O despontar de Alunos de Transmissões na Academia Militar
Vou abordar o despontar do curso de formação de oficiais do quadro permanente para a nova Arma no Exército Português – a Arma de Transmissões, para além das já existentes (Infantaria, Cavalaria, Artilharia e Engenharia). Aquando do acesso ao Ensino Superior, eu concorri preferencialmente à Academia Militar (AM) pois, tendo tido como ascendentes dois oficiais do Exército (o avô materno e um tio paterno), não me desagradava um futuro castrense, mas queria fundamentalmente ser engenheiro. Sabia que na AM poderia conseguir esse duplo objetivo, com a vantagem de deixar de ser um encargo para os pais, dados os fracos recursos de que dispunham para criar e educar os seus sete filhos. Tive a felicidade de consumar tais objetivos, vindo a ser um dos primeiros cinco oficiais engenheiros eletrotécnicos da nova Arma de Transmissões, pelo que refiro, neste capítulo, alguns aspetos conducentes e à concretização da criação desta Arma.
Formação de Oficiais Não Engenheiros
Estando a ser pensada a criação da Arma de Transmissões, nomeadamente já com alguns estudos em 1958, haveria que, na então EE – Escola do Exército (a designação de AM – Academia Militar surgiu no ano seguinte), ser dada a necessária formação técnica aos alunos que viessem a integrar essa nova Arma. Assim, finalizado o 1.º ano letivo comum a todos os cursos da EE de 1958/59, foi presente, aos cadetes que transitaram para o 2.º ano (aquando da escolha da Arma a seguir), a possibilidade de optarem por um Curso de Transmissões (visando preparar oficiais a integrar a futura Arma de Transmissões). O curso foi designado “Formação de Oficiais de Transmissões” (DL n.º 42151 de 12Fev1959).
Frequentaram este curso (apenas um ano e depois descontinuado), os seguintes cinco alunos: com os respetivos números de Corpo de Alunos: 265-José Carvalho Gomes; 453-Fernando Vieira da Cunha Lima; 488-João Alberto Honrado Gomes; 526-João Manuel da Cruz Cordeiro; 43-João Maria da Silva Violante (não chegou a entrar no curso de formação de oficiais engenheiros). A organização deste curso e as matérias professadas eram similares às dos cursos com uma duração de quatro anos de Infantaria, Artilharia e Cavalaria à exceção de duas disciplinas; Eletrotecnia Geral e Máquinas Elétricas (anual) e Telecomunicações (semestral). Na reorganização geral do Ministério do Exército de Outubro de 1959 (Decreto-Lei/42564-Outubro de 1959) é criada a Direção da Arma de Transmissões. Às direções das Armas competia, entre outras funções, elaborar propostas relativas a planos de cursos, estágios e tirocínios.
Formação de Oficiais Engenheiros
Os estudos dos responsáveis pela criação da futura Arma, apontaram para a decisão de que o perfil técnico dos futuros oficiais da Arma de Transmissões não poderia ser o que sairia do referido curso “Formação de Oficiais de Transmissões”. A recente Direção da Arma de Transmissões exige antes a obtenção de uma licenciatura em Engenharia Eletrotécnica (um curso de 7 anos tendo 4 anos de AM, os quais, além das cadeiras de índole militar, garantiam as cadeiras dos três anos dos Preparatórios de Engenharia, seguindo-se-lhes os 3 anos finais, da respetiva especialidade, no Instituto Superior Técnico – na altura, um curso de 6 anos).
Tal curso superior curricular da AM foi contemplado na Portaria 17.894 de Agosto de 1960 que, no seu preâmbulo, o Ministro do Exército, Afonso Almeida Fernandes (oficial general de Engenharia), refere: “As exigências da nova arma de transmissões aconselham que se aproveite o curso de Engenharia Eletrotécnica Militar, já em funcionamento (para a Força Aérea e para o Serviço de Material), para proporcionar aos futuros oficiais de carreira daquela arma uma preparação técnica mais profunda, como convém à crescente complexidade de tão fundamental ramo das forças terrestres” (Portaria-17894-de-10-de-agosto).
Os Primeiros Alunos e os Primeiros Tirocinantes da Arma de Transmissões
Eu viria a ser abrangido por esta nova situação. Terminado o 2.º ano escolar da AM (1960/61) na Amadora, os alunos seguiam para a AM, em Gomes Freire, onde os cadetes selecionados para as Engenharias seriam distribuídos pelas Armas de Engenharia e de Transmissões e pelo Serviço de Material. Assim, nesse ano escolar (1961/62), ficaram destinados 14 alunos à futura Arma de Transmissões. Havia, portanto, e pela primeira vez, um curso de Transmissões (14 alunos) que, no ano seguinte, foram finalistas do 4º Ano da Academia Militar (ano letivo de 1962/63):
Nesta altura, são promovidos a “Alferes-alunos de Transmissões” e destinados a frequentar, no IST, os 3 últimos anos dos então 6 anos curriculares, na especialidade de Engenharia Eletrotécnica.
Decorridos esses 3 anos finais do IST, no ano escolar de 1965/66, viriam a sair os primeiros 5 oficiais licenciados em Engenharia Eletrotécnica, nos quais eu me encontrava incluído, para frequentarem o tirocínio.
Findo este, entram no Quadro Permanente, sendo os primeiros Tenentes Engenheiros Eletrotécnicos que se apresentaram na Direção da Arma de Transmissões: Ten. Fernando Vieira da Cunha Lima, Ten. José Alfredo Saraiva Mendes, Ten. Luís Miguel da Costa Alcide de Oliveira, Ten. Fernando Manuel Dias do Amaral Marques e Ten. João Afonso Bento Soares.