Enquadramento:
A 16 de Setembro de 1856, dia da acclamação de Sua Majestade El-Rei o Senhor D. Pedro V, inauguraram-se as primeiras linhas. Assim, em 1856 achava-se estabelecida entre nós a telegraphia eléctrica, tendo-se aproveitado para esse fim os empregados da telegraphia visual (militares do Corpo Telegráfico, criado em 1810 e extinto em 1864). N’esse mesmo ano foram construídas as linhas de Lisboa ao Porto e Elvas, mas só em 1857 (25 de setembro) se effectuou em Badajoz a ligação das nossas linhas com as hespanholas.
Em 1890 a rede telegraphica do estado no continente e ilhas adjacentes tinha 6.830 kilometros de extensão, com um desenvolvimento de fios conductores de 14.663 kilometros, ligando 395 estações. Em 1896 estendia-se (apenas no continente) por 7.160 kilometros, com cerca de 15.000 kilometros de fios condutores e 391 estações.[1]

Destas, 12 eram estações semaphoricas (situadas ao longo da costa, destinavam-se ao serviço de correspondência telegraphica com os navios, e a transmitir aos navegantes a hora e as indicações do tempo provável): Cabo Carvoeiro, Cabo Espichel, Luz/Foz do Douro, Vianna do Castello Oitavos, Cascaes e Sagres (7 no Continente); Ilheu, Ponta de S. Lourenço e Ponta do Pargo (3 na Madeira); Ponta da Ferraria e Ponta do Arnel (2 nos Açores, apenas em S. Miguel).

Já em 1871 a Falmouth Gibraltar and Malta Telegraph Company, autorizada a estabelecer uma ligação entre Carcavelos e Vila Real de Santo António, para daí seguir para Gibraltar por cabo submarino (contratos de 18MAR1870 e 15ABR1871), lançara um cabo sub-fluvial (6 condutores, dos quais 4 para serviço do Estado português) entre a estação do Bom Sucesso, em Lisboa, e a Torre velha, Barreiro, na margem sul, e uma ligação aérea, ao longo do caminho de ferro, até Beja, e daí, por Mértola, até ao destino. Na margem norte ligava-se à estação de Carcavelos, onde amarrava um cabo para Falmouth, por linha aérea.

Marco hoje guardado na Fundação Portuguesa das Comunicações
Marco hoje guardado na Fundação Portuguesa das Comunicações

Poucos anos depois, foram lançados dois cabos sub-fluviais entre a Torre de Belém e Porto Brandão, para a travessia do Tejo, com 4 condutores e cerca de 2 km cada um (lançados em 1885 pela Eastern Telegraph Cº), existindo igualmente um cabo sub-fluvial internacional de Vila Real de Santo António a Ayamonte e 10 cabos submarinos, dos quais 2 para a Madeira (com 1.170,464 km e 1.161,204 Km, lançados em 1874 e 1882 pela Brazilian Submarine Teleg Cº) e…
1 para os Açores (com 1.616,592 Km, lançado em 1893 pela Telegraph Construction and Maintenance Cº e transferido em 15 de Abril de 1895 para a The Europe and Azores Teleg Cº, subsidiária da Eastern, ligando a praia de Carcavelos, Lisboa, à praia do Pópulo, Ponta Delgada e à praia da Alagoa, Horta).

Vários foram os sucessivos contratos assinados pelo governo português para o estabelecimento da ligação aos Açores, fruto da luta entre as principais potências da época, nomeadamente a Inglaterra, que dominava os mares e as ligações submarinas, e a França, primeiro, e depois os EUA e a Alemanha.

O seguinte documento apresenta as principais condições para aquela ligação atlântica, primeiro contratadas com a Societé française des télégraphes sousmarins em Junho de 1892, que estabelecia o dia 1ABR1893 como data limite para a abertura do serviço telegráfico, data que não viria a ser cumprida, dando origem à sua anulação, seguida de sub-contratação e nova anulação, até ao contrato final efectivo acima referido.

Àqueles cabos submarinos acresciam mais 4 nos Açores, entre Faial e Pico, Pico e Terceira, Pico e S. Jorge, S. Jorge e Graciosa, sempre incluídos nos vários contratos e finalmente todos lançados em 1893. Só a também prevista ligação às Flores não se efectivou então (Em tempo – tal como nos nossos dias, em que um cabo submarino de FO só chegou ao grupo ocidental em OUT2013, na sequência de contrato assinado pelo governo da República em MAI2011).

