BREVES APONTAMENTOS HISTÓRICOS
Unidades de Aerosteiros

Pelo Cor Engº Bastos Moreira, in Jornal do Exército, Março de 1992

A Reorganização de 1911, publicada na Ordem do Exército n.° 11 – 1ª Série, de 26 de Maio de 1911, incluiu na Arma de Engenharia o Serviço Telegráfico Militar, o qual compreendia:

— A Inspecção do Serviço Telegráfico Militar

— A Comissão Técnica de Telegrafia Militar

— As tropas de Telegrafistas de campanha

— As tropas de Telegrafistas de praça

— As tropas de Telegrafia sem fios

As tropas de Aerosteiros

— A Secção Electrotécnica.

A Companhia de Aerosteiros, cujo comandante era o chefe do Serviço de Aerostação e Pombais Militares, tinha a seu cargo os trabalhos relativos ao estabelecimento de comunicações por meio de aerostação e aviação e de pombos-correios.

Os Aerosteiros utilizavam “balões cativos” que foram muito empregados na Grande Guerra de 1914-18, em que eram apelidados de “salsichas”.

A sua finalidade principal era a de constituir um bom Posto de Observação; o observador instalava-se na barquinha suspensa do balão. Este ligava-se à terra por meio de um cabo de aço fixado à viatura que o transportava.

A sua fragilidade estava no perigo latente de serem atingidos por projécteis incendiários que poderiam provocar a explosão do gás utilizado para o seu enchimento.

Outra finalidade deste material foi a de constituírem barragens passivas contra aviões, formando como que redes aéreas com os cabos de aço de ligação à terra e de ligação entre si.

Os aerosteiros tiveram, como atrás foi descrito, origem na Arma de Engenharia, tendo transitado em 1924 para a Aeronáutica Militar, vindo a constituir uma Companhia de Aerostação de Observação, que mais tarde se transformou em Batalhão de Aerosteiros, Unidade com características muito especiais e de grande prestígio.

Do ponto de vista de Observação, a sua valiosa colaboração todas as Armas ficou bem patente em muitos exercícios realizados especialmente em Torres Vedras, Sintra, Albarraque e outras localidades.

Com o apontamento histórico desta vez apresentado foi nossa intenção confirmar de novo o lema já anteriormente expresso “Deve viver-se atentamente o Presente com olhos postos no Futuro. É no entanto bastante útil conhecer-se um pouco do Passado”.

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Nota: Este facto vem igualmente referido no livro da CHT sobre a História das Tm, de que se transcreve o seguinte parágrafo:

“A reorganização republicana do Exército trouxe como novidade, no campo das transmissões, a criação de uma Companhia de TSF e de uma Secção Electrotécnica, à qual competiam os trabalhos e ensaios técnicos dos diversos ramos do Serviço Telegráfico Militar. Era dirigida por um capitão. Foi igualmente criada uma Companhia de Aerosteiros, destinada à observação do campo de batalha, cujo comandante era também o chefe do Serviço de Aerostação e Pombais Militares, interligando as duas actividades. A Inspecção dos Telégrafos Militares passou a designar-se por Inspecção dos Serviços Telegráficos Militares.”

Exercícios em Tancos com um Balão de observação da Compª de Aerosteiros
Exercícios em Tancos com um Balão de observação da Compª de Aerosteiros (correção – da Inspeção do serviço telegráfico de guarnição, de aerostação e de pombais militares – ver comentários)

Acrescenta-se agora que a Companhia de Aerosteiros foi instalada inicialmente em Tancos (EPE), dotada de balões de observação e de balões de barragem (cativos), sendo posteriormente transferida para Vila Nova da Rainha, onde, em 16 de Novembro de 1913, recebeu aquele que foi o primeiro avião militar português, oferecido pelo TCor brasileiro Albino Costa, português emigrado e radicado no Brasil, um Deperdussin B, fabricado pela Société de Production des Aéroplanes Deperdussin, mais tarde (depois de adquirida por Louis Blériot), designada por Société Anonyme Pour l’Aviation et ses Derivés (que fabricou os famosos e numerosos SPAD S.XIII da Grande Guerra).

O Deperdussin B da Compª de Aerosteiros, aqui com as asas desmontadas
O Deperdussin B da Compª de Aerosteiros (com as asas desmontadas) em Vila Nova da Rainha

Em 1914 foram criados o Serviço Aeronáutico Militar e a Escola Militar de Aeronáutica (EMA), que foi instalada junto à Companhia de Aerosteiros, em Vila Nova da Rainha. O Deperdussin B, que voou pela 1ª vez ao serviço da Escola em 17.07.1916, foi abatido à carga ainda em 1916 (mas já ao serviço da EMA) e a Companhia de Aerosteiros foi integrada no Serviço Aeronáutico Militar em 1918.

