Post do MGen Pedroso Lima, recebido por msg:

Veiga SimaoJosé Veiga Simão, recentemente falecido, foi um homem extraordinário que realizou uma obra notável em proveito do pais, que merece ser recordada.

Licenciou-se em Ciências Físico-químicas na Universidade de Coimbra, em 1951.
Após se ter doutorado em Cambridge, em Física Nuclear, o que considerava ter tido uma influência crucial na sua vida, foi professor catedrático da Universidade de Coimbra na área da Física.

Em Coimbra integrou uma plêiade de professores universitários, a maioria doutorada em universidades estrangeiras, que marcaram profundamente o ensino da Universidade de Coimbra.

Em 1963 deixou Coimbra para ser o fundador e reitor da Universidade de Lourenço Marques, durante cerca de 7 anos.

A influência de Cambridge traduziu-se aí na criação na Universidade, de um Laboratório de Medicina Nuclear, considerado um dos melhores do continente africano .

A sua atuação, neste cargo, que considerou “a obra da sua vida”, foi distinguida com o seu doutoramento honoris causa, pela atual Universidade Eduardo Mondlane, do Maputo, décadas depois da independência de Moçambique,

Regressou a Portugal em 1970, por ter sido nomeado para o difícil cargo de Ministro da Educação, na fase final da primavera Marcelista, numa conjuntura de acentuada crise estudantil.

Foi neste cargo que desenvolveu a obra ainda mais significativa e importante para o país, que foi a modernização da educação em Portugal, com a chamada “reforma Veiga Simão” que iniciou, em Portugal, o processo de democratização do Ensino que a Revolução de Abril revitalizou e possibilitou a enorme transformação na generalização e acesso ao ensino que se verificou no país em todos os setores, e em que merece particular destaque a expansão do ensino universitário.

Depois do 25 de Abril foi nomeado embaixador de Portugal nas Nações Unidas, donde regressou para ser o Diretor do Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial (LNETI), a que deu significativo impulso e projeção.

Posteriormente foi deputado na Assembleia da República, pela Guarda, sua terra natal, pelo Partido Socialista. Foi ministro da Indústria e Energia em governo presidido pelo Dr. Mário Soares e Ministro da Defesa, no governo do Eng. António Guterres, tendo sido, assim, o único ministro do Estado Novo que ocupou por duas vezes o cargo de Ministro no Portugal Democrático.

Há cerca de 1 mês esteve anunciada, em Coimbra, no âmbito das “Lojas do Saber”, uma intervenção do professor Veiga Simão, a que eu tencionava ter o prazer de assistir, dedicada ao tema “A velhice ativa e solidária” que ele praticava e mostrava genuíno interesse em transmitir. O seu estado de saúde não o permitiu pelo que, infelizmente, perdi a última oportunidade que tive de receber mais uma sua valiosa lição. Senti que fiquei mais pobre, como o país, com a sua perda.

Para terminar, uma referência à ligação que o professor Veiga Simão teve com a Arma de Transmissões, na década de 80 do século passado, quando era Diretor do LNETI e exercia o cargo de Diretor da Arma de Transmissões o General Pereira Pinto.

A Arma de Transmissões continuava, nessa altura, o processo de remodelação iniciado em 1976, por iniciativa do seu Diretor, com acentuada dinâmica, e elevado empenhamento da Arma, com destaque para os novos engenheiros eletrotécnicos. Foi a época do projeto e construção do P/PRC-425, da construção do laboratório de circuitos impressos, do projeto das cabines e de outros desenvolvimentos no sentido de conseguir equipar o Exército apenas com material de transmissões fabricado em Portugal. O DGMT estava progressivamente a transformar-se num órgão logístico importante.

Com o prof Veiga Simão foi assinado um protocolo de cooperação do qual resultou a construção, no LNETI, do primeiro Laboratório de circuitos híbridos do país, no financiamento do qual o Exército participou e nele manteve, durante anos, um oficial engenheiro integrado na equipe de investigação do Laboratório.

Foi neste período que o professor Veiga Simão visitou o Depósito Geral de Material de Transmissões onde teve oportunidade de apreciar, em pormenor, as atividades em curso e dialogar com o pessoal sobre os trabalhos de investigação ou de manutenção que estavam a realizar.

Não tenho dúvidas de que gostou do que viu. Não me esqueci da pergunta que fez ao general Pereira Pinto, no final da visita: “Senhor General, este Depósito é um oásis dentro do Exército português?”.

2 comentários em “Recordando Veiga Simão (1929-2014)

  1. Interessante apontamento histórico. Também enquanto Director do IMPE sendo ele Ministro da Defesa pude constatar do respeito e carinho que manifestou pelos Estabelecimentos Militares de Ensino que apontou como exemplo de Escolas portadoras de Valores e com excepcional qualidade. Infezmente os seus actuais sucessores no cargo, tudo fazem para a sua destruição com base em argumentação prenhe de mediocridade…
    Maj. Gen. Bento Soares

  2. Estou de pleno acordo com o Senhor Gen. Bento Soares. Penso que apesar de uma modernidade, que se adivinharia com a “Reforma Veiga Simão”, nunca passaria pela cabeça do seu autor o estado de profunda pobreza cultural e iliteracia que se vive actualmente. Uma magnética anomalia fez-nos perder um Norte.
    Quanto ao seu extenso precurso político teríamos que tecer algumas considerações, mas penso que não será o local apropriado…

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