Post do nosso leitor sr João Freitas, recebido por msg:
A saga do nosso conhecido AN/GRC-9 é complexa e muitas das vezes desconhecida. Confundido muitas vezes com o SCR-694, de onde provém e que, como dissemos num anterior artigo, também tivemos numerosos exemplares, foi posteriormente copiado na China, na União Soviética, na Jugoslávia e em Itália. Será do modelo italiano que tentaremos falar neste pequeno artigo. Quando nos referimos a cópias, não falamos de toda uma produção realizada sob licença, mas sim a verdadeiras tentativas, melhoradas ou não, de reproduzir um vencedor.
Pensamos que o aparelho que vos trazemos agora é, no dia de hoje, completamente desconhecido. Vindo em pequenos números para o nosso Exército e Marinha de Guerra teve uma permanência tão efémera quanto interessante foi a sua história e a história do seu fabricante, a I.R.E.T. italiana!
Presumimos, pelo muitíssimo pouco que existe sobre este raro rec./trans., que deverá ter chegado às nossas fileiras mesmo no final da década de sessenta, principio de setenta (1971?). Tivemos conhecimento dele por uns quantos “esqueletos” em sucateiros, algumas fotografias de testes e de fábrica, e de dois exemplares completamente novos e com todos os seus acessórios, salvos da ira do terrível martelo . . .
A “ I.R.E.T.” é criada por Vladimir Spacapan, um italiano de origem sérvia. Nesta sociedade estava presente capital (minoritário 49.89%) de origem jugoslavo, representado pela firma suíça “Multihold A.G.”. De certa forma explica-se, por isso, e pela proximidade territorial, a existência de fábricas “I.R.E.T.” na antiga Jugoslávia (sob o nome “BERO”, “ELECTRA” ou “ISKRA”) que fabricavam aparelhos exatamente iguais a alguns dos aparelhos que passaram, em boa hora, por Portugal. Embora seja “fumo da nossa chaminé” quem nos diz que alguma desta produção não terá ido parar às mãos de alguns exércitos independentistas que, então, estavam em guerra connosco (1961/74)? A confirmar-se isto, o senhor Spacapan venderia a toda a gente e viveria mais ou menos feliz…
Este I.R.E.T. (desconhecemos a sua verdadeira designação) foi um excelente exemplo do que foi dito no parágrafo anterior tendo sido também manufaturado na Jugoslávia com a designação “RUP-4”, sendo os dois aparelhos exatamente iguais. Os seus volumes e parecenças exteriores com o AN/GRC-9, assim como de alguns dos seus acessórios, são gritantes. Apesar de serem similares exteriormente, todo o bloco eletrónico era diferente do modelo americano, recorrendo a sistemas transistorizados mais modernos e de mais fácil alimentação. O recetor (1R12 Mod H) era posto a trabalhar com duas pilhas de 4.5v e o transmissor (T20) com uma unidade exterior (TN20) fornecedora das tensões necessárias. A gama de frequências (HF) era a mesma do GRC-9.
Muito gostaríamos de saber mais sobre a permanência deste aparelho em Portugal. Esperamos que com a vossa imprescindível colaboração se vá deslindando toda uma história ainda por escrever.
Creiam-nos não estarmos a falar de forma doutoral, como sabedores de uma verdade absoluta. Apenas tentamos lançar bases para se iniciarem mais discussões construtivas que nos levem à aproximação de uma verdade. O tempo vai passando, as memórias, assim como as pessoas vão-se, naturalmente, perdendo e se não se aproveita o que ainda resta e se escreve sobre um passado tão recente como desconhecido, o nosso futuro histórico ficará minimizado.