Post do MGen Pedroso Lima, recebido por msg:

Este post surge na sequência de uma visita guiada à exposição “360º Ciência Descoberta”, que se encontra patente ao público, na Fundação Gulbenkian,  e  que tive o prazer de acompanhar.

A designação “360º” reporta-nos à época em que Portugal e Espanha repartiram equitativamente o mundo que havia para descobrir (180º para cada um).

360O objetivo da exposição é salientar a contribuição, praticamente ignorada, do conhecimento científico de Portugal e Espanha, na época dos descobrimentos, para a revolução científica que se verificou posteriormente no séc XVII e que apenas se considera ligada a grandes figuras como Copérnico, Galileu, Descartes, Bacon e Newton.

O comissário da exposição, Dr. Henrique Leitão, proporcionou-nos uma brilhante visita guiada. Não cabe aqui referir o seu conteúdo, limitando-me apenas a aconselhar vivamente a visita à exposição por ser de enorme qualidade, transmitir conhecimentos de forma muito agradável, referir aspetos altamente positivos do passado nacional, e  que só estará patente ao público até ao dia 2 de Junho.

Neste Blogue parece-me interessante, contudo referir a metodologia que o comissário esclareceu ter adotado para a realização desta notável exposição.

Em primeiro lugar afirmou que não tinha adotado aquilo que chamou o “processo normal” que seria o de o comissário estabelecer uma narrativa para a exposição e os seus colaboradores que designou por designers se encarregarem de ilustrar através da exposição  dos objetos escolhidos.

Não foi isso que fez pois pura e simplesmente não estabeleceu previamente nenhuma narrativa inicial. O que lhe interessava sobretudo era transmitir várias ideias essenciais de uma forma interessante e cativante para o público. As mais importantes eram focar o período medieval que antecede os descobrimentos, a forma como foi construída a ciência náutica, a cartografia e as mudanças provocadas pela navegação oceânica nomeadamente  um novo olhar sobre o mundo e sobre a natureza,

Para este efeito a narrativa foi sendo construída a pouco e pouco. Todas as semanas havia reuniões de toda a equipe e todas as semanas havia progressos na exposição.

Durou quatro anos a fazer. É uma exposição coerente e em que as coisas “encaixam bem umas nas outras” e em que o visitante sai de lá com a certeza de que aprendeu coisas importantes.

É evidente que a exposição, como muitas outras, muito ganhou com a superior forma como foi orientada a visita guiada. Quanto a isso o comissário esclareceu que teve a preocupação de orientar pessoalmente a preparação dos guias que executam, todos os dias, essas visitas.

O segredo desta exposição está, assim, em ter-se conseguido a excelência, através de um excelente trabalho de uma vasta equipe, e que resultou em todos os aspetos. Não deixem de a ver. O comissário referiu que “só considera que valeu a pena fazer a exposição se cada visitante tiver sido surpreendido em 2 ou 3 coisas”

Eu surpreendi-me muito mais do que isso, pelo que aconselho a quem não puder ir à exposição, pelo menos ouça o seu comissário no filme 360º (“clicar” aqui).

2 comentários em “Museologia (3)

  1. Excelente e oportuno post. Agradeço ao excelentíssimo major-general engenheiro Pedroso de Lima, não só a informação respeitante à conveniência na visita como a oportunidade de observação imediata do filme “360º ciência descoberta”. Para além do conteúdo ficou-me a metodologia seguida na organização da exposição como prova do muito que se pode fazer ao nível da Comissão da História das Transmissões para demonstrar à hierarquia das Forças Armadas a conveniência em dinamizar em termos académicos o envolvimento de militares na área da Museologia.

  2. Em relação à sugestão da conveniência de envolver militares de transmissões na área da museologia lembro que é uma solução a prazo pois uma licenciatura ou um mestrado demora alguns anos a fazer.
    A solução a curto prazo teria que que ser a de “aprender a fazer museologia fazendo”, como a Comissão fez na área da história, mas para isso era preciso uma disponibilidade das pessoas para trabalhar em conjunto, ou “trabalhar em rede” que julgo estar longe de se poder concretizar..

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