1. ENTRADA EM LINHA DA 1ª DIVISÃO

Introdução

O III capítulo do Relatório do capitão de Engenharia Soares Branco, chefe do Serviço Telegráfico do CEP, é dedicado ao tempo em que esteve na frente a 1ª Divisão Portuguesa, entre 16 de junho e 5 de novembro de 1917. No entender de Soares Branco, que interpreta a realidade vivida no terreno, estes dois dias foram marcos da presença portuguesa na frente. Primeiro porque a entrada em linha da 1ª Divisão modificava muitas das orientações que vinham do anterior, até porque introduziam na cadeia de comando um Corpo inglês, o XI Corpo, que até então não tinha tido comando sobre as tropas portuguesas. E também porque em 5 de novembro, quando avança o Corpo de Exército Português com as suas duas Divisões na frente, Soares Branco entende que a situação se altera de novo de forma completa, pois essa situação criou responsabilidades muito especiais, a que dificilmente as estruturas portuguesas podiam dar respostas, sofrendo o Serviço Telegráfico das mesmas carências que outros setores de apoio das tropas portuguesas.

Este período de quase cinco meses não foi, ainda assim, muito difícil para as tropas portuguesas, em especial se o compararmos, como faremos, com os meses seguintes.

As dificuldades do Serviço Telegráfico

A 1ª Divisão ia substituir a 49ª Divisão inglesa, como Soares Branco tem o cuidado de informar:

Nos primeiros dias da 2ª quinzena de junho devia a 1ª Divisão com o respetivo Quartel-General entrar na linha em substituição da 49ª Divisão Britânica e sob as ordens do XI Corpo.

Até então nenhumas relações havia mantido este Serviço Telegráfico com o XI Corpo, pois sempre se considerara diretamente dependente do 1º Exército Britânico.

A incorporação da nossa 1ª Divisão no Corpo Inglês, e nas precárias condições de material e pessoal já referidas, obrigou-me a solicitar autorização su­perior e fazer-me deslocar para junto da sede da 49ª Divisão para seguir de perto a rendição do pessoal inglês pelo português, e assentar com o XI Corpo quais as atribuições com que o Corpo Inglês e Português deviam ficar sobre o pessoal telegrafista da 1ª Divisão.

As alterações orgânicas que conduziram à constituição de um Corpo de Exército português a duas Divisões acabaram por se refletir em quase todos os serviços de apoio, que não estavam preparados para a extensão das suas responsabilidades. Já em França, foi necessário adaptar o contingente de cada serviço, solicitando para Portugal os reforços que as novas missões impunham. Mas a resposta foi muito lenta, e tudo ficou dependente da capacidade de adaptação das tropas que já estavam presentes.

O Serviço Telegráfico sofreu de todas estas dificuldades, e teve que se ir socorrendo do pessoal que pertencia a unidades ainda em instrução ou que de alguma forma não estava empenhado na frente. É o que Soares Branco explica no seu relatório:

Junto das Brigadas já em 1ª linha havia destacamentos da 1ª Secção de Telegrafistas Por Fios, e os oficiais desta unidade haviam montado o serviço das secções de sinaleiros das Brigadas de forma a facilitar ao oficial de infantaria comandante da Secção a árdua tarefa que lhe competiria.

Mas, desfalcada a Secção com essas praças nas secções de sinaleiros das Brigadas e ainda em alguns batalhões, o pessoal para o serviço da Estação do Quartel-General e das rondas de linhas era absolutamente insignificante.

Mais uma vez se fazia sentir e duma forma inquietante a falta das 156 pra­ças da Secção de Telegrafistas de Praça que tanto se instara para a Secretaria da Guerra para que viessem mas que não chegavam, embora nomeadas e adidas a Infantaria 5 des­de o começo de março.

Nestas circunstâncias fiz marchar para a lª Divisão em diligência um desta­camento de dois sargentos e 16 praças da 2ª Secção de Telegrafia Por Fios.

