Para além do tratamento metódico e cuidadoso que vai sendo feito, pela nossa comissão, sobre a participação das Transmissões na Grande Guerra, julgo ter cabimento o relato de pormenores que ajudam a compreender o empenhamento do nosso soldado e a sua adaptação a situações novas.
A primeira situação, extraída do livro (A Batalha do Lys, 9 de Abril de 1918 do Gen. Gomes da Costa), por um lado reflete as condições em que as nossas tropas entraram em combate, por outro reflete a capacidade de resposta, o denominado desenrascanço do nosso soldado:
“…Não é fácil fazer uma simples patrulha na Terra de Ninguém. A linha formada pela 1ª linha das trincheiras descreve várias curvas, conforme o terreno. As sapas partem daí na direcção da 1ª linha inimiga, e na sua extremidade colocam-se, de noite, postos ou patrulhas de escuta que se ligam às vedetas do parapeito.
Em tempos antigos, quási preistóricos, quando os ingleses ocupavam a linha, essas ligações eram feitas por telefone; mas depois, no nosso tempo, não havia telefone: Inventaram, porém, os nossos gambúzios, um simples económico e prático; um simples cordel; uma extremidade amarrava-se ao pulso da sentinela, a outra ao do comandante da patrulha; uma puxadela queria dizer-inimigo pela frente; duas significavam que aparecia à direita etc.”
A outra situação, extraída do livro (Portugal na Grande Guerra, direcção do General Ferreira Martins) dá-nos conta da nossa capacidade para ultrapassar obstáculos, e do espirito de sacrifício, pois estou convencido que os bons resultados se deveram a muito trabalho e vontade de vencer.
“Em Janeiro de 1918 foram pedidos ao C.E.P. 32 soldados, não analfabetos, para a frequência do curso de duas semanas de observador e atirador especial na Escola de Observadores do 1º Exército (First Army Scouting, Observation and Sniping School – 1st Army S.O.S. School ). Não foi possível obtê-los. Foram analfabetos e, com grande surpresa dos instrutores britânicos, os soldados portugueses dispensaram tanto cuidado à instrução que, no fim do curso de 2 semanas, no concurso geral com as praças britânicas, os portugueses obtiveram o 2º, 4º e 5º lugares, além doutros. O ultimo classificado não foi um português e os portugueses foram muito felicitados por este resultado”.
Gostei de ler esta nota.
obrigado