As forças policiais da União Indiana invadiram a Índia Portuguesa em 22 de julho de 1954, ocupando os enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli, no distrito de Damão. A resposta de Portugal resultou no envio imediato de razoável contingente de Forças Armadas onde se incluiu o Batalhão de Caçadores “Vasco da Gama” (BCVG).
Esgotadas as ações diplomáticas, policiais e económicas a União Indiana iniciou o processo bélico para finalizar o conflito que desde 1947 preocupava Portugal e a política anticolonial da União Indiana. Entre 1947 e 1961 os militares portugueses empenharam-se na defesa e desenvolvimento da Índia Portuguesa, pouco tendo influenciado o “desarmamento” político e militar concretizado na redução de 12 000 efetivos em 1954/1957 para 3 200 existentes em 1961, quando se deu a invasão final.
Em 8 de setembro de 1954, partiu no navio Serpa Pinto todo o BCVG (em 09 de agosto já tinham partido noutro navio as primeiras companhias do Batalhão de Caçadores “da Índia”). Os militares do Batalhão, quadros e tropas, sabiam que iam para a guerra.
Os oficiais oriundos da Academia Militar mais novos, eram Alferes de Infantaria de 21/22/23 anos. Nesta comemoração esteve connosco o único vivo, 91 anos, o Major-general Pedro Pezarat Correia. No Batalhão havia cerca de 60 especialistas de transmissões, eu era o militar mais novo do Batalhão, tinha 18 anos, na altura 2.º sargento de Engenharia com o curso de Radiomontador.
As razões da formação e mobilização do Batalhão de Caçadores “Vasco da Gama”, na Escola Prática de Infantaria (Mafra) e da sua ação militar, social e cultural, realizadas na Índia Portuguesa de 1954 a 1957, merecem investigação para a qual é relevante o trabalho do Tenente-general (oriundo de Infantaria e do Estado-Maior) José Lopes Alves, publicado na Revista Militar – “Estado Português da Índia. Eventos da década de cinquenta anterior à invasão do Estado pelas Forças Armadas da União Indiana em 18 de Dezembro de 1961 – REMEMORAÇÃO PESSOAL”.
Importa recordar que foram as Forças Militares e Policiais da altura (respondemos pelo período 1954/57) que durante patrulhas perto da fronteira, enfrentaram os tiros de intimidação vindos da União Indiana, as invasões pacíficas dos “satyagraha”, as manobras do Exército da União Indiana (preocupações com a potencial guerrilha do movimento de libertação de goa “Azad Gomantak Dal”) e os primeiros ataques ao comboio, cuja escolta era missão permanente do BCVG.
Perante este quadro há que reconhecer que os jovens do Serviço Militar Obrigatório mobilizados para o Estado Português da Índia, viveram tempos difíceis de 1954 a 1957, cumprindo nessa situação sete meses, para além da expedição normal de dois anos, merecem que lhes seja feita justiça.
A História da importância do desempenho das tropas portuguesas no período 1954/1957 (12 000) e o que se foi passando no território a partir de 1958/1959 até à invasão, em 18 de dezembro de 1961 (3 200 militares), precisa da nossa colaboração e merece investigação académica. (no âmbito do trabalho desenvolvido pela Comissão de História das Transmissões Militares, escrevi “Memórias da Organização e Atividades das Transmissões no Estado Português da Índia – 1954/57”)
A fim de comemorar o 70.º aniversário da partida do Batalhão de Caçadores “Vasco da Gama” para a Índia Portuguesa, realizou-se um encontro de expedicionários na Escola das Armas. No início, houve a “Cerimónia de homenagem aos mortos”, participou o Capelão da Escola das Armas, Capitão Costa. Depois a visita histórica com onze passagens, começou no “Salão D´ Nuno Álvares” e terminou na “Sala dos Atos”. Aqui aconteceu excelência nas intervenções do 1.º Sargento de Cavalaria Gomes, que assumiu a tarefa com elevada competência em História e em Comunicação. Por fim, “Descerramento da placa alusiva ao evento” e “Fotografia de grupo em frente à Porta de Armas da Escola das Armas”.
Nesta ocasião, o que me parece de mais enaltecer nestas comemorações é a participação de 5 expedicionários e 33 familiares (onde se inclui um menino de quase um ano e uma menina de quase quatro). Agora, importa Fazer Saber que esta Comemoração foi de imediato apoiada pelo Comandante da Escola das Armas, Brigadeiro-general Paulo Lopes da Silva e, de imediato, aperfeiçoada pelo Tenente-coronel de Infantaria, Mário Maia, Chefe do Gabinete do Comandante da Escola das Armas.
Por último, como oficial da Arma de Transmissões, na situação de reforma (88 anos), mas ainda ligado à vivência militar, sinto o dever de afirmar que a juventude portuguesa (homens e mulheres) presente nas fileiras, toda voluntária, continua a dar resposta positiva à afirmação de Portugal na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), União Europeia, NATO e ONU. Os jovens militares sabem que as Forças Armadas são uma Instituição Coletiva, com muito para lhes oferecer sobre valores, cidadania, experiência de vida solidária, motivação, liderança e aprendizagem de conhecimentos (qualificações) vitais para obter competências inovadoras.