Nasceu a 21 de Janeiro de 1861 em Porto Alegre (Brasil), onde viria a falecer em 30 de Junho de 1928.
Estudou teologia em Roma, tendo-se ordenado sacerdote em 1886. A par da sua preparação eclesiástica, estudou também física e electricidade.
Foi o primeiro a transmitir a voz humana utilizando as ondas hertzianas.
Durante toda a sua vida parece ter conseguido harmonizar a dupla condição de padre e cientista. Prova disso é o episódio em que, por deferência, fez uma demonstração das suas invenções ao seu bispo. Quando este ouviu a voz que saía do receptor disse que era a voz do diabo, sugerindo que a invenção tinha uma base de bruxaria. Esta ideia levou a que alguns grupos menos esclarecidos o atacassem, chegando mesmo a destruir o seu laboratório.
Devia ser um homem de personalidade forte pois nem os ataques o amedrontaram, prosseguindo as suas actividades científicas, nem estas o impediram de continuar a dedicar-se á sua tarefa pastoral, tendo servido em várias paróquias.
Em 1893, antes da primeira experiência de Marconi, o padre Landell de Moura fez uma demonstração de telefonia e telegrafia sem fios, com aparelhos de sua invenção, entre o alto da Av Paulista e o alto de Sant’Ana, em S. Paulo, numa distância aproximada de 8 quilómetros. Repetiu a experiência no dia 3 de Junho de 1900, presenciada pelo Consul Britânico em S. Paulo, Sr C. P. Lupton, pelas autoridades brasileiras, por jornalistas e pelo povo.
Em 1901 conseguiu obter a patente brasileira nº 3279 para o seu aparelho. De seguida, convencido do valor das suas invenções, partiu para os Estados Unidos onde conseguiu as patentes que se indicam no quadro que a seguir se apresenta:
Nome | Número da Patente | Data do Pedido | Data da Patente |
Wireless Telephone | 775.337 | 04 Outubro 1901 | 22 Novembro 1904 |
Wireless Telegraph | 775.846 | 16 Janeiro 1902 | 22 Novembro 1904 |
Wave Transmitter | 771.017 | 9 Fevereiro 1903 | 11 Outubro 1904 |
Não é por acaso que o “Wave Transmitter”, sendo o último a ser submetido foi o primeiro a ser patenteado. Trata-se de um sistema de rádio que não levantou grandes problemas aos avaliadores do “Patent Office”porque estava baseado em tecnologias já conhecidas: a bobine de Ruhmkorff, como base do emissor, e o telefone, como base do receptor.
A grande invenção e novidade é um microfone a que Landell de Moura chama “interruptor fonético”, baseado numa membrana que vibra ao ritmo do som e que, nessas oscilações, faz e desfaz um contacto com uma haste metálica, gerando assim impulsos com uma frequência igual à do som que actua sobre a membrana. Como estes impulsos comandavam o funcionamento da bobina, as ondas hertzianas geradas incorporavam a (eram moduladas pela) frequência do som. Este foi, de facto, o primeiro sistema de transmissão de voz e outros sons utilizando as ondas descobertas por Hertz.
Bell tinha inventado o “fotofone”, em 1880, conseguindo transmitir voz, através da luz, a 213 metros de distância. Mas, apesar desta invenção, a utilização prática da luz para a transmissão de fonia só veio a ser possível com a descoberta do laser e dos sistemas de modulação digital na 2ª metade do Sec XX. Por isso pode considerar-se que o sistema de Landell de Moura foi o verdadeiro pioneiro da telefonia sem fios.
Já o “wireless telephone” e o “wireless telegraph” eram equipamentos complexos que incluíam, no mesmo equipamento, a transmissão por ondas hertzianas, pela luz e por ondas sonoras. O próprio inventor, talvez para ultrapassar as dúvidas dos oficiais do “Patent Office”, escreve na sua patente: “O aparelho assim pode não ser de grande valor comercial”. Ele tinha consciência das limitações de alcance das transmissões sonora e luminosa, além da complexidade técnica desta última, para a época.
Concebeu ainda o que denominou “telefotorama” ou “Visão à distância” que era um sistema precursor da televisão.
Aqui fica uma justa homenagem a este ilustre brasileiro que, tal como muitos outros, com o seu esforço e engenho, muito contribuiu para o desenvolvimento da rádio sem disso ter tirado qualquer proveito pessoal.
Em relação a este post, dedicado ao grande cientista brasileiro que foi o Padre Roberto Randell de Moura, permito-me apresentar as seguintes observações:
. Em primeiro lugar constituiu, para mim uma uma surpresa pois desconhecia completamente a a obra de Randell de Moura, o que julgo acontecer com a maioria dos portugueses.
.O nosso blogue tem o mérito de chamar a atenção para uma figura brasileira de projeção mundial cujos trabalhos de transmissão de voz por TSF foram anteriores a Marconi , contribuindo para o seu conhecimento em Portugal.
. Na procura que fiz na net encontrei uma monografia (em pdf), que recomendo a quem queira saber um pouco mais sobre a biografia e aceitação no Brasil da sua obra. É relativamente recente (2006) e integrou-se no Curso de Gestão de Informação da universidade federal do Paraná. Da autoria de Claudia Josiani Zaltrão e é intitulada “Resgate da Memória científica Nacional: a obra do Padre Roberto Landall de Moura”.
. Nesta monografia a autora afirma que, em 2006, o Padre Landall de Moura era um ilustre desconhecido para a maioria dos brasileiros, o que claramente a monografia procurava combater.
De então para cá o Brasil tem sido capaz de conseguir um notório desenvolvimento económico e social em que finalmente parece estar a dar passos seguros para se transformar numa das grandes potências mundiais do futuro. Será que hoje o reconhecimento de Randell de Moura já tem, pelo menos no Brasil, a dimensão que a sua obra merece?