O tenente-coronel Rodrigo Manuel Rosas Leitão nasceu em Lisboa em 1943 e faleceu em Meinedo, Lousada, em 2020. Era filho do coronel de Engenharia (Transmissões) Mário Pinto da Fonseca Leitão e de D. Helena Maria Ramos Pinto Rosas Leitão.
Foi aluno do Colégio Militar e da Academia Militar, tendo nesta frequentado os sete anos do curso de Engenharia Eletrotécnica Militar, de 1960 a 1967, dos quais os últimos três foram ministrados no Instituto Superior Técnico.
Ao longo da sua carreira prestou serviço no Batalhão de Telegrafistas (1968-1969); no Agrupamento de Transmissões e na Delegação do STM de Angola (1969-1973); no Depósito Geral de Material de Transmissões (1973-1977); e na Direção da Arma de Transmissões (1977-1983). A seu pedido, passou à situação de reserva em 1983, no posto de tenente-coronel.
Durante a comissão de serviço em Angola desenvolveu assinalável atividade técnica no âmbito da reorganização das redes do STM e na elaboração de projetos tipo de novas Centrais Rádio, revelando espírito científico e engenhoso, e aliando estudo e trabalho experimental com aspetos práticos.
No Depósito Geral de Material de Transmissões, ainda como capitão e depois como major, coordenou os projetos de recuperação dos equipamentos de campanha regressados do Ultramar, a fim de equiparem o Exército e a GNR, trabalho que esteve na origem da criação das Oficinas de Manutenção de Apoio Geral no DGMT.
Depois de concluído o Curso Geral de Comando e Estado-Maior (1976-1977), Rodrigo Leitão, entretanto promovido a tenente-coronel, foi colocado na DAT em agosto de 1977. Nessa altura estava em curso o processo de aquisição aos EUA de um emissor/recetor de VHF/FM para equipar o Exército, já com uma dezena de anos. Afirmando a sua conhecida e apreciada visão estratégica do papel das telecomunicações no futuro, e acreditando nas potencialidades da indústria nacional e nas capacidades técnicas dos oficiais da Arma, apresentou superiormente uma proposta visando o fabrico em Portugal de um E/R, suportado em tecnologia a adquirir a um fabricante estrangeiro. Esta brilhante iniciativa iria colher frutos em 1982 quando, depois de vencidas diversas dificuldades técnicas e administrativas, a Arma de Transmissões recebeu os primeiros E/R P/PRC-425, fabricados pela empresa CENTREL, apoiada em tecnologia da empresa alemã AEG-Telefunken e com a colaboração de oficiais da Arma.
Este feito, que representa o “nascimento da Indústria Eletrónica em Portugal”, deveu-se maioritariamente à iniciativa, empenho e visão de Rodrigo Leitão, como foi reconhecido pelo Exército e por entidades civis.
A atividade inovadora de Rodrigo Leitão estendeu-se a outros projetos que trouxeram à Arma de Transmissões e ao Exército um especial prestígio e proveito, tanto pela sua natureza prática, como pela satisfação de requisitos visando o progresso tecnológico. Foi assim que, devido em grande parte à sua iniciativa e persistência, foi fossível criar um Curso de Soldadura para Módulos Eletrónicos na Escola Militar de Eletromecânica (1978-1981), constituir um Centro de Formação Profissional de Técnicos de Eletrónica (1978-1983) e, com apoio da indústria nacional, efetuar a recuperação dos equipamentos de feixes hertzianos de campanha FM-200 (1978-1987).
A sua grande criatividade e empenho, mormente no âmbito das comunicações táticas, estendeu-se ao fabrico em Portugal de um telefone de campanha eletrónico (1983-1984), baseado em tecnologia israelita, e ao projeto e construção de cabinas de transmissões para instalação em viaturas, visando equipar um futuro Batalhão de Transmissões.
No período de permanência na Direção da Arma, Rodrigo Leitão empenhou-se também na criação de um Laboratório para a Fabricação de Circuitos Integrados Híbridos (LCH), numa parceria do Exército com o Ministério da Indústria. Este importante Laboratório viria a ser inaugurado em 1985, já depois de Rodrigo Leitão ter passado à reserva, mas não deixou de ser reconhecido como impulsionador da iniciativa e de nele se observar a sua visão em prol do desenvolvimento de competências inovadoras no domínio da eletrónica, com a participação do Exército.
Por último, e no conjunto de inúmeras iniciativas que Rodrigo Leitão concebeu e abraçou, não sendo possível de todas dar notícia nesta síntese biográfica, deve salientar-se a que conduziu ao desenvolvimento e fabrico de um sistema de intercomunicação para viaturas blindadas, ICC-101, fornecido ao Exército a partir de 1987.
Depois de transitar para a situação de reserva, a experiência, o saber, o espírito inovador e as qualidades humanas de Rodrigo Leitão continuaram a ser uma mais valia para a Indústria Eletrónica nacional, tendo desempenhado cargos relevantes em algumas empresas.
Sendo tempo de concluir, fica-nos desta síntese a certeza de homenagearmos e lembrarmos um oficial que se empenhou na definição de uma estratégia de desenvolvimento e inovação, e que sempre lutou para concretizar avanços tecnológicos e múltiplos projetos setoriais, assim como na resolução de muitos dos pequenos problemas do dia a dia.
Espírito multifacetado e de constante abertura ao futuro, é esta a memória que a sua geração dele pretende transmitir.
Extrato do Livro:
DCSI, 2023. Arma de Transmissões – 50 anos “Por Engenho e Ciência”, Vol. II, pp 352 e 353