A Companhia de Aerosteiros do Serviço Telegráfico Militar foi portanto a primeira unidade portuguesa a ser dotada com balões e aviões militares, constituindo-se portanto, de algum modo, como a precursora da aviação militar em Portugal.

4 comentários em “Os Aerosteiros, balões, aviões e as Transmissões

  1. Este post trouxe-me a novidade de que a Companhia de Aerosteiros teve o primeiro avião militar em Portugal.
    Na net obtive a plena confirmação deste facto mas tive oportunidade de encontrar breves notas de pormenor que julgo interessante apresentar aqui sobre o avião Duperdussin B, as circunstâncias em que apareceu em Portugal e a forma como, possivelmente, foi utilizado.

    O avião Deperdussin B
    O avião, fabricado pela firma francesa Société de Production des Aéroplanes Deperdussin que existia desde o ano 1911 e foi a primeira que se dedicou ao fabrico em série de avões. O Deperdussin tipo B atingia a velocidade de 170 km/h. Em Março de 1911 bateu record do mundo de velocidade de Bussomn a Paris e ganhou os percursos Paris-Lile e 320 km e Calais-Paris de 250 km. (1)

    O seu aparecimento em Portugal
    O aparelho foi oferecido ao governo português, em 1912, por intermédio do jornal “ Século”, pelo coronel brasileiro Albino de Costa como prova do não esquecimento, das suas origens (Cedrim, Sever do Vouga).. (2)

    A sua utilização em Portugal
    O avião concorreu ao Concurso Internacional de Lisboa, em junho de 1913, pilotado pelo francês Alexandre Sallés (3). ( A Ilustração Portuguesa publicou uma foto do evento).
    O avião foi depois incorporado na Companhia de Aerosteiros (então em Vila Nova da Rainha) , donde transitou, em 1916, para a Escola de Aeronáutica Militar, situada nas proximidades. (4) (5)
    Entre 1913 e 1916 não consegui encontrar elementos sobre a utilização do avião pela Companhia de Aerostação, ou se esta se limitou a conservar o aparelho.
    Depois de 1916, já na Escola de Aeronáutica Militar, realizou o primeiro voo oficial em 17 de Julho desse ano, tripulado por Santos Leite. Depois foi utilizado como avião “rolador” (ou “pinguim”) para treino no solo, com os extremos das asas cortados. (6)

    (1) http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/08/primeiros-aeroplanos-em-portugal.html

    (2) http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/08/primeiros-aeroplanos-em-portugal.html

    (3) http://ex-ogma.blogspot.pt/2009/03/avioes-da-am-deperdussin-b.html
    http://www.oocities.org/aeromodelismoemportugal/deperdussin.htm

    (4) http://www.oocities.org/aeromodelismoemportugal/deperdussin.htm

    (5) A Escola de Aeronáutica Militar foi criada em 1914 em Vila Nova da Raínha mas só começando a funcionar efetivamente em 1916.
    http://www.portugal1914.org/portal/pt/historia/instituicoes/item/5273-escola-de-aeron%C3%A1utica-militar

    (6) http://www.oocities.org/aeromodelismoemportugal/deperdussin.htm

  2. A primeira foto – legendada “Exercícios em Tancos com um Balão de observação da Compª de Aerosteiros” – mostra a antiga Bandeira Nacional da época da Monarquia arvorada no balão. É portanto uma fotografia anterior a 5 de outubro de 1910.

    Sendo assim, é uma aparente evidência que os balões já eram usados no Exército Português antes do estabelecimento da Companhia de Aerosteiros pela organização republicana do Exército de 1911.

    Aliás, a organização do Exército de 1899 (Decreto de 7 de setembro de 1899) já definia no artº 25º que “O serviço da arma de engenharia compreende… o serviço de pontes, pombais e aeróstatos militares… ” Além disso, refere, no seu artº 36º, que “Junto à direção geral do serviço de engenharia será organizada a inspeção do serviço telegráfico de guarnição, de aerostação e de pombais militares,…”

    A arostação militar portuguesa poderá assim ser mais antiga do que do que é normalmente referido, o que merece uma investigação mais aprofundada.

  3. Excelente artigo sobre as Unidades de Aerosteiros. Estou procurando informações sobre o período de 1916 até à sua extinção em 1937, em Alverca, mais precisamente sobre quem construiu o hangar de balão concluído em 1927. Num jornal de 1924, era referido que os balões eram mantidos ao ar livre, sujeitos às intempéries, advogando-se a construção dum hangar modelo italiano (?) para os proteger.

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