E alguns dias depois recebi a notícia de que haviam desembarcado cerca de 100 praças de telegrafistas de praça.

Uma doença contagiosa havida a bordo de um dos transportes, porém, protelara ainda por mais que uma semana a sua apresentação na Escola de Sinaleiros.

Contudo, Soares Branco não foi surpreendido com a pouca qualidade das tropas mobilizadas para o Serviço. As praças mobilizadas pertenciam às incorporações entre 1908 e 1914, estando portanto há vários anos afastadas de qualquer serviço de comunicações. Como ele próprio previra numa nota do princípio de maio enviada ao Comando, referia desta forma o pessoal da Companhia de Telegrafistas de Praça:

… mas chegado que seja esse pessoal já tenho conhecimento que é da classe 1908 (e algum assim veio); aplicou-se talvez o disposto no Regulamento de Mobilização que dispensa a apresentação imediata do pessoal dos Correios e Telégrafos em caso de mobilização do Exército.

Soares Branco compara então, em nota dirigida ao Comando do CEP, a capacidade profissional do pessoal telegrafista inglês com aqueles que vinham de Portugal para trabalharem em conjunto com o Serviço britânico:

“Por demais, V. Ex.ª concordará comigo julgando que a disposição da Lei é consequência das necessidades do serviço das estações e postos telegráficos civis no interior durante o estado de um país em guerra, mas que com uma guer­ra como aquela em que temos que nos debater tal disposição só servirá para afastar das fileiras o pessoal telegrafista de profissão – único que no Exército Inglês é chamado para o serviço das estações…

 E o autor comenta no seu relatório:

Enviaram-me pessoal de todas as classes e proveniências, algumas praças já afastadas das fileiras e da prática do serviço há muito tempo.

Era o recrutamento por algumas regiões que assim o exigia? Era a dispensa de muitos em partir?

O que existia certamente era uma falsa ideia das necessidades deste Serviço.

Quando uma guerra é um facto e uma Divisão é mandada entrar na linha, quando os Serviços expõem a tempo o que lhes é absolutamente indispensável, quan­do os Comandos perfilham e apoiam essas requisições, é triste ver-se obriga­do na rendição de uma Divisão Inglesa por outra Portuguesa a patentear a estrangeiros ou o pouco crédito que perante os superiores merecem as nossas afirmações, ou as deficiências inacreditáveis da nossa preparação para a Guerra.

Secções de Estafetas

Apesar de todas as dificuldades apontadas por Soares Branco, a verdade é que ele próprio admite que é necessário pôr mãos à obra e ultrapassar esta situação, ou seja, “a ocasião era mais de obras do que para lamentações ou críticas”.

Em sucessivas conferências com os responsáveis do XI Corpo e da 49ª Divisão, acabou por se reconhecer:

que era absolutamente indispensável fazer chamar para o Servi­ço Telegráfico toda e qualquer espécie de comunicações incluindo os feitos por motociclistas, ciclistas e estafetas a pé ou a cavalo.

Esta constatação é importante, pois a alteração dos serviços de comunicações no CEP irá trazer ao Serviço Telegráfico um substancial acréscimo de responsabilidades, acabando por propiciar o acerto com a prática das forças britânicas, nas quais era este Serviço que assumia a responsabilidade por todos os sistemas de comunicações e distribuição de correspondência.

Tiradas as respetivas conclusões e apoiado nas recomendações dos serviços britânicos, Soares Branco expõe, no dia 1 de junho, ao chefe do Estado Maior do CEP a nova situação. E no mesmo dia, como o próprio explica no seu relatório, o Serviço ganhou novas responsabilidades:

Por proposta minha foram criadas as Secções de Estafetas Motociclistas e Ciclistas junto dos Serviços Telegráficos do Cor­po e das Divisões.