Material telegráfico então em uso:
– Linhas telegráficas: fio de ferro galvanizado de 2, 3 e 4 mm de diâmetro;
– Isoladores: de porcelana branca (de dupla saia), apenas se usando de ebonite nas entradas de algumas estações;
– Postes: de pinho ou castanho, excepcionalmente de outras madeiras como eucalipto, carvalho, etc. De 8 a 10 m de altura, os de pinho eram injectados de sulfato de cobre ou creosote, ou carbonizados superficialmente. Diâmetros na base de 20 a 24 cm, e no topo de 12 a 14 cm, conforme a altura (8 ou 10 m). Os militares eram aguçados na ponta e pintados com duas faixas, uma vermelha e outra preta;
– Aparelhos escreventes: Morse (constituído por Manipulador e Receptor), ou Hughes, mais complexos, mas mais rápidos que os anteriores, e apenas em uso na ligação para Madrid e nas linhas directas entre Lisboa, Porto e Coimbra. Os militares apenas usaram os de Morse;
– Aparelhos acessórios: Relais, Translators, Despertadores de linha, Comutadores (de disco, ou os suíços; os militares usavam os de cavilhas ou chaves), Bussolas, Pára-raios e Pilhas (dos tipos Minotto, Leclanché de vaso poroso, ou Leclanché de placas aglomeradas).

Nos Açores, a descontinuidade territorial sempre foi um problema, para as comunicações, para a quebra do isolamento das populações, para o auxílio em caso de ataques vindos do mar, ou em situações de catástrofes naturais, e para o exercício da governação. O início da telegrafia eléctrica nos Açores, aqui referido neste texto de 1895, teve, por estes motivos, a maior importância:

Rede telegráfica (e telefónica) de S. Miguel em 1895.
Note-se as duas estações semafóricas assinaladas.
Rede telegráfica e ligações inter-ilhas no Grupo Central (1895)

[1] Carneiro, Carlos Augusto de Sá, Ten de Engª, in Linhas Telegraphicas do Continente do Reino, Ilhas adjacentes e Províncias Ultramarinas, 1897, EPE

2 comentários em “O início da Telegrafia eléctrica nos Açores

  1. Apenas algumas observações Penso que o Tenente Sá Carneiro ao referir-se a semáforos nas ligações com os navios está a considerar telégrafos óticos semelhantes com um mastro no qual se içavam bandeiras, galhardetes e um balão como se refere a pág. 11 do livro da CHT “Bicentenário do Corpo Telegráfico”.

    O Tenente á Carneiro foi um dinâmico o0ficial de Engenharia, de grande dinamismo na área de Transmissões que, quanto a mim bem merecia que a CHT elaborassre a sua biografia.

    O texto do tenente Sá Carneiro não permite esclarecer a data do início da telegrafia ótica nos Açores. Com efeito, o ano de 1893 que indica, refere-se à ligação por cabo submarino dos Açores ao Continente, sendo provável que. as ligações telegráficas internas de cada ilha já existissem. Julgamos, contudo, que teria que ser depois de 1864 pois não temos notícia que o Corpo Telegráfico tivesse ligações fora do Continente, donde resultaria que os telégrafos eletricos nos Açores teriam sido montados pelos Telégrafos do Reino, o que talvez possa ajudar a pesquisa do ano em que foram montados nos arquivos açorianos..

  2. As estações semafóricas, eram, como se diz no texto, estações DA REDE DE TELEGRAFIA ELÉCTRICA, que depois transmitiam para os navios por meio da telegrafia visual (nem de outra forma poderia então ser).
    Quanto à data de início da telegrafia eléctrica nos Açores, foi certamente 1893, pois foi nessa data que foram lançados, não só o cabo de ligação a Lisboa, como todos os outros inter-ilhas, e quatro anos depois, em 1897 (os mapas são de 1895, mas a publicação é de 1897), não havia ainda verdadeiramente nenhumas redes internas (a não ser em S. Miguel, com 8+2 estações telegráficas, e na Terceira, com uma ligação de Angra a uma estação na Praia da Vitória), mas apenas as linhas de ligação entre as estações e os locais de amarração dos cabos. Contudo, já em 1881, por ex., a CM do Nordeste pedia que um posto meteorológico, uma estação semafórica e um telégrafo eléctrico fossem instalados no Farol do Arnel, inaugurado em 26NOV1876 (o que veio a ser feito).

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