Post do Cor António Pena, recebido por msg:
Envolvimento na problemática da entrada de Portugal na I Grande Guerra
Na sequência da observação dos posts, “A diplomacia portuguesa em defesa das colónias portuguesas antes da Grande Guerra” de 30 de janeiro de 2015 e “A Campanha Portuguesa em Moçambique – A 1ª expedição (1 de 2)” – nº 4, Da estratégia do governo português, de 08 de abril de 2015, considero oportuno salientar a ação de Manuel Teixeira Gomes (MTG) como ministro plenipotenciário em Londres (hoje seria embaixador).
Na sequência de invulgares competências para o desempenho da missão, Manuel Teixeira Gomes, aos 50 anos de idade, é escolhido pelo Governo da República, iniciando funções em 10 de abril de 1911 como representante de Portugal na Grã-Bretanha.
No início de 1914 Teixeira Gomes ao saber pela imprensa das declarações dos responsáveis ingleses (sir Edward Grey) e alemães (embaixador Lichnowsky) respeitantes à preparação de um tratado onde a Inglaterra assumia o dever de cuidar da integridade dos territórios coloniais portugueses, protestou no Foreign Office contribuindo para que não se tivesse assinado o documento na forma como estava previsto. Para além do cumprimento das diretivas do Governo Português, MTG sentia como seus os sentimentos de grande parte da população, uma vez que tudo indicava poderem resultar do conflito alterações dos mapas político e físico mundiais, servindo os territórios ultramarinos portugueses para, em negociações, ajustar espaços ou, não havendo vencedores, como ingovernáveis.
As preocupações iniciais de MTG em Londres foram consolidar a República Portuguesa e defender a sua política colonial. No complicado ambiente monárquico inglês onde se instalaram a família real, a maioria das forças políticas da monarquia portuguesa e se manteve o anterior e prestigiado embaixador, Conde de Soveral, foi difícil acreditar a jovem República. Quanto à problemática colonial foi preocupante desde a primeira hora. Em 1911, estava a ser ameaçada pelos desenvolvimentos capitalistas inglês e alemão, tendo a primeira dificuldade consistido numa campanha antiesclavagista cuja preparação de resposta lhe proporcionou a compreensão do que se estava a passar em termos de negociações secretas entre a Inglaterra e a Alemanha para partilhar os territórios portugueses.
A observação do acervo formado pela correspondência oficial da Legação de Portugal em Londres de 1900 a 1914 confirma que a influência de Manuel Teixeira Gomes no sentido de Portugal participar na Grande Guerra, tem muito a ver com a problemática colonial como se pode confirmar em “Análise Social, vol XVIII – A correspondência oficial da Legação de Portugal em Londres, 1900/1914”, (pp 724 e seguintes), da autoria do coronel de Artilharia Aniceto Afonso, licenciado em História e do Professor Doutor Vítor Vladimiro, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Manuel Teixeira Gomes apercebeu-se que estava em causa a conquista de Angola e Moçambique, em especial esta por forças militares alemãs e que os ingleses pretendiam colaborar na defesa das colónias portuguesas para demonstrar que Portugal não tinha meios para o fazer. A persistente ação de Teixeira Gomes é reconhecida pelo general Norton de Matos em declarações à imprensa: “’Para consolidar a nossa posição em França e melhorá-la tanto quanto possível, realizei então a minha viagem a Londres. Aí encontrei o auxiliar precioso que foi o nosso ministro na capital inglesa e mais tarde ilustre presidente da República, Sr Manuel Teixeira Gomes. A sua inteligência, o seu tacto político e talvez ainda acima de tudo isso, o seu grande prestígio em Londres, muito contribuíram para o completo êxito da minha missão’”. (pp 117/118 de O Exilado de Bougie).