E na manhã do dia 16 de Junho, quando a 1ª Divisão entrava com responsabilidade na linha, haviam já sido presentes e entregues ao Serviço Telegráfico 18 motociclistas, 32 ciclistas e 22 motocicletas, tornando-se viável cons­tituir carreiras regulares e mediante horários fixados entre as Divisões e as Brigadas, entre o Corpo e as Divisões, passando toda a correspondência oficial a dar entrada nas estações telegráficas e telefónicas para registo e para ser feita seguir aos destinatários, segundo instruções emanadas do Corpo Português.

Reforço da formação

Para além de manter muito ativa a Escola de Sinaleiros de Quiestede, onde o seu diretor, tenente de engenharia Santos Calado, se portava a contento, com “notável zelo e competência”, Soares Branco fez também instruir mais telegrafistas:

Aproveitando o oferecimento do XI Corpo fiz simultaneamente instruir na Escola de Guarda-fios de Merville 24 Guarda-fios, e desta arte, em 2 de julho, em nota Nº 186, eu podia informar o chefe do Serviço de Telegrafistas da 1ª Divisão que lhe mandaria apresentar naquela data 128 telegrafistas de praça.

Para fazer face às circunstâncias pedira, e obtivera autorização sobre nota de 21 de Junho de 1917, para distribuir conforme as exigências do serviço o aconselhassem e de acordo com as respetivas aptidões, as praças, pelo Quartel-General da Divisão, Brigadas e Batalhões.

Era impossível manter as nomeações feitas em Lisboa.

Nas praças nomeadas para o Quartel-General da Divisão havia apenas um cabo que podia ser considerado telegrafista, não podendo as restantes ser utilizadas como tal. Em compensação havia nos Batalhões algumas praças cujas aptidões eram superiores.

A instrução complementar recebida em Franca, em virtude da urgência que havia em fazer marchar para a linha as praças telegrafistas, não podia ser completa e era mister estimulá-la.

Em Portugal havia gratificações especiais para determinados serviços, como guarda-fios etc., gratificações que em França não eram permitidas.

Em virtude do exposto propus, e o Comando aprovou sobre a minha nota Nº 156, que pudesse haver um número ilimitado de promoções a 1º cabo e a 2º sargen­to nas tropas telegrafistas e nas Secções de Sinaleiros, uma vez que às pra­ças, depois de submetidas a um exame, se reconhecesse que recebiam pelo acús­tico, quer no telégrafo quer no fullerfone, um determinado número de palavras, que se fixariam num regulamento a elaborar.

O resultado cedo se fez sentir com uma notável melhoria do serviço.

Tendo tido conhecimento de que havia depósitos de telegrafistas já chega­dos à Base e que faziam parte da Companhia Mista de Engenharia, solicitei a sua vinda para instrução para a Escola de Sinaleiros pois não me convinha ter pessoal sem a instrução, que seria destinado de um instante para o outro a cobrir as baixas havidas nas unidades.

Alargava-se a responsabilidade do Serviço Telegráfico, o que exigiu a utilização de efetivos que se destinavam à 2ª Divisão, para completar e reforçar as unidades da 1ª Divisão e das estações telegráficas dos restantes comandos do CEP. Soares Branco ia dando solução aos problemas que a evolução da situação lhe exigia, mas adiava as consequências para a altura em que o Corpo de Exército, com as duas Divisões, se tornasse operacional.

Em relação à instrução dos sinaleiros vale a pena socorrermo-nos de um relatório elaborado pelo alferes Alípio Augusto sobre a instrução de observadores ministrada a duas secções de sinaleiros de Infantaria 1 e 10, junto de unidades em 1ª linha nos dias 11 a 13 e 22 a 25 de julho de 1917.

Por exemplo, em relação à instrução de avaliação de distâncias diz o relatório:

A instrução de avaliação de distâncias limitou-se quase exclusivamente a exercícios de avaliação de distâncias ao passo e à vista, por ser impossível, em vista das condições literárias das praças ministrar-lhes outros processos de avaliação de distâncias, visto que muitos são analfabetos e outros não sabem o suficiente para poderem fazer uma pequena conta de multiplicar. (…) Se bem que todos os homens houvessem revelado boas qualidades para observadores, é certo que se não pode contar com os analfabetos para o desempenho de um bom serviço, porque não podem fazer o seu boletim de observação à medida que vão descobrindo os seus objetivos, tendo necessidade de reter na memória, por vezes, mais que uma observação, até que chegue pessoa a quem possam fazer o relato verbal do que se passou, podendo muitas vezes confundir o local onde descobriram esses objetivos, o que pode ser prejudicial ao serviço.

