OS APÊNDICES AO RELATÓRIO

Introdução

O relatório do capitão Soares Branco, enquanto chefe do Serviço Telegráfico do CEP, termina com uma série de apêndices, complementares da informação contida no corpo do relatório. Referem-se aos seguintes assuntos:

– Propostas para recompensas;

– Relação dos oficiais que faziam parte do Serviço Telegráfico a 6 de abril (de 1918);

– Relação das perdas de pessoal do ST no combate de 9 de Abril;

– Relatório enviado ao DD Signals do 1º Exército Britânico;

– Plano de defesa do Corpo Português, com as comunicações;

– Lista de posições de chamada;

– Instruções para execução do sistema de cabos enterrados;

– Instrução para o serviço de tropas telegrafistas e de sinaleiros;

– Quadros orgânicos e de material;

– Desenhos e esquemas para compreensão do relatório.

Daremos conta, neste texto, do essencial contido nestes apêndices, realçando o que possa contribuir para a melhor compreensão tanto da ação do Serviço em campanha, como da atuação de Soares Branco, enquanto seu responsável máximo.

Recompensas

O primeiro apêndice reproduz uma nota enviada ao chefe do Estado-maior do CEP em 3 de junho de 1918, referindo os militares, sobretudo oficiais, dignos de serem distinguidos com recompensas. Dividem-se em três grupos. Em primeiro lugar, os oficiais merecedores de recompensa superior a louvor na ordem do Corpo:

Capitão de Engenharia Augusto de Azevedo e Lemos Esmeraldo Carvalhaes, que foi chefe do Serviço Telegráfico da 1ª Divisão, por ter conseguido “com muito trabalho e inteligente critério estabelecer um bom sistema de comunicações na sua área”, entre outros méritos.

Capitão de Engenharia Heitor Mascarenhas Inglês, que foi chefe do Serviço Telegráfico da 2ª Divisão, por “em condições muito difíceis para o serviço das comunicações” ter revelado “notáveis qualidades de serenidade, zelo e sangue frio – dando a todos os subordinados o melhor exemplo”.

Capitão de engenharia José Alegria dos Santos Calado, que foi diretor da Escola de Sinaleiros, contribuindo “com o melhor dos esforços para a instrução e organização de todas as tropas de sinaleiros das Divisões”; e demonstrando, como comandante da Companhia de Telegrafistas do Corpo, “qualidades que o tornam um oficial de rara competência técnica, enérgico e de inexcedível zelo pelo serviço”.

O segundo grupo respeita a oficiais que devem ser louvados em Ordem de Serviço do Corpo:

Tenente miliciano de Engenharia Eurico Aldim Ivo de Carvalho, diretor do Serviço de Telegrafia sem Fios; tenente de Engenharia António Mascarenhas de Meneses, encarregado das ligações da Artilharia da 1ª Divisão, tenente de Engenharia Hermínio José dos Santos Serrano, diretor da Escola de Sinaleiros e tenente miliciano de Engenharia Joaquim Rodrigues Gonçalves, encarregado de vários trabalhos técnicos.

No terceiro grupo incluem-se os oficiais que deveriam ser louvados em Ordem de Serviço da Divisão:

Tenente de infantaria Armando Larcher, tenente miliciano de Infantaria Jorge Frederico Torres Vallez Caroço, tenente de Infantaria Armando Augusto da Costa, tenente de Infantaria Henrique João Rebelo Branco, alferes de Infantaria Alberto Prior Coutinho e alferes miliciano de Artilharia José da Costa Andrade.

Finalmente, Soares Branco acrescenta:

Embora a circular referida somente diga respeito a oficiais, entendo que, dada a circunstância de se julgar oportuno distribuir recompensas como que indicando que se julga finda pelo menos a 1ª etapa do nosso esforço, devo também consignar nesta ocasião que julgo de toda a justiça que seja louvado em ordem do Corpo o 2º sargento Nº 1022 da CTP Domingos Moita Mariano, pelos motivos adiante especificados.

