Post do nosso leitor e colaborador Sr. João Freitas, recebido por msg:
No final da Segunda Guerra Mundial e tendo em conta o êxito do “SCR-300“, os EUA começam a pensar na sua substituição. O rápido avanço da técnica assim o exigia. Após a apreciação de alguns projectos, ficou decidido o início da produção de um dos mais emblemáticos rádios de transporte ao dorso (Walkie-Talkie).
Esta nascença não foi singular, mas sim de quadrigémeos que recebem o nome oficial de AN/PRC-8, AN/PRC-9, AN/PRC-10 e AN/PRC-28. Posteriormente os três primeiros modelos tiveram uma pequena alteração a nível electrónico e cosmético, adoptando então respectivamente a designação 8A, 9A, 10A. Toda esta serie de seis aparelhos (exceptuando o PRC-28) foram fabricados sob licença em diversas partes do mundo, nomeadamente em França, Alemanha, Japão, e Israel. Convém precisar que em termos de frequências, somente o PRC-10, e 10A substituem o SCR-300, sendo os restantes modelos destinados a outras armas dentro das forças armadas dos EUA.
O AN/PRC-28 é um infeliz nesta notável família, é o irmão que nasce torto e que nunca vingará, acabando por falecer prematuramente. Este curioso rádio, exteriormente idêntico, perde a sintonia corrida (tem o botão de sintonia substituído por um tampão, nem tem a pequena alavanca de fixação da frequência escolhida) e apenas tem um canal comandado a cristal. A sua produção limitada, não fez história. Estes factos tornaram o PRC-28 uma peça cobiçada por coleccionadores.
Ainda hoje se discute a utilização do PRC-8, 9 e 10 de forma operacional nos últimos dias do conflito coreano. Registos de ordens e contra-ordens e todo um secretismo, envolvem os seus primeiros passos em combate, apenas se sabe que chegam á Coreia nas últimas horas da guerra, o mesmo se passaria com o AN/PRC-6. Os seis modelos são praticamente iguais, interior e exteriormente, diferindo nas frequências abrangidas (*) e em pequenas modificações a nível electrónico. Como só tivemos nas nossas F. A. o PRC-10 e 10ª (oriundos de vários fabricantes), falaremos deles como de um só se tratasse.
Como é habitual dividem-se em duas partes, uma superiora destinada ao radio e seus comandos (**) em liga leve moldada e uma inferior (em aço ou alumínio), servindo de caixa para a bateria. Tinha esta caixa na sua base um compasso que uma vez aberto permitia que o aparelho ficasse na posição vertical no solo (ver foto). Além do R/T, o conjunto completava-se com um arnês “ST-120” e um pequeno saco “CW-216” onde eram colocadas as duas antenas os seus suportes elásticos e o microauscultador. Este saco era uma evolução estilizada do encontrado no “SCR-300“.
Com o PRC-10 foi introduzido um tipo totalmente novo de antena que veio revolucionar estes imprescindíveis acessórios – a antena de fita de aço “AT-272/PRC“, sendo rapidamente aplicada em modelos posteriores, não só nos EUA, mas por todo o mundo. Inquebrável e totalmente flexível, era o máximo que se podia esperar de um sistema irradiante portátil que estivesse sujeito a uma situação de combate. Alem da antena de fita o AN/PRC-10 podia usar quando utilizado em fixo (preferencialmente), a antena “AT-271/PRC“, com cerca de três metros de altura. Cada uma das antenas tinha um elemento flexível e alvéolos próprios. Apenas como curiosidade, podemos dizer que ela será suplantada pela antena “Kulikova” de origem soviética, mas isso é uma outra história…
Também estava prevista e recebemos antenas de quadro “AT-339“, para fins goniométricos. Como micro auscultador usava o nosso conhecido “H-33/PT“.
Totalmente a válvulas, pode-se dizer que é um dos primeiros rádios a utilizar, no seu bloco electrónico, uma forma verdadeiramente modular e padronização NATO ao nível das tomadas exteriores. Operando em FM e em banda corrida, possuía um cristal para calibração autónoma.
