1. INTRODUÇÃO
Nesta Introdução, em primeiro lugar faz-se referência à formação escolar do autor, depois da escola primária até aos 18 anos, bem como à sua atividade militar até aos 21 anos. Em seguida tecem-se algumas considerações sobre as Transmissões de Campanha e Permanentes no Estado Português da Índia, que depois são objeto de descrição mais pormenorizada nos pontos 2 e 3.
De 1947 a 1954 fui aluno do Instituto Militar dos Pupilos do Exército (IMPE), tendo concluído o Curso de Radiomontador em 31 de março de 1954 (11.º ano de escolaridade, não havendo na altura qualquer equivalência com o ensino público).
Em 24 de maio de 1954, com 18 anos, fui incorporado na Escola Prática de Infantaria (EPI) em Mafra, sendo 2.º Sargento de Engenharia. Na EPI fui Sargento Mecânico Radiomontador da Secção de Ótica e Telegrafia Sem Fios do Pelotão de Transmissões da Companhia de Comando e Serviços do “Batalhão de Caçadores Vasco da Gama (BCVG), em aprontamento para ser mobilizado para a Índia.
Em 08 de setembro de 1954 saí de Lisboa para a Índia no paquete Serpa Pinto, tendo regressado no paquete Niassa em 08 de abril de 1957. Durante a estadia na Índia Portuguesa concluí o Curso Geral dos Liceus (5.º ano de Ciências e de Letras).
Durante a expedição prestei serviço, em acumulação, para assegurar a manutenção do material de Transmissões, nas Baterias de Artilharia aquarteladas na área do BCVG (Alparqueiros, Vasco da Gama e Mormugão), bem como na Companhia de Engenharia, aquartelada no Hospital Mental (já com obra terminada, mas ainda não inaugurado), em Pangim (Altinho), na situação de adido (colocação em diligência).
Quanto às Transmissões de Campanha na Índia salienta-se a competência dos militares de Transmissões do BCVG, não só os pertencentes à Arma de Engenharia (Radiotelegrafistas e Radiomontadores), mas também os muitos sargentos e praças com a Especialidade de Transmissões de Infantaria. Uma referência também ao material do BCVG, que era o que havia na altura em Portugal, salientando haver necessidade de manutenção permanente. Nas Transmissões Permanentes o destaque bem merecido tem a ver com os Sargentos e Praças de Exploração (Radiotelegrafistas) e de Manutenção (Radiomontadores). .
2. TRANSMISSÕES DE CAMPANHA
a. Pessoal
O Oficial de Transmissões do BCVG era o tenente de Infantaria Luís Francisco Soares de Albergaria Carreiro da Câmara, oficial competente e de alta dedicação à especialidade.
Na Companhia de Engenharia (CompEng) os Oficiais Engenheiros estavam demasiado envolvidos na área de Sapadores não recordando nenhum interessado e sabedor dos assuntos de Transmissões.
Quanto aos Sargentos de Engenharia, para além da Equipa de Radiomontadores, todos envolvidos em permanência na manutenção dos diversos equipamentos, considerava notáveis os Radiotelegrafistas que operavam o material, na altura apenas fixo, com verdadeira devoção.
As Praças (1.ºs Cabos) da Arma de Engenharia (um Ajudante de Mecânico Radiomontador e três Radiotelegrafistas) eram todas dedicadas e competentes, dominando a operação dos aparelhos com mestria.
No BCVG a Instrução do Pessoal de Transmissões era permanente, tanto no aquartelamento como em exercícios no campo. Embora as diversas atividades operacionais pouco tempo deixassem para Instrução, a ideia que me ficou foi de nível técnico e empenhamento muito elevados.
Na CompEng (Altinho) e nos seus Destacamentos (Postos de Rádio) o trabalho envolvia todo o conjunto em permanência não havendo tempo para Instrução organizada. Na altura a CompEng não dispunha de meios rádio instalados em viatura (móveis).
b. Material
No BCVG, existiam os seguintes equipamentos: emissores-recetores neozelandeses de HF ZCI (instalações fixas e móveis/viatura); emissores-receptores ingleses P21 (instalações fixas e móveis/viatura); emissores-receptores americanos BC-611 (portáteis na banda dos 3 a 6 MHz), BC-1OOO (VHF de 40 a 48 MHz) e AN/PRC-10 (VHF de 38 a 54,9 MHz) com variantes móveis, instaladas em viatura), bem como material telefónico (principalmente o telefone de campanha americano EE-8).Todo este material exigia manutenção permanente, parecendo-me, na altura, o seu quantitativo Orgânico suficiente em relação a um Batalhão de Infantaria.
Neste início de carreira (18/19/20 anos — 2.º Sarg RMont) apercebi-me que mesmo havendo cuidada e permanente Manutenção do material e competência técnica, a consideração e o reconhecimento com Especialista em Transmissões recomendava o estudo e a prática dos Procedimentos do âmbito da Exploração das Transmissões, metodologia que pratiquei e aconselhei ao longo de toda a carreira militar (2.º Sargento a Coronel).
