As comunicações na Divisão de Instrução, nas manobras de 1916 

Aniceto Afonso
Jorge Costa Dias

5. 2 As comunicações na Divisão de Instrução – Instrução

Foi a instrução nº12 da 1ª Repartição do Quartel General que estabeleceu a instrução a ministrar às secções de Telegrafistas de T.S.F. e de Campanha T.P.F. durante as manobras.

– Secção TSF
A Secção de TSF, durante todo o período dos exercícios, dedicou-se à tarefa de instalar a estação de TSF Marconi (MM1), assim como à prática de recepção pelo ouvido, à prática dos motores TSF e ao estabelecimento de comunicações com Lisboa (MM2) e com o Alfeite (Marinha).

– Secção TPF
A instrução em Tancos para os telegrafistas de campanha abrangeu as comunicações telegráficas e telefônicas, assim como os heliógrafos e as bandeiras.
Vejamos alguns dos materiais que foram usados:

Telefones
Foram usados telefones e a central telefônica Ericson e também os telefones de Cavalaria.

Imagem22Imagem23Imagem24

Imagem25

Heliógrafos
Foi usado na instrução o heliógrafos de Mance.

Imagem26

Imagem27

Imagem28

Imagem29

Heliógrafos e lanterna de Mangin

E também o heliógrafo e lanterna de Mangin.

Imagem30

Bandeiras
Também foi ministrada instrução de bandeiras, que podiam utilizar o código Morse ou o alfabeto homográfico.

Imagem31

Imagem32

Bandeiras e códigos
No código Morse, com apenas uma bandeira, havia três posições – posição normal, posição de ponto e posição de traço.

Imagem33

– Esquadras de construção
A partir de 5 de Junho iniciou-se a instrução programada para as diversas especialidades da Secção de TPF e assim, no período de 5 de Junho a 15 de Julho, as esquadras de construção praticaram:
Construção de linhas permanentes
Construção de linhas de cabo
Construção de linhas de fio

Imagem34

Imagem37

– Serviço Ótico
As esquadras de serviço ótico praticaram a utilização de:
Heliógrafo de Mance na ligação do Alto de D. Luís com o Alto da Conceição e de Mangin na ligação do Alto de D. Luís com o Alto da Barquinha, assim como o uso de bandeiras na ligação Casal do Rei com Cascalheira do Freixo.

Fundo 3-5-4-22-211_m0015

11 ligação por bandeiras

– Tarefas dos telegrafistas
Durante todo o período de manobras, as tarefas dos telegrafistas consistiam em treinar os procedimentos telegráficos, assegurando o funcionamento das estações, garantirem o apoio e as ligações entre as unidades e assegurarem as ligações durante as marchas.

Imagem37

– Mapa
No conjunto de exercícios do período de instrução pode destacar-se o exercício de grandes destacamentos mistos realizado em 24 e 25 de Julho no planalto da Barquinha no qual se confrontavam a 1ª BI (P.V.), na defensiva, e a 2ª BI (P.A.) no ataque. Reparar que o terreno foi organizado para a defensiva, reconhecendo-se as trincheiras.

Imagem38

– Instalação de tropas e ligações
Neste exercício, a Secção de TPF instalou e explorou a partir do QG as linhas de cabo para a estação telegráfica da Barquinha, para a Reserva Geral e para o Alto das Éguas e uma ligação ótica também para o Alto das Éguas. Os telefonistas de infantaria instalaram a rede telefónica de serviço ao exercício, assim como uma ligação ótica.
Na imagem apresentam-se as ligações na zona da ação da 1ª BI, que estava na defensiva.

Imagem39

– Esquema do exercício
No seu conjunto, o exercício pode ser representado como se vê na imagem.

Imagem40

– Ação sobre Atalaia
Por sua vez, o exercício de Divisão (o maior exercício efetuado durante o período de manobras) foi realizado de 29 a 1 de agosto, concretizando-se através de uma ação sobra a Atalaia. Neste exercício, a Secção TPF teve como missão garantir as ligações durante as marchas, utilizando as estações civis e montando as linhas necessárias para acompanhar as movimentações.

Imagem41

Os trabalhos efetuados nas manobras de Tancos pelas tropas de transmissões situaram-se em bom nível e apoiaram com bastante eficácia as unidades operacionais, acompanhando as suas movimentações. Testaram os seus conhecimentos e os materiais utilizados. Para aqueles que vieram a integrar o C.E.P., como por exemplo o seu responsável máximo, capitão Soares Branco, foi uma experiência muito útil.