Por isso parecia-me conveniente que os observadores analfabetos fossem substituídos por outros que soubessem ler e escrever, com o que muito teria a lucrar o importante e difícil serviço de observação.

 A TSF

No seu relatório, o capitão Soares Branco aborda todas as situações e a forma como foi avaliando e dando solução aos problemas que surgiam. Com uma Divisão a ocupar um setor da linha da frente seria natural que todos as áreas viessem a ser questionadas, sempre e quando o comando inglês o julgasse pertinente, agora que esse comando era exercido pelo XI Corpo.

Embora até então o serviço de telegrafia sem fios não tivesse merecido uma grande atenção por parte do comando português, a verdade é que a nova situação devia ser considerada antes de questionada pelo comando inglês. Foi uma preocupação de Soares Branco logo que estabilizou os serviços mais urgentes.

Ao mesmo tempo, devido ao desenvolvimento enorme que o serviço de Telegra­fia Sem Fios estava tendo no Exército Inglês, criando-se subsecções de TSF por Divisão, julguei de elementar prudência antecipar-me, dispondo as coisas de forma que, quando pelo XI Corpo fosse solicitado ao Corpo Português pessoal de telegrafia sem fios para substituir o pessoal inglês, a nossa respos­ta fosse afirmativa.

Tendo o comandante da Secção de Telegrafia Sem Fios submetido à minha apreciação um projeto de organização do Serviço, tomando-o como base, dirigi ao chefe do Estado-Maior a nota Nº 155 de 21 de junho sobre o assun­to, e na Ordem do Corpo de 22-07-17, como apenso, eram publicadas as instruções e autorizações convenientes para a organização do Serviço de TSF no CEP, prevendo-se desde logo a criação dos postos de trincheira, am­plificadores e power-buzzers indispensáveis para a 1ª Divisão.

Efetivamente ainda nessa mesma quinzena partiam para Hinges guarnições de TSF, a fim de praticarem nas regras e funcionamento de serviço de sem fios.

 Conclusão

A entrada em linha da 1ª Divisão em 16 de junho de 1917 alterou substancialmente a relação com o comando inglês, até então exercido diretamente pelo QG do 1º Exército. A partir daqui, a 1ª Divisão ficou sob o comando do XI Corpo inglês, com o qual até então não tinha havido contactos operacionais ao nível do Comando do CEP e dos serviços do Corpo. Isto foi particularmente sentido pelo Serviço Telegráfico que desde o início mantinha relações muito próximas com os responsáveis do Signal Service do 1º Exército.

A mudança, dirigida pelo capitão Soares Branco, levou à alteração de muitas das relações anteriores, mas fez-se dentro da cooperação já estabelecida com os serviços e as tropas inglesas, embora nem sempre com a compreensão esperada.

A situação das tropas portuguesas continuava muito precária e a alteração da base da participação portuguesa de uma Divisão para um Corpo de Exército a duas Divisões deixou à vista um conjunto de insuficiências e dificuldades, acentuadas por essa circunstância.

Não foi fácil para um Serviço que exigia uma formação de base de maior nível e uma capacidade técnica apreciável dos seus elementos, adaptar-se e superar as insuficiências dos contingentes mobilizados, tanto dos telegrafistas como dos sinaleiros.

Acresce ainda que foi neste período que o Serviço Telegráfico assumiu a responsabilidade, para além da transmissão da correspondência, também da sua distribuição.

