Post do Cor Aniceto Afonso, recebido por msg:

  1. A PRIMEIRA VISITA DE SOARES BRANCO ÀS UNIDADES INGLESAS

Como já sabemos, o relatório do capitão de Engenharia Soares Branco, chefe do Serviço Telegráfico do Corpo, é um documento fundamental para se compreender como funcionou este Serviço na frente de batalha, durante o período em que o CEP se manteve em França.

Já falámos das visitas que Soares Branco efetuou às unidades inglesas de diferentes escalões, logo após a sua chegada a França, a partir do final do mês de janeiro de 1917. No primeiro texto demos uma ideia geral destas visitas, nas suas grandes linhas. Mas o relatório é minucioso em relação aos aspetos mais interessantes relacionados com o funcionamento do serviço telegráfico nas unidades inglesas.

Vejamos então algumas das observações que Soares Branco considerou relevantes e que incluiu no seu relatório.

Durante a visita que efetuou ao QG do XI Corpo da Força Expedicionária Britânica, iniciada em 2 de fevereiro de 1917, são de destacar os apontamentos sobre pessoal e material e também sobre o funcionamento do Serviço Telegráfico (Signal Service). Na estação telegráfica do Corpo estavam presentes cerca de 30 elementos, com as suas especialidades e funções, que guarneciam oito aparelhos telegráficos e também o sistema telefónico, com dois indicadores, um de 40 e outro de dez direções. Na estação entravam cerca de 200 linhas, entre telegráficas e telefónicas, que eram quase todas aéreas até aos quartéis-generais das Divisões e das Brigadas.

Montagem de linhas aéreas com postes duplos

Soares Branco constatou que, para além da estação telegráfica, havia junto do Corpo, para se efetuar o serviço de comunicações, secções de cabo correspondentes às respetivas Divisões, no caso três secções. Cada uma tinha 36 elementos e fazia uso de oito carros de lançamento de cabo. Não deixa de ser interessante que Soares Branco refira a existência de 40 milhas de cabo, mas que este material “aguardava a guerra de movimento sendo expressamente proibido fazer uso dele”.

Carro de cabo português

Seguidamente, como sabemos, o capitão Soares Branco dirigiu-se para o QG da V Divisão, reconhecendo aí o respetivo Serviço Telegráfico e a Estação Central da Divisão. As comunicações telegráficas dispunham de quatro aparelhos em funcionamento e as comunicações telefónicas eram asseguradas por dois indicadores de 10 linhas, ligando às repartições do QG, ao Corpo, às Brigadas, às Divisões laterais, Comando de Engenharia, Serviço de Saúde, etc.

10 Line Field UC/MK 236 Switchboard

Um sargento, dois cabos e 13 soldados asseguravam o serviço da Estação.

No seu conjunto, o pessoal telegrafista da Divisão dividia-se em estado-maior e quatro secções. O estado-maior era constituído por um oficial, cinco sargentos, um artífice e 45 soldados, estando equipado com um automóvel, 16 motocicletas e 15 bicicletas. Por sua vez, cada secção era constituída por quatro oficiais, dois sargentos, dois artífices e 66 soldados. Cada secção tinha à sua disposição quatro carros de cabo e quatro carros ligeiros, podendo estender 52 milhas de cabo.

Estafetas motociclistas

O quadro abaixo procura dar uma ideia da distribuição do pessoal e do material das comunicações ao nível do Corpo e da Divisão:

Quadro 1, elaborado por Jorge Costa Dias

Soares Branco realça também a importância das informações que recolheu nas visitas a uma Brigada de Infantaria, a um Batalhão, e também à Artilharia, incluindo no seu relatório os números principais e a forma de funcionamento do sistema de comunicações em cada um deles.

Em relação à Brigada, menciona em primeiro lugar a Estação e depois o “Posto de Combate”. Na Estação encontrou em funcionamento um telégrafo acústico para a Divisão, dois indicadores acústicos de sete direções para os Batalhões, assim como um fullerfone com a mesma finalidade. Existia também um indicador telefónico acústico de dez linhas para as ligações internas e para os Grupos de Artilharia.

Quanto ao pessoal, serviam na Estação dois sargentos e nove praças, com as suas especialidades. O total do pessoal da Brigada ligado às transmissões era de 1 oficial, 2 sargentos e 24 soldados, que tinham para o seu serviço 18 bicicletas e quatro cavalos.

Relativamente ao “Posto de Combate” da Brigada, o melhor seria fazê-lo coincidir com a central telefónica do Grupo de Artilharia adstrito à Brigada, embora nem sempre isso fosse possível. De qualquer modo, deveriam funcionar aqui três indicadores telefónicos acústicos de sete direções para a Artilharia e um ou dois para os Batalhões, complementados com um fullerfone para os Batalhões.

Fullerphone Trench S: Usado nas trincheiras nas ligações para as Companhias e os Batalhões. © IWM (COM 176)

Soares Branco tira algumas conclusões, assim sistematizando os conhecimentos proporcionados pela sua visita. Em primeiro lugar, no caso de o posto da Brigada coincidir com o posto do Grupo, o comando daquela podia corresponder-se com os seus Batalhões, as Brigadas laterais e a Divisão; e o comandante do Grupo podia comunicar com qualquer Bateria, Batalhão ou posto de observação. Se fosse necessário instalar dois postos distintos, deveriam prever-se ligações entre os dois postos, não esquecendo que “o telefone da artilharia deve sempre permitir a transmissão de voz”. Também seria de prever um sistema de sinais óticos para comunicar com os batalhões, embora sem a comunicação recíproca.

Por sua vez, o posto telefónico de um Batalhão devia ter dois indicadores acústicos de sete direções, um fullerfone e um telefone, sendo este utilizado para as baterias e o fullerfone para as companhias.

Telephone Set D Mark III

Em qualquer caso, a duração dos serviços era sempre de 24 horas.

As ligações da Artilharia merecem um capítulo separado no relatório de Soares Branco, pelo que as abordaremos em outro texto.

O quadro seguinte é um resumo das observações feitas por Soares Branco, em relação à Brigada, ao Batalhão e também à Artilharia.

Quadro 2, elaborado por Jorge Costa Dias

2 comentários em “As TRANSMISSÕES na GRANDE GUERRA – Relatório de Soares Branco (2)

  1. Exmos Sr(s)
    Coronel Aniceto Afonso
    Como sempre um excelente artigo, bem escrito, descrito e documentado.
    Foi de facto uma “guerra” diferente de todas as anteriores, não só pela movimentação de forças e equipamentos, bem como novas armas em desenvolvimento, especialmente as Transmissões, em que nada estava à distância de um “clique”.
    Grande esforço, sacrifício, engenho, suor e não só…
    Com o ex militar (SMO) de Transmissões , e filho de ex militar (SMO) de Transmissões, muito me orgulho da Arma em que servi o meu País dentro do que me foi solicitado à época.
    Amilcar Delgado
    (Ex 1º cabo 185/82
    RTM/Compª Manutenção)

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