1. PREÂMBULO
A minha comissão no Comando Territorial Independente de Timor (CTIT) realizou-se no período de Setembro de 1970 a Dezembro de 1974, tendo sido o primeiro oficial do Quadro Permanente/Transmissões (Tm) a ser destacado para aquele território a fim de desempenhar dois cargos: Comandante das Transmissões e Delegado do Serviço de Telecomunicações Militares (STM). O primeiro destes cargos era preenchido até então por um oficial do Q.P./Armas em regime de acumulação e o segundo por um oficial miliciano engenheiro de Transmissões.
Quando cheguei tive a vida muito facilitada dada a grande qualidade dos oficiais que me antecederam nos referidos cargos. Na parte do Comando das Transmissões, o oficial antecessor (Capitão de Artilharia Eduardo António Martins Mendonça) tinha muito bem estruturada a atuação das Tm de campanha com Normas de Execução Permanente, Instruções Permanentes de Tm e Instruções Tácticas de Tm bem elaboradas.
No tocante ao STM, o Tenente miliciano de Tm (Eng.º) José Luís Pereira Gonçalves, meu camarada desde o 1º ano da Escola do Exército (saiu da Academia Militar no último ano do Instituto Superior Técnico) tinha também a Delegação do STM a funcionar em moldes de grande qualidade, se levarmos em conta as limitações inerentes à distância e ao facto de o território não estar em guerra.
Fui substituído em fins de 1974 pelo Capitão Eng.º de Tm Armando Braz Pinto Praça.
2. TRANSMISSÕES DE CAMPANHA
a. Pessoal
Os oficiais do Q.P., para além de mim, existia apenas um, que era o adjunto do Cmdt das Tm. Durante a minha comissão tive dois adjuntos: um Tenente do Serviço de Material que se inscrevia bem na função e um Tenente do Serviço Geral que se limitava a preencher o lugar.
Existiam dois sargentos do Q.P: um Sarg.de Exploração que chefiava o Centro de Transmissões do Quartel-General e um Sargento Radiomontador que chefiava a Oficina de Tm do mesmo Quartel-General.
As praças prestando serviço técnico na alçada do Comando das Tm ou na Delegação do STM eram todas oriundas da Metrópole. Existiam também algumas praças de recrutamento local para serviços auxiliares não técnicos.
b. Material e Apoio Logístico
O material de campanha existente à altura da minha chegada resumia-se praticamente ao GRC9 que funcionava bem em grafia, garantindo as comunicações fixas entre o Q.G., Sectores e Postos. Não era utilizado em fonia nem em comunicações móveis.
Com a chegada do equipamento rádio TR-28 houve um salto qualitativo muito grande pois foi possível fazer comunicações móveis e em fonia em todo o território. Pela primeira vez conseguiu-se falar em fonia com o enclave do Oecussi durante quase todo o dia. Pena foi que este equipamento tivesse chegado tão tarde e em quantidade tão reduzida.
Na alçada directa do Comando das Tm existiam um Depósito de material e uma Oficina de manutenção, que eram os únicos órgãos do género no CTIT. Dada a situação de paz que se viveu no território até ao 25 de Abril, a escassez de meios e a sua obsolescência não se tornaram críticas. Caso tivesse existido uma guerra como nos outros territórios ultramarinos, penso que a situação em termos técnicos seria insustentável.
c. Organização Territorial e Emprego tático
Não consigo recordar-me, em termos orgânicos, do escalão da subunidade de Tm que apoiava o Comando das Tm. Penso que seria um Pelotão de Tm., avaliando a quantidade de pessoal disponível. Em termos práticos, o Comando das Transmissões e a subunidade de Tm interpenetravam-se, pois funcionava tudo no mesmo espaço físico.
O CTIT estava dividido em Sectores, que por sua vez compreendiam vários Postos. Cada aquartelamento tinha um Posto Rádio para as ligações em grafia ascendentes e descendentes, não existindo mais nenhum órgão de Tm a nível Sector ou Posto.
