-montadores que iriam fazer a manutenção dos equipamentos desenvolvidos, os quais se baseavam em programas de ensino apoiados pelos engenheiros que tinham estado no desenvolvimento dos respetivos módulos

A group of people standing in a room

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Influenciou a criação de uma área laborato-rial na Arma de Transmissões num órgão designado por DEP, Divisão de Estudos e Projetos para se poderem fazer análises técnicas mais profundas.

Pode dizer-se que o DGMT adquiriu um estatuto onde se sabia haver competência técnica e aonde era aliciante escolher para ser colocado. O Gen Pinto Correia chegou a sugerir a mudança do nome do DGMT por considerar que a designação de Depósito pudesse trair a sua real capacidade funcional.

Na receção de material, quer adquirido por desenvolvimento quer comprado, procedia-se à sua verificação através de testes exigentes de análise laboratorial antes do mesmo dar entrada na Cadeia de Abastecimento.

Por fim, há que salientar que a concretização em 1983 da sua ideia antiga de passar à reserva aos 40 anos, foi uma perda para a Arma e para o Exército.

Logo a seguir, devido às suas qualidades bem conhecidas dentro e fora do Exército, recebeu inúmeras ofertas de emprego, que o levaram a percorrer cargos importantes na CENTREL, EID e TELERUS, representante da R&S. Nessas novas funções continuou com a sua atividade de lançamento de iniciativas inovadoras de grande objetividade e importância futura.

As suas qualidades foram sempre reconhecidas por todos os superiores com quem contactou, especialmente o do Diretor da Arma, Brig Pereira Pinto, que lhe deram todo o apoio.

Presto a minha homenagem ao Rodrigo, não só pela forma superior como cumpriu a sua Missão aqui na Terra, mas também pelas extraordinárias qualidades humanas de integridade e nobreza de carácter que sempre demonstrou.

Espero que agora descanse em Paz na Infinita Multidimensão.

Do amigo 

José Pinto de Castro

Para ver e eventualmente imprimir esta homenagem em versão pdf, carregue aqui.

1 comentário em “TCor Eng Tm Rodrigo Manuel Rosas Leitão

  1. Um forte abraço à família e uma saudosa memória à figura ímpar do TCor Rodrigo Leitão.
    Muito aprendi, convivi e ri com este camarada mais antigo com quem era sempre agradável Viver!
    No Colégio, a diferença de idades não permitiu convivermos enquanto alunos, mas como Oficial de Transmissões várias foram as vezes que trocámos ideias, impressões e afectos!
    Bem haja meu TCor!

    MajTm Tomás Fernandes

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