Post do nosso leitor e colaborador Sr João Freitas, recebido por msg:
De origem inglesa, o Wireless Set 38 Mk. II adota em Portugal a designação de “P.38” (Posto 38). Inicialmente concebido como um radio rec/trm para a infantaria, encontrou posteriormente, “abrigo” dentro de alguns veículos blindados com a mesma origem (geralmente acoplado a um Wireless Set 19/P-19/Posto 19, o mesmo aconteceu com o Wireless Set 88, sobre o qual falaremos mais tarde.
O seu desenho e construção muito simples e um certo ar de “feito-à-pressa”, traduzem bem a necessidade que, em tempo de guerra, o Reino Unido teve de rapidamente, mas com alguma qualidade para o fim em vista, produzir aparelhos específicos. Relembra-se aqui que este recetor/transmissor, como o seu nome indica, pertence à família de aparelhos “WIRELESS SET”, do qual Portugal recebeu vários modelos, quase todos de boa memória.
Esse ar pouco “abonatório” é realçado por uma caixa exterior em chapa de ferro pré-cortada, dobrada e soldada por pontos. O seu pequeno tamanho levava a que uma das válvulas de emissão funcionasse tão perto do painel frontal, que o seu calor o queimaria numa pequena zona após algumas horas de trabalho. Apesar destas curiosidades cumpriu muitíssimo bem o fim para o qual estava concebido.
Uma das particularidades deste aparelho era, para alem do seu pequeno volume, a forma de transporte muito pouco usual para a época em que foi concebido (1942), consistindo em o seu simples arnês estar preparado para ser fixado aos suspensórios do sistema “Mills” britânico (fabricado em Portugal sob a designação Mod. 1943/44), ficando o radio ao peito do utilizador no seu lado esquerdo (substituindo a cartucheira). Esta inovação, somente cinquenta/sessenta anos depois, se verifica novamente em alguns rádios táticos de última geração. Também de certa forma inovador era a utilização de um laringofone em substituição do clássico microfone, o que deixava as mãos livres ao operador. Ao ombro era levado um saco com os elementos da antena. A grande pilha era transportada às costas numa mochila.
O sistema de transporte referido (transporte ao peito), também foi utilizado num outro aparelho extremamente curioso, contemporâneo e da mesma “família” Wireless Set e que passou também por Portugal, falamos do Wireless Set 58/Posto 58 ou P-58. Dele falaremos mais tarde.
Usando o sistema de sintonia corrida, o WS 38 funcionava, apenas, em fonia na estreita gama dos 7mc/s, aos 9mc/s. Era um aparelho extremamente simples e de uma robustez a toda a prova, possuindo um alcance de aproximadamente 3 km.
A alimentação era realizada através de uma pilha com as tensões de 3 e 150v com duração para cerca de 5 horas. De uma caixa de junção que ligava o radio á referida pilha, partiam também os cabos dos auscultadores e do laringofone. No seu painel frontal tinha apenas dois botões, um de três posições Desligado/Recetor/Emissor e outro para sintonia com possibilidade de bloqueamento. Um sistema rotativo dava hipótese de encaixe para uma das duas antenas disponíveis (1,20m ou 3,60m), não tinha botão de volume.
Pensamos, do muito que se tem lido em documentação geralmente dispersa, que o WS38 não tenha vindo em grande número para Portugal, tendo começado a chegar em 1947/48/49(?), infelizmente nada mais sabemos sobre o “o seu tempo de serviço”. Extrapolando de factos diversos julgamos que apenas terá visto os primeiros anos da década de sessenta, pois o aparecimento de novos modelos, de técnica mais apurada obrigou, a este antigo herói da Segunda Guerra, a passar á reforma que tardava. Sabemos que em fim de vida vem a equipar, por cedência do exército, a Legião Portuguesa (Defesa Civil do Território, pintados de um verde mais claro) e a Mocidade Portuguesa, tendo nesta ultima alguma utilidade na instrução de graduados.
Em vários anúncios de revistas (*) inglesas de 1959, um conjunto completo e novo do WS38 vendia-se, livremente, por pouco mais de uma libra!
Portugal também teve o Wireless Set 38 Mk. III, como é um modelo evolutivo totalmente diferente, trataremos dele posteriormente, não podendo juntar os dois modelos num mesmo artigo.
(*) ex. Wireless World Electronics, de Maio de1959
Segundo indicação do meu amigo Luiz Fernando, a quem pertence este aparelho, por lapso indiquei que o símbolo esmaltado no WS38 da “Legião” quereria dizer “Defesa Civil do Território”. De facto tal não é verdade, pois representa de forma estilizada as letras “CCT” e não “DCT” como indiquei. “CCT” serão as iniciais de “Centro de Cooperação Técnica” que era o importador destes (e de outros) aparelhos, vendidos às nossas F. Armadas.