Como foi referido, enquanto o material de campanha se resumiu ao AN/GRC-9, o emprego táctico do mesmo foi praticamente inexistente. Garantia as comunicações entre aquartelamentos, funcionando ao fim e ao cabo, como transmissões fixas. Obviamente que também não existiam ligações terra-ar, até porque não existiam meios aéreos militares.
3. TRANSMISSÕES PERMANENTES
a. Organização e Pessoal
A delegação do STM no CTIT dependia da Chefia do STM em Lisboa. Em termos físicos a delegação apoiava-se em dois espaços: no Destacamento de Engª onde estava situado o Centro Emissor com um pequeno depósito e no Quartel-General onde funcionava o Centro Receptor, junto do Comando das Tm.
O delegado do STM era o único oficial do Q.P. Em termos de Sargentos do Q.P. há a referir a existência de três: um Sargento Radiomontador, um Sargento de Manutenção/TPF e um Sargento de Exploração. Relativamente a praças (Expl. e Man.), estas eram exclusivamente metropolitanas.
b. Material e Apoio Logístico
No Centro Emissor, situado no Destacamento de Engenharia, existiam 3 ou 4 emissores, dos quais, à data da minha chegada, só um funcionava, devido à falta de material sobressalente. Estes emissores ligavam a uma antena rômbica (uma obra fantástica do meu antecessor) muito bem calibrada, com um baixíssimo ângulo de fogo, que proporcionava boas comunicações com a Metrópole. Mais tarde, para estabelecer ligações para Moçambique e criar uma alternativa para Macau, construímos uma antena cúbica rotativa, tipo radioamador.
Relativamente aos emissores avariados, os mesmos acabaram por ser todos reparados à medida que os sobressalentes foram chegando de Lisboa. Refira-se que o facto de estes virem de barco e as carreiras se realizarem duas vezes por ano, tornavam estes processos de reparação muito demorados.
No Centro Receptor, no Quartel-General, existiam dois receptores que ligavam a um dipolo dobrado. Devido à falta absoluta de espaço, não era possível na altura, montar outro tipo de antena com melhores características.
As grandes ligações rádio estabelecidas na altura eram com Lisboa e Macau. Relativamente às ligações com Lisboa é de referir que, até ao ano de 1974, em que a Marconi instalou equipamentos para comunicar com a Metrópole, o STM era o único meio de ligação em fonia Timor -Portugal, sendo, portanto, utilizado para conversações telefónicas entre os militares destacados e seus familiares. Para o tráfego de mensagens era utilizada a grafia.
No tocante a Macau, o tráfego era feito em grafia e penso que o fluxo de mensagens Macau-Lisboa utilizava Timor como relé. No ano de 1971 recebi ordem do STM/Lisboa para me deslocar a Macau no sentido de estudar uma maior autonomização daquele território. Com base no que me foi possível avaliar elaborei um relatório com propostas, mas o mesmo não teve consequências práticas.
Relativamente a Moçambique, foi feita durante a minha comissão uma experiência visando reactivar as comunicações com aquele território, com resultados animadores. Estas comunicações porém não tiveram seguimento por (esta foi a sensação com que fiquei) pouco interesse de Moçambique.
No tocante a comunicações filares havia a referir a existência de uma rede telefónica na cidade de Dili, interligando os aquartelamentos existentes e mantida por pessoal STM/TPF. Refira-se que num destes aquartelamentos ainda funcionava, durante a minha comissão, uma central telefónica herdada dos japoneses. Existiam ainda, fora de Dili, alguns traçados telefónicos ligando aquartelamentos e diligências, principalmente na fronteira, mas em número reduzido.
O órgão do STM tinha um pequeno depósito junto do Centro Emissor e não dispunha de oficina. As reparações realizavam-se junto dos equipamentos de estação avariados. Para o volume de serviço existente podia-se considerar adequado o pessoal existente, tanto em quantidade como em qualidade.
Relativamente aos materiais solicitados ao STM/Lisboa pensamos que a grande demora na sua obtenção estava relacionada com o escasso número de navios fretados existente.