Acrescentando que o referido 2º sargento da Companhia de Telegrafistas de Praça:

Demonstrou como encarregado do serviço das oficinas de Material Telegráfico do CEP raras qualidades de dedicação pelo serviço e de muita inteligência.

Pelo seu trabalho, quer construindo material técnico para suprir várias deficiências que existiam, quer efectuando rápidas reparações muito contribuiu para o regular funcionamento do sistema de comunicações das unidades na primeira linha.

Os louvores propostos resultavam, segundo a cuidadosa informação de Soares Branco, da apreciação de todos os oficiais que tinham ligação ao Serviço Telegráfico, ou seja, 25 de Engenharia, 6 de Artilharia, 5 de Cavalaria e 39 de Infantaria. E, segundo uma nota manuscrita pelo autor do relatório, as propostas

Foram entregues ao Sr. General Gomes da Costa – Comandante Interino do CEP, em virtude de pedido seu, e foram renovadas ao Sr. General Tamagnini por minha iniciativa em Junho 1918.

Efetivos e baixas

Os apêndices 2 e 3 respeitam a relações de pessoal, o primeiro dos oficiais que faziam parte do Serviço Telegráfico no dia 6 de abril de 1918, último dia de existência do Corpo de Exército Português, e o segundo de todo o pessoal que o Serviço perdeu no combate de 9 de Abril.

Em relação a estas perdas, o capitão Soares Branco divide a informação em dois grupos, o pessoal das unidades de telegrafistas, dos quais menciona o posto e nome, e o pessoal das unidades de Infantaria e Artilharia, de que refere apenas o quantitativo.


Com esta numeração de perdas sofridas pelas unidades de Telegrafistas das Secções de Sinaleiros da 2ª Divisão não tivemos em vista ter a pretensão de apresentar um registo de perdas tão exacto quanto parecia natural que a Divisão me pudesse ter fornecido.
Depois de nomeadas e enumeradas as baixas, Soares Branco acrescenta a seguinte nota:

Verdade porém é que tal nunca recebi nem consta de relatórios do respectivo chefe do Serviço Telegráfico Divisionário.

Os números e nomes das praças que exaramos foram-me fornecidos pelos elementos que nas unidades de Telegrafistas e na Escola de Sinaleiros pude coligir.

Em relação aos oficiais pertencentes ao Serviço Telegráfico no dia 6 de abril de 1918, é possível construir um quadro, compilando as informações incluídas no apêndice.

Verifica-se por este mapa que as ausências (cerca de 25%) eram menores do que em outros serviços e que as dificuldades eram normalmente supridas por oficiais do próprio Serviço Telegráfico ou da respetiva unidade.

Outros apêndices

Em março de 1917, Soares Branco enviou ao DD Signals do 1º Exército Britânico, sob cujas ordens iria ficar o CEP, um relatório inicial, com detalhe possível nessa data. Constitui o Apêndice 4 ao Relatório final do Serviço Telegráfico e já tivemos oportunidade de lhe fazer larga referência num texto anterior.

Num primeiro ponto são enumeradas as unidades e órgãos do Serviço, assim como referidos os seus efetivos. O segundo ponto é dedicado ao material, quantidades e características, com referência aos apoios que é possível cumprir, especificando o funcionamento do Serviço e de cada uma das suas unidades, em função das suas capacidades. O terceiro ponto respeita às Divisões e suas unidades, com referência à organização, pessoal e material existente e necessário. Termina o relatório com um breve apontamento sobre o “Grau de instrução do Pessoal”, distinguindo as Secções de Telegrafistas de Campanha, as Secções de Telegrafistas de Praça, os Sinaleiros de Artilharia e os Sinaleiros de Infantaria. As conclusões apontam para a necessidade de reforçar a dotação de material em todas as secções até se igualarem às respetivas unidades inglesas, assim como para o estabelecimento de duas Escolas de Sinaleiros, uma de Artilharia e uma de Infantaria.