5 comentários em “As TRANSMISSÕES na GRANDE GUERRA – Relatório de Soares Branco (7)

  1. Este post do coronel Aniceto Afonso vem na sequência de 6 anteriores baseados no Relatório do capitão Soares Branco, chefe do Serviço Telegráfico do CEP. Trata-se de um trabalho de grande qualidade, sobre um relatório fundamental para se perceber a atuação do Serviço Telegráfico no CEP.
    O post refere-se ao Capítulo III do Relatório, que trata do período de cerca de 5 meses, entre 16 de junho e 5 de Novembro de 1917, em que a 1º e a 2ª Divisões Portuguesas substituíram, na linha da frente, as divisões inglesas, ficando sob o comando do XI Corpo de Exército Inglês.
    Esta dependência das Divisões Portuguesas foi temporária, porque a 5 de Novembro as Divisões Portuguesas passaram a ser comandadas pelo Corpo de Exército Português. Este período foi considerado por Soares Branco como fundamental para a atuação futura do CEP. Era preciso demonstrar a capacidade de as Transmissões portuguesas em acompanhar as Inglesas.
    Era aparentemente uma “missão impossível”, que os ingleses reconheciam, dadas as enormes dificuldades que existiam no CEP e o elevado nível que tinha o serviço telegráfico britânico. De notar que as comunicações nos QG britânicos eram guarnecidas com pessoal recrutado nos serviços telegráficos civis.
    No entanto o “milagre” foi conseguido e o período decorreu com surpreendente normalidade.
    Como explicar esta atuação?
    Permito-me considera que se ficou a dever ao facto de:
    • Soares Branco ser um fora de série
    • Ter adotado uma estratégia adequada que foi aplicando na Divisão de Instrução e sucessivamente aperfeiçoando
    • Ter conseguido apoios relevante (nem sempre com a prontidão que desejava) da Metrópole, dos ingleses.
    • Ter conseguido criar um verdadeiro espírito de equipe entre o pessoal do Serviço Telegráfico

    Soares Branco foi um oficial de elevadíssima craveira. É nomeado para Chefe do Serviço Telegráfico nas manobras de Tancos, por escolha do Coronel Baptista, chefe do Estado Maior da Divisão. Tinha 30 anos. Tinha sido um aluno brilhante e era, em 1916, professor na Escola do Exército. Para mim, a escolha normal seria a de um major ou de um capitão mais antigo. A escolha do coronel Baptista revelou-se acertadíssima pois era preciso para o Serviço Telegráfico do CEP um chefe excepcional.
    Desde cedo aplicou uma estratégia que tinha como base a preparação do pessoal de transmissões, incluindo os sinaleiros de Infantaria e Artilharia e o reforço da Artilharia com oficiais de Engenharia. Na Divisão de Instrução apercebeu-se que os sinaleiros eram o ponto fraco do sistema, pelo que havia que injetar telegrafistas de praça na Artilharia e Infantaria para que as transmissões funcionassem.
    Quando chegou à Flandres, antes do desembarque do CEP, fez uma cuidada visita às unidades e centros de Transmissões do Exército britânico
    Seguidamente impulsionou as Escolas de Sinaleiros, insistindo com a Metrópole para que enviasse os telegrafistas de praça, ou fazendo arranjos internos para dar operacionalidade às transmissões da Infantaria e Artilharia e interligação entre as duas Armas.
    As rendições na frente das companhias, batalhões e Brigadas inglesas decorreram normalmente, sempre acompanhadas de perto por Soares Branco.
    Tudo isto se ficou a dever não só aos esforços de Soares Branco mas também ao apoio que lhe foi dado pela Metrópole (embora com atraso) ao fornecerem o pessoal pedido e por parte dos ingleses no fornecimento de material e apoio às Escolas de Sinaleiros. De destacar o fornecimento de uma Secção Automóvel de Fio que se iria transformar numa espécie de “joia da coroa” do CEP.
    Finalmente Soares Branco conseguiu criar dentro do Serviço Telegráfico um forte espírito de corpo, que se foi consolidando desde Tancos na DI. Teve excelentes oficiais em vários setores, de Engenharia e das Armas,e também sargentos e praças.
    Em suma, não desmerecendo o esforço interessado e competente de SB no período em que as duas Divisões Portuguesas estiveram sob dependência do XI Corpo Inglês, julgo que o sucesso da atuação portuguesa se ficou a dever sobretudo à experiência acumulada desde Tancos, aos apoios que lhe foram dados e ao espírito de corpo que conseguiu criar no Serviço Telegráfico.

