Os Pombos-correio desempenharam um papel vital na Grande Guerra, pois provaram ser um modo extremamente confiável de enviar mensagens, dada a ineficácia dos sistemas de transmissão à distância então existentes. Tal era na altura a importância dos pombos, que mais de 100 mil foram utilizados durante a guerra de 1914-18, com uma surpreendente taxa de sucesso de 95% a conseguirem chegar até ao seu destino, com a sua mensagem, apesar de milhares terem sido abatidos a tiro, ou mortos por falcões e outras aves de rapina empregues por ambos os lados.
Na primeira batalha do Marne (SET1914), os franceses tinham no terreno 72 pombais. À medida que o exército francês avançou, os pombais de campanha avançaram com ele, mas muitos dos pombos estavam “em serviço”, levando mensagens, e nunca poderiam saber para onde o seu pombal se tinha mudado. Incrivelmente, todos os pombos “franceses” no Marne regressaram aos seus pombais – apesar de terem tido que voar “às cegas”, sem saber para onde o seu pombal fora deslocado.
Todos os países envolvidos na frente oeste os utilizaram intensivamente, desde os alemães, aos franceses, belgas e ingleses, mas também aos portugueses. Uma vez que o CEP, que integrava uma Secção de Pombais Militares, estava integrado no exército inglês, muita da instrução e muitas das normas e instruções, nomeadamente na área das Transmissões, eram inglesas.
No AHM (1ª Div, 35ª Sec, respeitante ao CEP – Corpo Expedicionário Português), encontra-se guardada uma curiosa transcrição para português de uma dessas instruções, com referência, nomeadamente, ao procedimento a adoptar para protecção dos pombos com sacos específicos, em caso de ataque com gás:
Maj.R.E.
S.D.Signals,XI Corps
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Carga de cestos, etc., por Divisao:
12 – cestos modelo de Infantaria
72 – portadores de mensagens
6 – livros de mensagens
6 – livros de mensagens de reserva
6 – sacos anti-gaz
Instrucoes dadas aos “pombeiros”.
1. Ser-lhe-ha dito para onde tera que ir, pelo oficial sinaleiro da Brigada.
2. Os pombos so podem ser soltos entre as 6 da manhã e as 6 da tarde.
3. Os pombos nao devem ser alimentados nas primeiras 24 horas em que tenham saido dos pombais.
4. De-lhes muita agua.
5. Quando enviar uma mensagem, note que leve o numero do pombo e a hora da largada. De a outra copia ao oficial que manda a mensagem e destrua o papel chimico imediatamente.
6. Quando houver alarme de gaz ponha o cesto dentro do saco contra o gaz e conserve-o absolutamente fechado ate precisar usar os pombos. Uma vez soltos os pombos subirao imediatamente para cima do gaz.
7. Veja onde esta o cesto dos pombos de modo a poder ir busca-los quando precisar.
8. Trate os pombos carinhosamente; quando forem necessarios eles serao provavelmente o unico meio de comunicacao que resta.
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Carta circular n.6 do Sub-Director dos Sinaes.
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4/7/916
(a) Maj. R. E.
S.D.Sinaes. XI Corpo
Finalmente, uma imagem da transcrição da msg e de um posterior livro sobre o mais famoso episódio da GG envolvendo um pombo (Cher Ami), já aliás mencionado no post O Pombo Correio (2)
“For heavens sake stop it”:
Apenas dois breves comentários a mais este interessante post do coronel Canavilhas sobre a utilização de pombos-correios pelo Corpo Expedicionário Português(CEP).
O primeiro é para recordar que o sistema de transmissões utilizado pelo CEP, embora fosse o inglês, como o post indica, dos mais aperfeiçoados que existiam na época, era incapaz de responder em alturas críticas, nomeadamente após as prolongadas preparações de Artilharia que antecediam os ataques. Com efeito, sendo o uso da rádio ainda muito limitado, os meios mais utilizados na Grande Guerra eram o telefone, o telégrafo e os meios óticos. Os primeiros desapareciam com o corte das linhas e os meios óticos com os fumos e poeiras que a intensa preparação de artilharia provocava. Os pombos-correios eram o meio de recurso. Mas como eram em quantidade limitada, não davam para muito tempo. Na Batalha de La Lys em pouco tempo, o CEP deixou, praticamente, de ter as transmissões a funcionar. Depois do pombo-correio ainda havia o mensageiro…
A segunda observação é que o sistema de pombos-correios que foi usado pelo CEP foi o inglês. Os ingleses forneceram inclusivamente os pombos-correios, embora Portugal tivesse, desde 1880, o seu sistema próprio de pombais militares.