A telegrafia pelo solo foi um meio de comunicações desenvolvido e utilizado durante a Grande Guerra (1914-1918) para estabelecer ligações de curta distância (à volta de 3 Km), em que a principal vantagem sobre qualquer um dos outros tipos de ligação eléctrica era a de continuar a funcionar, aquando de bombardeamentos intensos que destruíam as linhas telefónicas.

Este desenvolvimento foi coordenado pelo Coronel Ferrié, considerado o radiotelegrafista mais antigo de França, que durante a guerra dirigiu um grupo de cientistas competentes tanto militares de carreira como civis mobilizados, que investigaram e desenvolveram as novas tecnologias (TPS e TSF).

Na área da TPS destacam-se Paul Boucherot que desenvolveu um “vibrador”, emissor de TPS modelo TM2 em 1915, que permitia emitir mensagens em sinais morse a distâncias de alguns Kilómetros, e Lucien Levy, chefe do laboratório da rádio militar da torre Eiffel, que desenvolveu o primeiro amplificador de baixa frequência (B.F.) que permitia a escuta das conversações telefónicas do inimigo e a escuta da TPS.

O Corpo Expedicionário Português foi dotado para este tipo de comunicações com 12 equipamentos do tipo “vibrador”que eram designados por “Power Buzzer”.

O princípio de funcionamento da TPS fundamenta-se na propagação de campos eléctricos pelo solo e consiste na instalação no solo de duas estacas metálicas (tomadas de terra) distanciadas entre si à volta de 100m, ligadas ao respectivo equipamento. As estacas tanto podiam ser enterradas à superfície como na profundidade do solo.

A TPS, após algumas hesitações no princípio, instalou-se no campo de batalha servindo-o. Graças a ela todas as informações alcançavam, quase instantaneamente, o escalão regimento e deste pela TSF, que se vulgarizou, chegavam em alguns instantes aos escalões mais elevados de comando
Realizaram-se na frente ocidental francesa instalações de TPS inteiramente subterrâneas. Os equipamentos eram colocados em abrigos profundos, 10 a 12m abaixo do solo: quanto aos dois fios, de em vez se desenvolverem a descoberto no fundo da vala da trincheira, eles eram colocados no fundo de uma vala estreita de 0,40 – 0,50m de largura e 2m de profundidade, escavada para a ocasião, desde a abertura do abrigo até dois poços, no fundo dos quais eram instaladas as tomadas de terra.

Na actualidade esta tecnologia foi recuperada pela espeleologia para comunicar do interior das grutas para o exterior no caso de emergência. Destacam-se os sistemas desenvolvidos por investigadores franceses, conhecidos por:
Sistema NICOLA que utiliza o método testado desde a guerra de 1914-1918, com baixas frequências .
Sistema FAUCHEZ que utiliza um novo método baseado em frequências mais elevadas.

Apresentam-se os esquemas dos dispositivos de emissão e recepção, assim como o do vibrador, retirados do curso de oficiais-alunos da “ECOLE SPECIAL MILITAIRE (1919)” e fotografias de equipamentos.

1 comentário em “TPS – Telegrafia pelo solo

  1. Este post tem a virtude de tratar o problema da utilização da Telegrafia Pelo Solo como meio de comunicação inovador, utilizado na IGM, e que julgo ser praticamente desconhecido em Portugal. Estão de parabens o Costa Dias e o Blogue.

    Uma dúvida que me ficou foi a de saber se o tríodo, a válvula que estava na base do amplificador das fraquíssimas correntes que se propagavam pelo solo, foi também uma novidade para os portugueses.

    Em relação à utilização dada ao Power Buzzer pelo CEP na Flandres (visto que em África não foi usado), apenas conhecemos os elementos apresentados pelo general Soares Branco, o Chefe do Serviço Telegráfico do CEP, na lição inaugural do ano letivo de 1929-21930 da Escola Militar.
    Segundo ele o CEP usou o power buzzer em conjugação com a TSF. O sistema acabou por não ter efeitos significativos, nomeadamente na batalha de La Lys, não só porque o CEP dispunha apenas de 5 rádios (1 Wilson e 4 Trench Sets) e 12 Power Buzzers, mas também porque os abrigos em que foram instalados conferiam fraca proteção, (não era praticável na Flandres construir abrigos enterrados profundos) o sistema só ficou concluído cerca de um mês antes da batalha de La Lys e a exploração da TSF ter-se–ia ressentido do longo período de silêncio rádio estabelecido antes do ataque alemão a 9 de Abril.

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