O seu painel de comandos estava equipado de uma luz interior para o quadrante, de limitador de ruído e do respectivo botão de volume. Já que estamos a falar do volume de som, podemos dizer que de certa forma, foi o seu calcanhar de Aquiles, pois mesmo no seu máximo e em condições de algum ruído exterior, era por vezes complicado estabelecer uma comunicação eficaz.. Outro elemento que geralmente dava problema, era o pequeno cabo de ligação á pilha. Fino e extremamente flexível, não admitia “violências”, devendo ser tratado com cuidado.
Inicialmente era alimentado por uma grande pilha “BA-279/U” com as tensões de 1,5v, 67.5v e 135v. Posteriormente aparecem inúmeros conversores de cc/cc, que uma vez ligados a uma baixa tensão (geralmente 6 ou 12v), fornecem as mesmas tensões da mencionada pilha (BA-279/U).
Esta forma de obter a energia necessária, era em termos gerais mais económica, pois numa pilha de uma única baixa tensão era muito mais barata e diminuía o problema da deterioração em armazém, como sucedia nas BA-279/U. Para uso veicular, em aeronaves, ou em fixo, realçamos três meios também utilizados em Portugal. Os dois primeiros substituíam totalmente a caixa da bateria, são eles: O alimentador/amplificador de áudio “AM-598/U” (USA), equipado de base elástica e previsto para ser ligado a 24v; o “PP 8910/PRC” com a mesma origem, e feito na firma “Codeco Inc.” similar á caixa original da pilha e com possibilidade de ser ligado a 6, 12, 24v c/c, 110, ou 220v c/a. Usámos também um alimentador feito pela “ACEC” (francês?) com a designação “PP. GI 1178” que para alimentar o conversor, levava 24 pilhas de 1,5v.
Em Julho de 1967 foi testado em Linda-a-Velha (DGMT), com aparente sucesso, um outro conversor substituto da pilha BA-279/U, com a designação “ATR-137”. Não conseguimos saber se este famoso conversor francês, oriundo da firma “Soc. Quartz et Electronique”, foi de facto alguma vez utilizado pelo nosso exército.
Portugal não ficará de fora na historia dos acessórios para o PRC-10. Apesar da comprovada operacionalidade de todos os referidos alimentadores é desenvolvido e fabricado no nosso País, em quantidade apreciável (pelo menos 40/50 unidades), um curioso conversor com a designação CTH-5001-BM. Fabricado no “Centro Técnico Hospitalar” (dados fornecidos na embalagem de origem e razão da sua nomenclatura). Apesar de termos visto dezenas de unidades novas, tivemos muita dificuldade em obter informações adicionais sobre o tipo de pilhas usadas e se estaria contemplado um suporte específico para as mesmas. Acrescentamos ainda que, após alguns testes feitos por nós, e contrariamente aos conversores anteriormente apontados, o CTH-5001-BM necessitaria de uma tensão de 6v para fornecer os tais altas voltagens (67.5v + 135v) sendo os 1.5v fornecidos separadamente por uma pilha individual. Apesar de tudo o que sabemos sobre este aparelho, muito gostaríamos de ouvir, da vossa parte, sobre o seu desenvolvimento e verdadeira forma de alimentação, assim como do real número de unidades fabricadas e se houve ou não um manual de fábrica.
Apesar de já vir referenciado no curso de transmissões para oficiais do exército de 1959/60, mas sendo realçado que naquela data ainda não estava ao serviço do exército, vamos encontrar o PRC-10 a caminho dos Dembos, em Angola, em 1961. Deixará o serviço activo nos três ramos das nossas Forças Armadas durante os finais de setenta, princípio de oitenta.
Notas :
(*) AN/PRC-8 e 8A de 20 a 27.9 Mcs (para blindados) não usado em Portugal
AN/PRC-9 e 9A de 27 a 38.9 Mcs (para artilharia) não usado em Portugal
AN/PRC-10 e 10A de 38 a 54.9 Mcs (para infantaria)
AN/PRC-28 de uma única frequência , não usado em Portugal
(As designações das armas onde seriam usados, apenas se aplicam aos EUA)
(**)Designações dos blocos electrónicos:
RT-174 no PRC-8
RT-175 no PRC-9
RT-176 no PRC-10
RT-399/PRC no PRC-28
Quando se trata de uma versão com o prefixo “A”, ao numero do RT é-lhe acrescentado o mesmo prefixo, o mesmo se passa com diversos acessórios e componentes
Ex.: RT-176A corresponde ao bloco electrónico encontrado no AN/PRC-10A