Os pontos de vista de Teixeira Gomes sobre a Grande Guerra aproximavam-se das posições inglesas, mas no que interessava a Portugal sempre conseguiu impor-se, orientando os assuntos para a entrada na Guerra invocando a aliança inglesa. As suas atitudes provocaram amizades e contrariedades. Já com Portugal na Guerra recebe em Londres a visita do Presidente da República, Bernardino Machado e do Chefe do Governo, Afonso Costa, que decorre bem, mas em janeiro de 1918, chega ao poder Sidónio Pais que chama Teixeira Gomes a Lisboa, acusa-o de ter mudado de posição em relação à Guerra e demite-o de ministro em Londres. Na sequência de outro Governo, em fevereiro de 1919 é colocado em Madrid donde sai em abril de novo para Londres. Em 1923 regressou a Portugal, por ter sido eleito Presidente da República, salientando-se dos seus últimos tempos em Londres como sendo sempre defensor da participação de Portugal na Guerra de 1914/18 o envio de postais assinalando o desfile das tropas portuguesas com os exércitos triunfantes dos aliados sob o Arco do Triunfo em Paris.
Este post teve como base o artigo da minha autoria publicado no número de fevereiro/março de 2015 da Revista Militar:
MANUEL TEIXEIRA GOMES
Artista – Homem de ação refletida – Diplomata de mérito.
Envolvimento na problemática da entrada de Portugal na I Grande Guerra (1914/1918).
Influência da Grande Guerra na África Portuguesa no desempenho diplomático de Manuel Teixeira Gomes.
António Pena
Coronel TecnManTm (situação de reforma – 79 anos)
Lic, mestre e doutor em Ciências da Comunicação (FCSH/HNL – out1988 a jan2006)
Pretendo abordar duas questões que me parecem importantes, em relação ao estudo que a CHT está a fazer sobre as Transmissões na GG:
• Foi realmente significativa a importância de Manuel Teixeira Gomes (MTG) na entrada de Portugal na GG?
• Pretendiam os alemães durante a GG conquistar Angola e Moçambique?
Em relação á primeira questão, não tendo dúvidas que a ação de MTG como embaixador em Londres foi muito acima do que se podia esperar da sua falta de experiência na área diplomática e do brilho da atuação do seu antecessor, o mesmo não acontece com a relevância da sua contribuição para a entrada de Portugal na GG.
Vejamos porquê. Recordemos que a política dominante dos Governos, dominados pelo partido Republicano, era a de entrada de Portugal na frente europeia, e que se manifestou logo que deflagrou o conflito. No entanto Portugal manteve-se, até 1916, por sugestão inglesa, em neutralidade não declarada, embora tivesse procurado explorar a situação provocada pelo pedido francês de material de Artilharia, apoiado pelo governo britânico, de que nada resultou.
A entrada de Portugal em 1916 resulta do pedido britânico de apresar os navios alemães, o que lhes interessava dadas as perdas que estavam a ter, provocadas pela guerra submarina alemã. Portugal aceita, desde que os ingleses, pelo seu lado, aceitem, finalmente, a entrada de Portugal na guerra europeia, como o Governo há muito pretende.
Não me parece que, dado o interesse que os ingleses tinham nos navios, fosse difícil chegar a um acordo. Como se chegou, não me parecendo que MTG, necessariamente ao lado do Governo de que dependia, tivesse que ter uma ação de relevo, dada a conjugação de interesses que se verificava.
Em relação à conquista das colónias de Angola e Moçambique pelos alemães em África, convém acentuar que isso não era possível nem constituiu intenção dos alemães fazê-lo.
Na realidade as forças alemãs que existiam nas suas colónias eram fracas. Estavam isoladas da Metrópole, que não lhes podia dar qualquer apoio logístico nem sequer comunicar.
A superioridade aliada em África, em relação aos alemães, era esmagadora. Rapidamente 3 das quatro colónias alemãs foram conquistadas – Togo, Camarões e Africa Ocidental Alemã (hoje Namíbia). A única que resistiu foi a África Oriental Alemã (hoje Tanzânia). Mas não resistiu para conservar a colónia alemã, mas para obrigar os aliados a empenhar o maior quantitativo de tropas aliado possível, evitando que fossem utilizados na frente europeia. Esta foi a estratégia brilhante montada por Von Lettof, o comandante das forças alemãs, um génio militar, precursor da guerra de guerrilhas, do fraco contar o forte e em que a posse do terreno não era essencial. Donde, as suas tropas tinham que sobreviver, andando sempre em movimento, só atacando em condições de superioridade e não conquistando em permanência um único local, pois isso seria o seu fim, dada a incomensurável superioridade militar dos aliados.