Post do nosso leitor Sr. João Freitas, recebido por msg:

Vamos tratar de mais um caso complicado, quanto mais não seja por englobar diversas nomenclaturas. Como no caso do AN/GRC-3 a 8, os aparelhos que hoje tratamos são passíveis de várias conjugações jogando com duas gamas de frequências e duas tensões de alimentação. Serão essas duas gamas de frequências e a adição ou subtração de componentes a determinar as suas diferentes identidades. Exteriormente os seus componentes são bastante similares conforme as funções.

Conjunto dos diversos elementos falados no texto

De origem americana, todos estes aparelhos datam do último conflito mundial (1939/1945), equipando nessa altura a maioria dos blindados e veículos de comunicações americanos intervenientes nessa guerra. Sendo rádios de muito boa qualidade, chegam a Portugal a meio dos anos cinquenta, fornecidos nos acordos NATO, havendo provas fotográficas do seu uso nos primeiros anos da guerra em África.

Um SCR-508 montado numa Dodge WC-51 nos primeiros tempos da Guerra Colonial em Angola. É curiosa a proteção feita em caixa de madeira e terra.

O seu toque a recolher dar-se-á nos últimos anos da década de sessenta. A nossa Força Aérea chega a equipar algumas das suas aeronaves (de dois ou quatro motores) com rádios deste tipo!

Todos os recetores e transmissores desta série operam em FM (fonia) numa gama compreendida entre os 20MHz e os 38.9MHz. Bem, como temos que começar por um lado entendemos que devemos ir aos alicerces, aí encontramos uma base (ou suporte veicular) sobre a qual todas as hipóteses podem ser consideradas, falamos da base “MT-237” (MT=MOUNTING). Pesadíssima, compreende todas as ligações necessárias para a fonte de energia primária (baterias de automóvel de 12 ou 24v), antenas, ligações para dois recetores, um transmissor e suas respectivas fixações, além de fusíveis ativos e de reserva, assim como aberturas para diversa manutenção. Este suporte é impressionante pelo seu tamanho e extrema robustez. Outras bases mais pequenas existem para esta serie de rádios, também elas usadas em Portugal, mas esses sistemas encaixam já sob a designação “AN/VRC”, sobre eles falaremos em outro artigo.

Como já aflorámos, sobre o “MT-237”, podem-se colocar múltiplas conjugações de recetores, transmissores e acessórios como passaremos a descrever.

Conjunto SCR-508, ou SCR-608 (dependendo da gama de frequências)
Conjunto SCR-528, ou SCR-628 (dependendo da gama de frequências)

Constituições “SCR” (Set Complete Radio) possíveis:

SCR-508: Constituído por um emissor BC-604 e dois recetores idênticos BC-603 sobre uma base MT-237.

SCR-528: Constituído por um emissor BC-604 e um recetor BC-603 sobre uma base MT-237.

SCR-608:Constituído por um emissor BC-684 e dois recetores idênticos BC-683 sobre uma base MT-237. (versão também usada pela F.A.P.)

SCR-628: Constituído por um emissor BC-684 e um recetor BC-683 sobre uma base MT-237.

(Destes “SCR” faziam parte um vasto leque de outros componentes. Apontamos apenas os mais importantes)

Elementos “BC” (Basic Component) constituintes:

O recetor BC-603, ou BC-683

Recetores BC-603: Frequências de 20 a 27.9 MHz., com alimentação primária a 12v com o dínamo DM-34 ou a 24v com o dínamo DM-36.

Recetores BC-683: Frequências de 27 a 38.9 MHz., com alimentação primária a 12v com o dínamo DM-34 ou a 24v com o dínamo DM-36.

(Estes dois recetores tinham sintonia corrida ou dez frequências pré-sintonizadas acionadas por teclas.)

O emissor BC-604, ou BC-684

Transmissores BC-604: Frequências de 20 a 27.9 MHz. (30W), com alimentação primária a 12v com o dínamo DM-35 ou a 24v com o dínamo DM-37.

Transmissores BC-684: Frequências de 27 a 38.9 MHz. (30W), com alimentação primária a 12v com o dínamo DM-35 ou a 24v com o dínamo DM-37.

(Estes transmissores tinham apenas dez frequências comandadas a cristais e acionadas por teclas.)

Há originalmente mais conjugações “SCR” possíveis, tendo por base estes elementos e acessórios, sendo estas as mais importantes. Portugal não deverá ter-se restringido às conjugações “SCR” básicas, introduzindo por exemplo num “SCR-508”, em vez de dois recetores iguais, dois com frequências complementares.

Como se notará, é com a possibilidade de facilmente se substituir o dínamo interno dos recetores e transmissores que se alteram a tensões primárias com que estes aparelhos podiam ser alimentados (12 ou 24v).

Um SCR-508, ou 608, em versão fixa terrestre, ou aplicado em veiculo ligeiro, com o CHEST-74

Quando se utilizava a versão SCR-528 ou SCR-628 (ficando o alvéolo de um recetor vazio), podia-se preencher esse espaço com o “CH-264” (CHEST-264) (1) onde eram guardados diversos periféricos, e válvulas de substituição, ou um amplificador para intercomunicação de tripulações de veículos blindados, ou ainda um raro amplificador de RF. Para além da referida base MT-237, e quando estes conjuntos eram utilizados em campo ou em viaturas abertas, era utilizado um “armário” “CH-74″(2) (CHEST-74) equipado com base para a antena, onde o conjunto ficava resguardado.

Esta série de “SCR” é substituída, nos anos cinquenta, pelos AN/GRC-3 a 8. Como Portugal também os teve ao serviço, deles trataremos posteriormente num artigo alargado, por ser ainda mais complexa a sua conjugação de componentes.

(Adaptado de um original publicado na revista “QSP”)

João Freitas

Notas:

(1)  “CH-264” (CHEST-264) “CAIXA 264”. Tem as dimensões iguais a um recetor e é totalmente em aço. Na parte superior tem um compartimento para válvulas e na parte na frente um espaço para guardar microfones e auscultadores, ambos os espaços têm tampas.
Como se tem referido, neste artigo, aparecem mais duas nomenclaturas em que decompõe o complexo sistema “SCR”, é o caso do “CH” (CHEST-74 e 264) e do “DM” (DYNAMOTOR-34, 35, 36 e 37)

(2) A tradução dada aqui é mais do que literal! Somos obrigados a isso porque o termo “CHEST” identifica uma serie de acessórios que, no código “SCR”, genericamente, servem para guardar algo ou alguma coisa. No caso do “CH-74” temos uma caixa (armário) de contraplacado, muito robusta, onde o aparelho era colocado, e a partir do qual pode ser operado. Os E.U.A. foram grandes fabricantes/utilizadores deste tipo de CHEST (e Portugal também os recebe!), muito especialmente subdividindo grandes conjuntos de rádios e seus acessórios que equipavam viaturas de comunicações, ou para utilização em fixo terrestre.

1 comentário em “Os SCR-508; 528; 608 e 628

  1. Para não estar a tornar a legenda da foto onde aparece o “Dodge WC-51”, ou jipão, como por cá era chamado, extensa, não se chamou à atenção diversos pormenores desta interessante fotografia.
    Sobre o rádio da série 500/600 (?) pode ver-se uma espingarda automática FN FAL. Para o lado esquerdo deste aparelho desponta um AN/GRC-9, dando possibilidade de comunicões em AM. Curiosa é também a “bomba encestada” de 5 litros que o militar tem ao alcance da mão, não vá o inimigo atacar…
    À frente do Dodge aparece um JEEP CJ-5 equipado de com um canhão sem recuo.
    João Freitas

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