Nas Unidades de Cavalaria, onde prestei assistência técnica como Radiomontador da CompEng (em diligência) utilizava-se o rádio P-19, que era bom equipamento, mas exigindo frequente Manutenção e cuidada Operação. Na CompEng (1954/1957) não me apercebi da existência de Sistemas de Transmissões de Campanha.
c. Organização Territorial
Nem no BCVG, nem na CompEng, me apercebi da existência de Comando de Transmissões ao nível da índia Portuguesa.
d. Emprego Tático
No BCVG praticava-se o emprego tático determinado na Missão do Batalhão, tendo havido reconhecimento público do bom funcionamento do Sistema de Transmissões pelo General Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), numa visita ao Batalhão aquando de um exercício de grande envergadura. Ainda recordo os elogios do General CEME e do Comandante do Batalhão, mas sempre achei que quem os merecia era o Oficial de Transmissões Ten/Cap Inf Carreiro da Câmara; no entanto, na verdade destacaram a influência do Radiomontador no sucesso das Transmissões, o que penso ficar a dever-se também ao domínio dos procedimentos de Exploração, em especial grafia.
e. Apoio Logístico
Oficina de Rádio do BCVG
No BCVG recorria ao mercado local para obter sobressalentes com relativa facilidade. O Radiomontador tinha de resolver toda a problemática de Manutenção, mas nas Unidades de Cavalaria/Outras que não tivessem Sarg Radiomontador a Manutenção era realizada por Sargentos da CompEng em Diligência; nesta função fui utilizado frequentes vezes, em especial junto das Unidades de Cavalaria.
3. TRANSMISSÕES PERMANENTES
a. Organização
Como já referido, em acumulação com a responsabilidade pela Manutenção do BCVG e Baterias de Artilharia da Península de Mormugão, estive colocado na CompEng em Pangim (Hospital Mental — Altinho).
Do observado, pareceu-me que a Metrópole pouca influência tinha no nosso Sistema de Transmissões Permanentes. Na altura a ligação da Índia Portuguesa com Lisboa era realizada pela Marinha.
b. Pessoal
Como referi anteriormente, os Oficiais da CompEng pouco se interessavam pelas Transmissões. Em determinada altura chegou a esta Companhia, como comandante, o Cap Eng Quintão, que conhecia como entusiasta pela Eletricidade e pelo mundo das Transmissões, mas não me recordo do seu envolvimento nas tarefas diárias no Altinho, por certo devido a outras prioridades.
Os Sargentos de Exploração fascinavam-me (a eles devo o cuidado em aprender e praticar Procedimentos de Exploração corretos) o mesmo acontecendo com as Praças, em especial Radiotelegrafistas, pois era pessoal de eleição que recordo quando me confronto com tarefas de Qualidade. Recordo tambéma Estação Fixa de Alparqueiros (Posto de Rádio da Engenharia) que estava no interior do Aquartelamento do BCVG, com edifício e pessoal de excelência no trabalho e postura geral, tendo sentido grande satisfação em ser da mesma Arma e usar o mesmo emblema (Castelo).
Em síntese, havia 59 militares com missão nas Transmissões de Campanha: 1 Tenente da Arma de Infantaria com Especialidade Transmissões (Cmdt do PelTm da CCS; 1 Sarg 1 Segundo Sargento da Arma de Engenharia Radiomontador do PelTm da CCS — António Pena); 7 Sargentos da Arma de Infantaria, Especialidade Transmissões ( apenas um do ativo); 4 Praças da Arma de Engenharia, Radiotegrafistas; 1 Praça da Arma de Engenharia, Ajudante de Radiomontador; 29 Praças da Arma de Infantaria, Especialidade Radiotelefonista; 13 Praças da Arma de Infantaria, Especialidade Telefonista; 3 Primeiro Cabo Cifradores.
c. Material e Apoio Logístico
O material era muito bom, exigindo pouca manutenção apesar de longos períodos de funcionamento contínuo, não sei designar o tipo, mas julgo serem belgas e denominados BTR.
No Apoio Logístico, as Oficinas da CompEng resolviam os problemas, havia sobressalentes no mercado local e os Radiomontadores não tinham domingos nem férias e eram interessados em ter sempre o material em boas condições. As equipas especializavam-se nos diversos materiais, emissores, recetores, geradores e material telefónico instalado em Pangim e noutras cidades. A ideia que me ficou é boa em termos de interligação da Exploração com a Manutenção e sobre o ambiente da Manutenção, jamais esquecerei o alto nível e ajuda para nada ficar por reparar.
Concluindo, gostei desta primeira de três comissões de serviço que prestei no Ultramar.
Embora tivesse sido integrado no BCVG por estar a prestar serviço na Escola Prática de Infantaria e não por ser o mais moderno dos Sargentos Radiomontadores (era dos mais antigos). Quando, nos Pupilos, me foi entrege a Guia de Marcha pelo Capitão Eng Rios de Sousa, foi-me dito que ia para Mafra por ser das Unidades do Exército da altura que tinha Material de Transmissões moderno e de Manutenção mais especializada. Agora acho que foi prémio e não castigo, embora tivesse sido o período, 1954/1957, de elevada atividade operacional para tentar evitar a concretização da ocupação Índia Portuguesa pela União Indiana. Essa ocupação iniciou-se em 22 de julho de 1954, com forças policiais ocupando os enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli no distrito de Damão e concretizou-se na totalidade em 18 de dezembro de 1961.
Paço de Arcos, 29 de novembro de 2006 (ajustado em 01set2024)