Referência : Carta do TGeneral Pereira Pinto
Mapa da Guiné com as principais linhas de infiltração da guerrilha, em 1961/63
Matos, José – “O início da guerra na Guiné (1961-1964)”. Em Revista Militar n.º 2566, Novembro de 2015
1. INTRODUÇÃO
Na carta em referência, o Sr. General Pereira Pinto solicitou ao Major-General Góis Ferreira os dados que dispunha, ou recorde, respeitantes às Transmissões Militares no Teatro de Guerra da Guiné durante o período em que nelas esteve envolvido.
Efectivamente o Maj-Gen Góis Ferreira prestou Serviço na Guiné de fevereiro 1964 a Março 1966, nas funções de Chefe da Delegação do STM (Serviço de Telecomunicações Militares) do CTIG (Comando Territorial Independente da Guiné) e do CTICV (Comando Territorial Independente de Cabo Verde), no posto de Cap Eng° Tm.
Julga-se importante referir que o STM, no CTIG e no CTICV, exercia a sua actividade no âmbito das Transmissões Permanentes.
No documento que se segue consta a resposta ao pedido do Sr. Gen Pereira Pinto, tanto quanto a memória o permite.
2. TRANSMISSÕES PERMANENTES
2.1 Organização
O escalão do Órgão de Transmissões Permanentes no CTIG e no CTICV era designado por Delegação do STM.
Sob o ponto de vista técnico, a Delegação do STM dependia directa e exclusivamente do STM de Lisboa. Do ponto de vista de Comando, dependia dos Chefes do Estado-Maior do CTIG e do CTICV, com quem despachava directamente.
Embora as relações entre o Comando de Transmissões e a Delegação do STM fossem excelentes e de franca colaboração, não havia qualquer dependência entre os dois Órgãos.
2.2 Missão
Com os seus meios em pessoal e material, a Delegação do STM tinha como missão manter em permanência:
- Ligação em fonia, grafia (por código morse) e por teleimpressor (TT), entre o CTIG, o CTICV e Lisboa.
- Ligação em grafia entre o QG/CTIG e os Comandos de Batalhão da Guiné.
- Ligação em fonia e TT, por VHF, entre o QG/CTIG e os Batalhões instalados em Mansoa e Bafatá.
- Rede telefónica automática militar de Bissau.
2.3 Centros e Estações de Transmissões
Em Bissau, no Aquartelamento do QG/CTIG, a Delegação do STM tinha instalações próprias, com Centro de Transmissões completo e de bom nível, com o centro receptor anexo.
O centro emissor ficava situado em Antula a cerca de 3 km.
Os Comandos de Batalhão eram servidos por Estações de Transmissões, guarnecidas por pessoal e material da Delegação.
Em Cabo Verde, as Transmissões Permanentes da Delegação do STM situavam-se nas Cidades do Mindelo e Praia, com Estações de Transmissões dotadas de material de razoável capacidade. Em situações fortemente adversas, a ligação em grafia Bissau-Lisboa era garantida através da Estação do Mindelo.
2.4 Pessoal
Entre fevereiro de 1964 e 2,º trimestre 1965 o único Oficial apresentado na Delegação do STM da Guiné e Cabo Verde era o seu Chefe, Capitão Eng,° Tm Góis Ferreira.
A oficina de todo o material de transmissões era chefiada pelo 1.º Sargento Radiomontador do QP Silva Santos. Tinha como auxiliares três cabos radiomontadores.
Sargentos Radiotelegrafistas: a Delegação tinha ao seu serviço como Chefe do Centro de Tm de Bissau o 2.º Sargento Radiotelegrafista Fonseca do Quadro Permanente (QP), e como Chefe das Estações do Mindelo e Praia um 1.° Sargento Radiotelegrafista do QP, de que não recordo o nome.
As Estações situadas nos Comandos dos Batalhões da Guiné eram chefiadas por cabos radiotelegrafistas.
A oficina de mecânica tinha como chefe o 1,º Sargento Mecânico Coelho do QP e do Serviço de Material.
No Centro de Tm de Bissau prestava serviço um Furriel Miliciano responsável pelas ligações telefónicas militares entre Bissau e Lisboa.
Além do Pessoal atrás referido a Delegação tinha ao serviço Praças Radiotelegrafistas, cujo quantitativo não recordo. Mas recordo sim que o efectivo era bem reduzido.