  2. Caro Amigo, Muito obrigado pelo comentário, que sistematiza a atuação do capitão Soares Branco. O seu relatório pode considerar-se o elemento fundamental para se fazer a história das Transmissões no CEP, dado o pormenor do relato e as considerações e comentários que não quis deixar de incluir.
    Só uma pequena correção: Só a 1ª Divisão esteve sob comando do XI Corpo, no período a que este post se refere. O XI Corpo só viria a comandar a 2ª Divisão a partir de 6 de Abril de 1918, nas vésperas de La Lys. Abraço.

  3. Em primeiro lugar os meus agradecimentos ao coronel Aniceto Afonso pelas considerações e correção que fez ao meu comentário, em especial em relação ao erro que cometi, ao considerar a 2ª Divisão Portuguesa subordinada ao XI Corpo de Exército Inglês, como esteve a 1.ª Divisão Portuguesa, de maio a novembro de 1917.
    De facto, a 2.ª Divisão Portuguesa só assumiu a responsabilidade do seu sector a 26 de novembro, ficando subordinada ao CEP que assumira a responsabilidade do sector português a 6 do mesmo mês.
    Teria, certamente, sido desejável que a 2.ª Divisão Portuguesa tivesse entrado em linha antes de novembro de 1917, como aconteceu com a 1.ª Divisão.
    No entanto isso não foi possível sobretudo por a 2ª Divisão estar fortemente desfalcada em pessoal. Recordo que o CEP, quando desembarcou em França, em janeiro, correspondia a uma participação portuguesa de uma Divisão reforçada. No mês seguinte foi decidido que a participação portuguesa aumentasse, passando a ser de um Corpo de Exército com duas Divisões. Para o efeito havia que reforçar o CEP com 15.000 homens. A 2ª Divisão´só podia ser completada à custa do reforço de pessoal a vir de Portugal.. A mobilização, transporte e preparação do pessoal para completar a 2ª Divisão só permitiram que entrasse em linha em novembro.

    Posto isto apresento o texto do meu comentário, devidamente corrigido do erro apontado.

