Post do MGen Pedroso Lima, recebido por msg:

4º Período (1914 – 1939) A Grande Guerra e o pós-guerra

As transmissões do Exército, durante a Grande Guerra, estiveram representadas nas expedições enviadas para Angola e Moçambique, logo no início da Guerra e, mais tarde, na Frente Europeia, integradas no Corpo Expedicionário Português (CEP) que atuou na Flandres.

Os combates das forças portuguesas começaram em Àfrica, logo em 1914, contra as tropas alemãs das suas colónias contíguas a Angola e Moçambique, embora Portugal estivesse neutral.

A entrada do CEP em setor da frente europeia só se deu em 1917, depois de a Alemanha no ano anterior ter declarado guerra a Portugal, na sequência do apresamento, realizado a pedido britânico, dos navios alemães fundeados em portos portugueses.

Enquanto que em África as nossas tropas foram equipadas com o material existente em Portugal, na frente Europeia as tropas do CEP utilizaram material inglês e os militares portugueses, antes de entrarem em setor, foram instruído pelos ingleses e “herdaram” os  seus sistemas montados de redes telegráficas e telefónicas.

No teatro europeu, onde as transmissões portuguesas  se integraram no sistema  inglês, dos mais evoluídos da época, o conflito teve muito maior intensidade e envolveu efetivos muito superiores aos que combateram no teatro africano.

Em Angola o conflito terminou em 1915 com a rendição das forças alemãs da Africa Ocidental Alemã às tropas sul-africanas. Em Moçambique a guerra só terminou com o armistício, dado que houve que enfrentar forças alemãs, embora de efetivos reduzidos, mas superiormente conduzidas, que usaram uma técnica de guerra de guerrilha para a qual os portugueses não conseguiram encontra resposta adequada.

O sistema, no CEP, baseava-se no princípio da sobreposição de meios, traduzido na aplicação de telégrafos elétricos, telefones, meios óticos, pombos correios e meios rádio, usado sobretudo nos escalões mais elevados.

No início do conflito, o telégrafo era o meio dominante mas, com o decorrer do conflito, o telefone ultrapassou-o claramente.

Dependendo os meios de comunicações de redes filares e sendo a maioria com traçados não enterrados, o sistema de transmissões tornava-se extremamente vulnerável  aos poderosos fogos de artilharia utilizados.

Em situações de média ou baixa atividade operacional na frente, o sistema de transmissões era sustentável, permitindo a recuperação  das linhas avariadas pelos fogos de artilharia, graças ao meritório e arriscado esforço dos guarda fios.

No entanto, nas preparações de artilharia que precediam as grandes ofensivas na Grande Guerra, as transmissões desapareciam completamente ao fim de pouco tempo, como sucedeu na Batalha de La Lys.

Outras inovações introduzidas na Grande Guerra e na área das transmissões foram o fullerfone, para maior segurança nas comunicações telefónicas ou telegráficas e a telegrafia pelo solo, para comunicações seguras na linha da frente.

A participação no CEP das transmissões portuguesas dirigidas pelo capitão de Engenharia  Soares Branco, foi prestigiante.  No louvor que lhe foi concedido pelo general Comandante do CEP afirma-se que “o serviço telegráfico foi o que melhor funcionou no CEP”.

Terminada a guerra a situação no país era de grandes dificuldades económicas,  verificaram-se grandes convulsões  políticas e sociais, que deram lugar ao 28 de maio de 1926 e ao estabelecimento do regime ditatorial do Estado Novo.

Esta situação do país permite explicar que no pós-guerra não tivessem sido as transmissões de campanha que se desenvolveram, como seria de prever, mas sim as transmissões Permanentes, como meio que interessava desenvolver face à situação do país.

Com o material rádio existente e com o que veio da Flandres, foi criada rapidamente uma rede radiotelegráfica e que na gíria corrente se costuma designar por “transmissões de vão de escada”.

Apesar de tudo, a rede radiotelegráfica atingiu um certa importância e atuou eficazmente em situações de emergência, chegando a fazer, em casos de greves dos correios civis, serviço de telegrafia aberto ao público em geral.

Em contrapartida, no final do período, em vésperas de eclodir a II Guerra Mundial, as transmissões de campanha em Portugal praticamente não tinham evoluído em relação à Grande Guerra.

Fotos 1a GG
Reparação das linhas nas trincheiras da Flandres
SIF
Equipamentos rádio SIF usado nas redes permanentes no final dos anos 30

4 comentários em “Contribuição para uma Breve história da evolução das Transmissões do Exército (4)

  1. Tenho lido com interesse os posts do Sr. MGen. Pedroso de Lima.
    Se me é permitido, gostaria de mencionar o muito completo livro do Sr. Ten. de Engenharia Luiz da Câmara Pina ” A TSF e as transmissões – Memória de Concurso para o Serviço de Estado-Maior” – publicado em 1938, e com prefácio do Sr Ten. Coronel de Engenharia Carlos de Barros Soares Branco.

    João Ramiro C. Firmino/Fur. Mil. de TRMS

  2. Concordo inteiramente com a Sr. João Ramiro C. Firmino ao realçar a importância do livro do general Câmara Pina “A TSF e as Transmissões”, publicado em 1938 quando era tenente de Engenharia.
    De facto, trata-s de uma obra de referência das Transmissões Militares que, aproveito para recordar, foi objeto do post publicado neste Blogue em 29 out 2013.

  3. O Senhor MGen Pedroso Lima trata, neste seu quarto artigo, de um dos períodos mais difíceis de relatar quando falamos deste tema, ou seja todos os anos que vão de 1918 a 1939.
    A informação existente é pouco precisa, escassa e algumas vezes contraditória. Em seu tempo, falando com o falecido Coronel Bastos Moreira, ele foi coincidente com o que pensávamos.
    É nesta época que recebemos os Marconi H4, os Trench Post e mais uns aparelhos de origem italiana e outros de muito difícil identificação. No final desse período começamos a utilizar as primeiras séries inglesas “Wireless Set”, não podendo esquecer toda uma produção Nacional (em Coimbra e Lisboa), para, maioritariamente, ser utilizada em fixo.
    Espero (esperamos) com muita atenção os artigos seguintes.
    J. Freitas

  4. Em primeiro lugar os meus agradecimentos ao sr João Freitas pelos seu comentário ao meu despretencioso texto sobre um período “cinzento” e pouco estudado das transmissões militares, como acentua.

    Procurei realçar, na síntese, a relativa estagnação das transmisões de campanha e o esforço que se fez para manter a rede radiotelegráfica nas transmissões permanentes.

    Reconheço que deveria ter referido o notável esforço que se fez na produção de equipamentos rádio para manter a rede permanente, por as verbas disponíveis não permitirem a compra de material estrangeiro atualizado.

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