Para quem quer fazer investigação, o primeiro passo é sem dúvida conhecer o ambiente onde estão enclausurados os nomes, os locais os factos, e traze-los à luz do dia, dar-lhes vida e, se necessário, avivar-lhes a cor já sumida. Por isso foi em boa hora que o nosso coordenador, coronel Aniceto Afonso, ex-diretor do Arquivo Histórico Militar, nos marcou este encontro.
Fomos recebidos pelo subdiretor do Arquivo Geral do Exército, Major Borges, que nos guiou através da história e da quase maratona (33 Km) de prateleiras com registos de pessoas e locais que no fundo fazem a história, locais profanos e de culto onde os “fantasmas” assomam aqui e ali à espera da vez de serem substituídos pelos documentos que não devem dormir ao relento. O arquivo está sedeado no antigo convento de Chelas, a mais antiga casa monástica de Lisboa, fundada no século VII. Começámos a visita pela capela de S. Félix, a igreja paroquial do convento com uma entrada única, com um portal manuelino e arco duplo.
O acesso faz-se pela porta lateral, como se o convento ainda estivesse em funções. Soubemos que atualmente, por falta de fieis católicos, a igreja está agora ao serviço de outra comunidade, numa sã partilha de credos.
Aconselhamos uma visita especifica ao convento, para falarmos da arquitectura e especialmente, como ficou prometido, da parte mística que surge em cada legenda ou em cada esquina virada ao norte, ou será ao leste?
Estranhámos ver a Nossa Senhora da Atalaia protegida na sua redoma contra ventos e marés pois terá que estar preparada para a procissão fluvial, a maior que se realiza no país na festa da Senhora.
Cá fora e antes de subirmos a escadaria forrada a azulejos,
impõe-se uma visita ao gerador Krupp (só existem dois em todo o mundo),
que durante algum tempo alimentava a fábrica de pólvora.
Em 1923, quando o convento era habitado por viúvas e órfãos de militares da I Guerra, foi atingido por um incendio que danificou completamente o tecto da capela.
A escadaria e os claustros com os seus símbolos míticos portas de várias entradas, bem a componente mítica fica para futura visita.
Com todas estas historias, não nos espanta que por ali existam os “fantasmas” a guardarem o lugar nas prateleiras para que nada se perca.
É ainda obrigatória uma paragem junto do encadernador, elemento essencial para a preservação da informação.
Também nos impressionaram os monges dos tempos modernos a analisarem e copiarem a informação dos livros mestres para suportes duradouros (pensamos nós) no projecto GERMIL.
Esta foi uma visão rápida como rápida foi a visita ao Arquivo Geral do Exército.
Agradeço ao coronel Martins Alves o seu post sobre a visita da CHT ao Arquivo Geral do Exército (AGE) que, em larga medida, veio compensar não me ter sido possível nela participar, como desejava.
Ao verificar que no AGE “existem 33 km de prateleiras com registos de pessoas e locais” o que, sendo uma extensão considerável, me pareceu dificilmente compatível com um AGE apenas dedicado às funções de Arquivo Intermédio .
Isto porque sendo o AGE “um Arquivo Intermédio com a missão de recolher, tratar e conservar documentos produzidos pelas Unidades, Estabelecimentos e Órgãos do Exército até à perda de utilidade administrativa. Depois de avaliados pela Comissão de Classificação de Documentos, alguns passam para o Arquivo Histórico Militar” a passagem dos documentos no AGE é temporária e após a perda de utilidade administrativa ou são destruídos ou vão para o AHM”.
Esse escoamento dos documentos para fora do AEM parece que não devia dar lugar à enorme extensão de prateleiras que se verifica.
Julgo que o camarada e amigo Aniceto Afonso não terá dificuldade em explicar esse fenómeno. Eu julgo que deriva de o AHM não ter, nas atuais instalações, capacidade para absorver mais documentos, pelo que os documentos aprovados pela Comissão de Classificação de Documentos não podem sair de Chelas, aumentando a sua extensão de prateleiras. O AGE funciona assim também como uma extensão do AHM na guarda de documentos de interesse histórico
Outra dúvida que tenho é sobre a possível saída do AGE de Chelas, dado que li num documento do AGE publicado na Net (de junho do ano passado) onde se previa a mudança do AGE para a zona do Polo de Santa Clara.
Eu devo estar orgulhoso do conhecimento que os meus camaradas demonstram. Pouco mais tenho a acrescentar. As razões da acumulação documental no AGEx são mesmos as mencionadas. O sistema de arquivos está saturado. Praticamente não há transferências, nem do AGEx para o AHM, nem das U/E/O para o AGEx. Muita documentação vai-se perdendo e não há capacidade prática para cumprir o regulamento. Este é um problema de fácil solução, dados os espaços que o Exército pode disponibilizar. Nesta fase seriam apenas necessários espaços com estantes, para um depósito provisório. No futuro, se faria o tratamento necessário. A realidade é esta – a memória do Exército em suporte de papel vai ficar incompleta, por vezes completamente desaparecida. E não sei como está a ser preservada a memória digital, que essa é outra conversa… Aniceto Afonso
O problema da saturação dos arquivos do Exército, levando à paralisação do sistema de recolha dos elementos considerados de interesse histórico, apresenta o inconveniente grave, que foi apontado, de criar lacunas na preservação da memória histórica do Exército.
Com efeito as unidades, estabelecimentos e órgãos não podem enviar os seus documentos que, dentro as normas em vigor devem preservar, para o AGE, por este não ter espaço para os receber.
Logo, a criação de espaços, para o efeito, no AGE e AHM constitui a solução provisória, que convém adotar e que permitia que o sistema de avaliação e arquivo de documentação de interesse histórico funcione.
No entanto uma coisa é um espaço estar disponível, outra é a sua utilização tornar-se efetiva, o que depende da prioridade dada a esta matéria.
Pela minha parte, embora deseje vivamente que a breve trecho a solução provisória esteja concretizada, temo que isso se não verifique pelo que me atrevo a apresentar uma solução aplicável enquanto não for cedido mais espaço para o AGE e AEM.
A solução que defendo consiste em a comissão de avaliação de documentos se desloque às unidades , estabelecimentos ou órgãos e faça aí o seu trabalho de seleção de documentos (em vez de ser no AGE) e a unidade apenas ficaria com os documentos de interesse histórico avaliados pela comissão, à sua guarda enquanto durasse a falta de espaço no AGE e AHM, libertando-se dos restantes que seriam destruídos.
Em relação ao sistema definitivo a adotar julgo que a atual regulamentação dá lugar a um volume excessivo de documentos classificados como de interesse histórico, pelo que me parece importante ponderar a restrição do critério de avaliação .