    Este post do coronel Aniceto Afonso, vem na sequência de 6 anteriores baseados no Relatório do capitão Soares Branco, chefe do Serviço Telegráfico do CEP. Trata-se de um trabalho de grande qualidade, sobre um relatório fundamental para se perceber a atuação do Serviço Telegráfico no CEP .
    O post refere-se ao Capítulo III do Relatório que trata do período, de cerca de 5 meses, entre 16 de junho e 5 de Novembro de 1917, em que a 1ª Divisão Portuguesa substituíu, na linha da frente, a 49ª Divisão Inglesa, ficando sob o comando do XI Corpo de Exército Inglês.
    Esta dependência da Divisão Portuguesa foi temporária, porque a 5 de Novembro as Divisões Portuguesas passaram a ser comandadas pelo Corpo de Exército Português. Este período foi considerado por Soares Branco como fundamental para a atuação futura do CEP. Era preciso demonstrar a capacidade das Transmissões portuguesas para acompanhar as Inglesas.
    Era aparentemente uma “missão impossível”, que os ingleses reconheciam, dadas as enormes dificuldades que existiam no CEP e o elevado nível que tinha o serviço telegráfico britânico. De notar que as comunicações nos QG britânicos eram guarnecidas com pessoal recrutado nos serviços telegráficos civis.
    No entanto o “milagre” foi conseguido e o período decorreu com surpreendente normalidade.
    Como explicar esta atuação?
    Permito-me considera que se ficou a dever ao facto de:
    • Soares Branco ser um fora de série
    • Ter adotado uma estratégia adequada que foi aplicando na Divisão de Instrução e sucessivamente aperfeiçoando
    • Ter conseguido apoios relevante (nem sempre com a prontidão que desejava) da Metrópole, dos ingleses.
    • Ter conseguido0 criar um verdadeiro espírito de equipe entre o pessoal do Serviço Telegráfico
    Soares Branco foi um oficial de elevadíssima craveira. É nomeado por escolha para Chefe do Serviço Telegráfico nas manobras de Tancos, por escolha do Coronel Baptista, chefe do Estado Maior da Divisão. Tinha 30 anos. Tinha sido um aluno brilhante e era, em 1916, professor na Escola do Exército. Para mim, a escolha normal seria a de um major ou de um capitão mais antigo. A escolha do coronel Baptista revelou-se acertadíssima pois era preciso para o Serviço Telegráfico do CEP um chefe excecional.
    Desde cedo aplicou uma estratégia que tinha como base a preparação do pessoal de transmissões, incluindo os sinaleiros de Infantaria e Artilharia e o reforço da Artilharia com oficiais de Engenharia Na Divisão de Instrução apercebeu-se que os sinaleiros eram o ponto fraco do sistema, pelo que havia que injetar telegrafistas de praça na Artilharia e Infantaria para que as transmissões funcionassem.
    Quando chegou à Flandres, antes do desembarque do CEP, fez uma cuidada visita às unidades e centros de Transmissões do Exército britânico
    Seguidamente impulsionou as Escolas de Sinaleiros, insistindo com a Metrópole para que enviasse os telegrafistas de praça, ou fazendo arranjos internos para dar operacionalidade às transmissões da Infantaria e Artilharia e interligação entre as duas Armas.
    As rendições na frente das companhias, batalhões e Brigadas inglesas decorreram normalmente, sempre acompanhadas de perto por Soares Branco.
    Tudo isto se ficou a dever não só aos esforços de Soares Branco mas também ao apoio que lhe foi dado pela Metrópole (embora com atraso) ao fornecerem o pessoal pedido e por parte dos ingleses no fornecimento de material e apoio às Escolas de Sinaleiros. De destacar o fornecimento de uma Secção Automóvel de Fio que se iria transformar numa espécie de “joia da coroa” do CEP.
    Finalmente Soares Branco conseguiu criar, dentro do Serviço Telegráfico, um forte espírito de corpo, que se foi consolidando desde Tancos na DI. Teve excelentes oficiais em vários setores, de Engenharia e das Armas, sargentos e praças.
    Em suma, não desmerecendo o esforço interessado e competente de Soares Branco no período em que a 1ª Divisão Portuguesa esteve sob dependência do XI Corpo Inglês, julgo que o sucesso da atuação portuguesa se ficou a dever também à experiência acumulada desde Tancos e aos apoios que lhe foram dados.

  4. bonjour
    je suis très surpris de voir votre photo du château du RAUX car ce château se trouvait à 800 km du secteur Portugais,je sais qu’il y avait le château du RAUX à LESTREM dans le pas de calais mais je n’ai pas encore la preuve qu’il s’agit bien de celui-là.
    en tout cas la photo publié sur votre site n’a rien à voir avec le corps expéditionnaire Portugais.

    cordialement

    Mr Delalleau

    1. Merci pour votre commentaire. Nous ne savions pas qu’il y avait en France deux palais/châteaus du même nom, nos excuses. Certaines des photos ont été prises à partir d’Internet. Le château de la Giclais à Lestrem était le QG de la division du CEP sous le commandement du général Gomes da Costa. On peut même voir des photos de lui à la porte du château à Lestrem. Dans le château de Raux fut installé le commandement de sa première brigade, mais nous n’avons pas de photos originales, ce qui est à l’origine d’une recherche sur Internet, avec ce résultat regrettable.
      Très cordialement,
      José Manuel Canavilhas

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