Sargento-Mor Tm (reserva), Carlos Manuel Sousa Narra

Como pertencia á equipa da CTm3 Nampula apenas posso relatar a vivência e factos ocorridos nesta Região. A equipa da CTm3 era composta por 9 militares: 3 Sargentos-ajudantes Margarido, Franco e Caetano, 2 Primeiros-sargentos Narra e Osório e 4 Primeiros-Cabos Marinheiro, Gordo, Mechas da Silva e Luís Silva e ficamos hospedados na Pensão Roças.

Recordo a forma carinhosa e entusiasta com que fomos recebidos pela população, sobretudo os mais pequenos cujos comportamentos simples e inocentes, mostram um retrato carregado de abordagens tradicionais típicas dos moçambicanos. As considerações que se possam fazer daqueles momentos e o contexto dos mesmos, de modo geral, são a demonstração de um passado comum e respeito mútuo entre o português e o moçambicano.

A missão desta equipa tal como as equipas destinadas á Cidade da Beira e de Maputo, centrava-se na montagem e instalação de meios Rádio para comunicação entre estas cidades onde se encontravam os QG’s

Em Nampula o QG domiciliava-se no Hotel Tropical. Para persecução dos objetivos da missão, foram dimensionadas e instaladas antenas dipolo e o terminal de Satélite INMARSAT no terraço do referido hotel. Os equipamentos rádio (E/R PRC-301), numa sala do 1º piso que estava destinada ao Centro de Comunicações de apoio ao Comando da Região.

Apenas ao terceiro ou quarto dia, não consigo precisar, foi possível estabelecer comunicação com Maputo, Beira e também com Lisboa (RTm), não necessariamente por esta Ordem. Os restantes dias foram usados na procura das diferentes frequências que ao longo do dia nos permitia manter a comunicação durante as 24 horas, pois tratando-se de comunicações em HF, as variações sinal ruido dependem das mudanças que ocorrem na ionosfera ao longo do dia e com as condições climatéricas.

Foram também efetuados reconhecimentos. Primeiro á zona onde iria acantonar a Companhia junto ao Aeroporto (nas antigas instalações dos paraquedistas do tempo do Ultramar) ao lado da Unidade Logística do Bangladesh, depois ao local onde se poderia efetuar a captação de água para abastecer a companhia que ficava na estrada de acesso á Barragem, dado que em Nampula naquela altura apesar da existência de infraestruturas para abastecimento de água á cidade as mesmas estavam inoperacionais, devido á idade e estado degradado das condutas e demais infraestruturas, e, por fim ao Instituto, também perto da zona da barragem, local de aquartelamento das tropas de Infantaria e do Hospital Militar ambos do Bangladesh.

Ainda, em data que não posso precisar, (entre 3 e 10 de Maio) chegou ao porto marítimo de Nacala o navio que transportava o material para a CTm3. Foi necessário deslocar a Nacala o SAJ Caetano e os 1º Cabo Mechas e Luís Silva, para iniciarem a receção e o transporte para Nampula, do material destinado á Companhia.

As viaturas e algum material chegou a Nampula antes do restante contingente da Companhia, graças á colaboração e ajuda do Capitão Queimada, miliciano da Guerra no Ultramar, que se encontrava como civil no Monapo, tendo ele próprio providenciado alguns condutores para que fosse possível trazer todas as viaturas para Nampula que dista de Nacala cerca de 200 Km.

A 14 de Maio chegou o restante contingente da companhia. Iniciou-se a acomodação do acampamento. No dia seguinte a ida a Nacala diligenciar a vinda do restante material que tinha ficado no Porto marítimo da cidade e a instalação dos equipamentos RATT, Feixes Hertzianos, Cripto e a Central Telefónica no CCom do QG. Ao mesmo tempo foram instalados os CCom da Companhia e do Instituto.

Maio de 2024

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