No 2.º trimestre de 1965 o efectivo da Delegação foi reforçado com um Oficial do Quadro de Complemento, Engenheiro Electrotécnico, e dois 2.º Sargentos Radiomontadores do QP.
Todo o pessoal da Delegação era de rendição individual.
Qualificação do Pessoal: atendendo aos quantitativos disponíveis é fácil perceber a elevada qualidade técnica, profissional e humana dos Militares ao dispor do Chefe da Delegação para o cumprimento da Missão e respectivas tarefas.
2.5 Material
Centro Emissor de Bissau em Antula:
- Emissor Marconi HF 3 kilowatt, posteriormente com amplificador 30 kilowatt. Emissor RCA HF l kilowatt.
- Dois Grupos geradores Lester Stanford.
Centro Receptor de Bissau no QG/CTIG:
- Receptor HF Marconi.
- Receptor HF RCA.
Centro de Comunicações de Bissau no QG/CTIG:
- Unidade híbrida Marconi HW23 de ligação emissor-receptor e central automática de modo a permitir fonia em duplex.
- Central telefónica tipo strowger de 100 direcções posteriormente ampliada para 200 direcções.
- Emissor/receptor de VHF para ligação com Mansoa e Bafatá.
Rede de Comando dos Batalhões
- Emissor-receptor HF Kaar , posto director em Bissau (QG/CTIG), estações nos Comandos de Batalhão (Mansoa, Bula, Bafatá,Tite, Catió).
Estações em Cabo Verde, Mindelo (QG/CTICV) e Praia (Companhias de Guarnição) emissores-receptores HF RCA 1 kilowatt e Standard Elétrica de l00 watt.
Qualidades dos equipamentos disponíveis
- A Delegação do STM da Guiné e Cabo Verde tinha como missão, através dos seus meios próprios, manter comunicações militares em fonia, grafia e TT dos Comandos Militares daquelas Províncias com Lisboa. Na Guiné mantinha, em permanência, a rede de Comando QG/Batalhões, alem da rede telefónica automática militar de Bissau.
- Praticamente não havia equipamentos de reserva, rádio ou grupos geradores. Por estas linhas podemos concluir da excelente qualidade dos equipamentos, dos técnicos responsáveis pela sua manutenção e dos operadores que os utilizavam.
Reforços em material durante o período Fevereiro 1964 a março 1966
- Durante o período referido foi reforçada a potência do emissor de HF de 3 para 30 kilowatt, substituída a central telefónica automática militar de Bissau de 100 direcções por uma de 200 linhas.
- Saliento ainda que, durante o período, foi estabelecida a ligação automática entre as redes telefónicas militares de Bissau e de Lisboa.
2.6 Apoio Logístico
O Destacamento do STM da Guiné e Cabo Verde dispunha de oficinas próprias para a manutenção de todo o seu equipamento. A excelente qualidade dos equipamentos e dos técnicos de manutenção já foi referida.
Em relação à central automática de comutação, de tipo eletromecânico, quando a sua manutenção excedia a capacidade do sargento radiomontador, era solicitada a presença do técnico dos CTT que prestava apoio por avença.
A Direcção do STM satisfazia prontamente as necessidades e requisições da Delegação.
2.7 Considerações Finais
Passados mais de 40 anos sobre os factos relatados, é com grande reconhecimento e consideração que recordo as pessoas que conceberam, escolheram, instalaram, mantiveram e operaram os sistemas das Redes de Transmissões da Delegação do STM da Guiné e Cabo Verde. Saliento em especial o Capitão Eng.° Tm Garcia dos Santos, meu antecessor, e primeiro Chefe da Delegação.
Síntese Curricular:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lino_José_Góis_Ferreira
3. TRANSMISSÕES DE CAMPANHA
Conforme foi anteriormente mencionado, no período 1964-1966, não havia dependência Orgânica ou Técnica entre o Comando de Transmissões do CTIG e a Delegação do STM da Guiné e Cabo Verde. Pese embora este facto, é de salientar que as relações entre aqueles Órgãos se pautaram sempre por excelente cooperação, respeito e amizade.
Julgo que será mais apropriado que as informações solicitadas sobre as Transmissões de Campanha sejam prestadas pelos respectivos Comandantes no período em apreço, Coronel Eng.º Tm Esgalhado e Tenente-General Sanches da Gama.
Lisboa, 22 de novembro de 2006