Durante a campanha, Soares Branco elaborou os documentos-base da sua ação, enquadrados pelo Plano de Defesa do Corpo Português, sobre o qual definiu as grandes linhas do apoio a assumir pelo Serviço Telegráfico. É o que poderíamos chamar de Anexo de Comunicações, que o capitão Soares Branco teve o cuidado de juntar ao seu Relatório, como apêndice 5, juntamente com as respetivas instruções para a sua execução. Acrescenta ainda a “Lista das Posições de Chamada” e outros documentos salientes elaborados ao longo do tempo. Finalmente, em vários quadros, ficam detalhados os quadros orgânicos em pessoal e material das várias unidades e órgãos do Serviço Telegráfico.

Termina assim o extenso relatório do capitão Soares Branco, chefe do Serviço Telegráfico do CEP, exemplo de um último serviço prestado tanto aos militares portugueses que serviram em França, e em especial no Serviço Telegráfico, mas a todos nós, herdeiros desse contributo e desse sacrifício, que queremos acreditar não ter sido em vão.

O capitão Soares Branco

Como já vimos, Soares Branco foi nomeado responsável pelo Serviço Telegráfico da Divisão de Instrução que se reuniu em Tancos em 1916, por indicação do coronel Roberto da Cunha Baptista, seu chefe do Estado-Maior. O apreço geral pelo trabalho que levou a cabo nessas funções foi a razão da sua nomeação para chefe do Serviço Telegráfico do CEP, cargo que manteve até ao fim do Corpo.

As suas qualidades humanas, a sua competência técnica e o conhecimento que demonstrou como chefe militar e como responsável por um Serviço tecnicamente exigente, foram as razões do reconhecimento geral que lhe foi demonstrado no final da sua missão. Para além dos louvores que lhe foram concedidos, distinguindo-o pessoalmente e enaltecendo o próprio Serviço Telegráfico que chefiou, ficamos a saber o apreço em que era tido pelos seus chefes e por todo o pessoal do seu Serviço. Desde os primeiros passos no teatro de operações onde o CEP iria atuar, incluindo os contactos com os responsáveis britânicos com os quais iria colaborar, até à elaboração do seu Relatório e ao regresso a Portugal, Soares Branco foi sempre um homem sereno, competente e respeitado. Parece ter sido o homem certo no lugar certo, uma vez que o Serviço Telegráfico e os seus homens foram sempre apreciados e considerados pelos restantes militares do CEP, como fomos vendo ao longo da análise do seu Relatório.

Já em Portugal, foi agraciado com o grau de oficial da Ordem de Torre e Espada de Valor, Lealdade e Mérito, pela forma “notável como desempenhou o cargo” o que lhe valeu a “especial consideração entre as autoridades do exército britânico devido ao seu valor e inteligente dedicação pelo serviço da sua responsabilidade”. Pela parte da Inglaterra foi agraciado com a “Military Cross” e pela República Francesa com o grau de cavaleiro da Legião de Honra. É assim um dos oficiais portugueses mais condecorados e distinguidos de entre os que integraram o Corpo Expedicionário Português que participou na Grande Guerra em França.

Por tudo o que dele fomos conhecendo, sabemos que é um homem merecedor da admiração de todos os militares que por dever de ofício ou mesmo por curiosidade ou acaso, com ele contactam e nele reconhecem a competência e o bom desempenho. Razões que nos levam a afirmar que ele deveria deixar de ser um desconhecido, e mesmo esquecido, pela Arma que herdou as competências que estiveram nas suas mãos num tempo difícil – a Arma de Transmissões. Julgamos mesmo que lhe é devida e merece uma justa homenagem desses seus herdeiros.

Para nós, que remexemos em documentos e reconstruímos memórias do passado para conhecimento dos nossos contemporâneos, foi um privilégio trazermos para o presente a história de um empenhamento e de um sacrifício que muito nos ensina e comove.

1 comentário em “As TRANSMISSÕES na GRANDE GUERRA – Relatório de Soares Branco (22)

  1. Boa noite, A insígnia da Legion d’Honneur apresentada corresponde ao grau de comendador e não ao grau de cavaleiro, como o texto indica.

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