6. Balanço dos exercícios militares

Conclusões
Como balanço deste nosso estudo, como dissemos ainda incompleto, escolhemos alguns trechos de relatórios de unidades participantes:
“A intensidade da instrução em Tancos levou-nos a marchas longas bastante penosas, debaixo dum calor ardentíssimo e perfeitamente cercados de nuvens de pó, pois nem assim os nossos soldados deixaram de cumprir com o seu dever” (Coronel Barreira, 2º Regimento da 1ª BI);
“Nas localidades, nenhumas notas discordantes se deram, havendo localidades em que todos, à porfia, primavam em atenções para oficiais e praças que, pela sua conduta irrepreensível, souberam corresponder ao acolhimento amigável que lhes era feito” (Coronel Fragoso, 1ª Brigada).
“Como consequência da falta de educação militar, deriva-se naturalmente a ausência de um espírito disciplinado, sofredor e obediente (…) Tive ocasião de notar que nos diferentes exercícios executados, não havia aquele empenho e aquela coesão e decisão indispensáveis para justificar a transição para as diversas fases dos combates” (Tenente-coronel Veiga, 1º Grupo de Metralhadoras).
“Praticaram-se todos os sistemas de ligações – cadeias de homens, ordenanças, sinais óticos, telefone e telégrafo, sendo digno de registo o desembaraço das tropas de engenharia na montagem e desmontagem dos dois últimos sistemas e na receção e transmissão dos despachos.
Os diversos meios de ligação, mais na ofensiva do que na defensiva, em que aquelas se tornam mais fáceis e práticos, nem sempre foram utilizados conforme as reservas disponíveis, situação tática, natureza do terreno e rede de comunicações, e daí as ordens, informações e notícias chegarem muitas vezes tardiamente, perdendo todo o valor” (Coronel Almeida Fragoso, comandante da 2ª BI).

Em suma, podemos concluir que as manobras de 1916 em Tancos, com a concentração de uma Divisão a duas Brigadas, foi uma decisão politicamente necessária, mas militarmente questionável. Os temas estavam desadequados em relação ao que se praticava quase desde o início da Guerra, na Frente Ocidental. As manobras testaram as capacidades militares do Exército, mas não serviram de grande lição.

Diapositivo61

2 comentários em “Grande Guerra -IV- Divisão de Instrução, manobras de 1916 – 5ª parte

  1. A conferência que os meus camaradas e amigos coronéis Aniceto Afonso e Costa Dias apresentaram na Barquinha, sobre a participação das Transmissões nas Manobras de Tancos em 1916, integrada nas comemorações do centenário do evento, foi publicada no Blogue em partes, sendo o presente o último.
    Trata-se de um trabalho importante sobre a participação das Transmissões no “Milagre de Tancos”, o mais desenvolvido que conheço sobre este tema e que inclui, como antecedentes, considerações sobre as comunicações no exército britânico, no qual o CEP se iria integrar, uma breve história da evolução das Transmissões no exército português até 1916, e uma ideia dos exercícios efectuados. O trabalho termina com um balanço geral destas manobras.
    De assinalar que os autores ressalvaram que os estudos sobre este assunto ainda estão a decorrer, pelo que não se trata ainda de um estudo definitivo.
    A este respeito apenas pretendo acentuar que as conclusões que apresentam no trabalho dizem respeito a uma apreciação global das manobras e não da atuação das Transmissões nessas manobras, que o estudo definitivo, naturalmente, incluirá.
    Com a necessária ressalva (que mais se justifica perante o meu notório deficit de conhecimentos em relação aos autores deste trabalho) gostaria de apresentar aqui a ideia que tenho sobre a actuação das Transmissões nestas manobras que julgo ter sido bem mais favorável do que para o Exército no seu conjunto que basicamente “serviram para testar as capacidades do exército mas não serviram de grande lição”.
    Pessoalmente julgo que em Tancos as Transmissões estiveram relativamente bem e muito acima do nível atingido pelo Exército. Foram louvadas por isso.
    O que, para mim, contribuiu essencialmente para fazer a diferença foi:
    • Os QO das unidades do Serviço Telegráfico estarem praticamente completos em pessoal, permitindo que a Instrução, nas transmissões, fosse ministrada com adequado enquadramento.
    • O capitão Soares Branco ser um oficial de alta craveira que, como Chefe do Serviço Telegráfico, se revelou como um excepcional impulsionador do seu pessoal, que correspondeu inteiramente.
    • As dotações de material de transmissões estavam completas e o material de transmissões, em geral, não deu problemas.
    • Os temas dos Exercícios, irrealistas em relação ao que se iria passar na Flandres, pouca influência tiveram no trabalho essencial das Transmissões (montar e operar estações ou lançar e manter linhas telegráficas e telefónicas), ao contrário do que se passava com as outras Armas.
    Este trabalho do Serviço Telegráfico nas manobras de Tancos, com relativo sucesso, serviu para consolidar o espírito de corpo do Serviço, mas trouxe também ensinamentos importantes (a aplicar na Flandres) dos quais destaco:
    • A muito maior competência e experiência do pessoal da Companhia de Telegrafistas de Praça como operadores nas estações em relação ao do Batalhão de Telegrafistas de Campanha, claramente comprovadas nas manobras.
    • O mau funcionamento das Transmissões nas Manobras na Infantaria e na Artilharia e na ligação entre estas duas Armas e que era essencial na guerra que se praticava na Europa.
    As manobras de Tancos indicaram, assim, que era preciso fazer qualquer coisa para que a redes de transmissões funcionassem, sem soluções de continuidade, em toda a área do CEP na Flandres.
    A solução proposta foi o reforço das estações a nível Batalhão de Infantaria ou Grupo de Artilharia com o pessoal da Companhia de Telegrafistas de Praça (o melhor que as Transmissões tinham). Foram mobilizados, salvo erro, 350 CTP’s para estas funções (o que não estava inicialmente previsto), mas foi a chave do sucesso as Transmissões na Flandres. Sucesso para o qual contribuiu a instrução dada em França, a inclusão da Secção automóvel de fio e que o louvor do general Tamagnini confirma, ao considerar que “o serviço telegráfico foi o que melhor funcionou no CEP”.
    Para este resultado julgo que a forma como decorreram as manobras de Tancos foi crucial.

Os comentários estão encerrados.