O tenente-general Carlos de Barros Soares Branco nasceu no Porto em 1886 e morreu em Lisboa em 1963. Foi aluno do Colégio Militar, assentou praça no Batalhão de Cavalaria n.º 2, em julho de 1905, e ingressou como 1º sargento-cadete na Escola do Exército, tendo terminado o curso de Engenharia em 1910.
Em 1912, como tenente, publicou na Revista de Engenharia Militar, para cuja Comissão Executiva havia sido eleito “A Telegrafia sem fios em Hespanha” e, em 1916, um novo artigo com o título “Bases para o estudo do Serviço de Pioneiros em Campanha”.
Em 1914 ingressou no Estado-Maior de Engenharia como adjunto da Inspeção Geral de Fortificações e Obras Militares e como vogal da Comissão Técnica de Telegrafia Militar. Em junho de 1916, já como capitão, iniciou funções como professor na Escola de Guerra.
Também em 1916 foi nomeado chefe do Serviço Telegráfico da Divisão de Instrução, mobilizada para a realização de manobras em Tancos. O seu desempenho nos exercícios levou à sua escolha para chefe do Serviço Telegráfico do Corpo Expedicionário Português (CEP), partindo para França em 17 de janeiro de 1917.
Pelo estudo de artigos e de testemunhos apresentados na Revista de Engenharia Militar, Revista de Artilharia e Revista Militar, fica a saber-se que a apreciada ação do Serviço Telegráfico do CEP em muito se ficou a dever ao desempenho do seu chefe, capitão Soares Branco, tanto pela sua competência técnica e capacidade de organização, como pelas suas qualidades pessoais. O relatório que elaborou da atuação do seu Serviço é um documento que merece uma demorada análise, refletindo o seu notável desempenho.
Em resultado da sua ação no CEP foi condecorado por Portugal, pela Inglaterra e pela França. O comandante do CEP, general Tamagnini de Abreu, no louvor que lhe concedeu refere o “raro brilho e distinção com que desempenhou o cargo”, e ainda que o Serviço Telegráfico “foi o que melhor funcionou, graças à sua constante ação, iniciativa e competência técnica”. Pela Inglaterra foi condecorado com as insígnias da Military Cross, pela França com as insígnias de Cavaleiro da Legião de Honra e por Portugal com o grau de Oficial da Ordem Militar de Torre e Espada de Valor Lealdade e Mérito.
Soares Branco regressou de França em outubro de 1918, retomando, no ano seguinte, as funções de professor na Escola Militar, sendo também nomeado instrutor da Escola Central de Oficiais. Nunca mais deixou as funções docentes, vindo a ser professor do curso de Estado-Maior a partir de 1939, altura em que foi promovido a coronel. Em 1943 foi nomeado inspetor das Tropas de Comunicações e professor do Curso dos Altos Comandos, no Instituto de Altos Estudos Militares. Promovido a brigadeiro em maio de 1943, foi nomeado inspetor das Tropas de Transmissões em 1945 e promovido a general em 1946.
Por outro lado, Carlos Soares Branco, ainda como major, aceitou em 1922 o convite para o desempenho de funções de âmbito público, em acumulação com os cargos militares, como inspetor dos câmbios na Inspeção dos Câmbios do Ministério das Finanças, vindo a ingressar, em 1925, no Banco de Portugal como secretário-geral, nomeado por portaria de 11 de julho, autorizada pelo Presidente da República, Manuel Teixeira Gomes. Nas últimas eleições legislativas da 1ª República, realizadas em 8 de novembro de 1925, foi eleito deputado por Cabo Verde, pelo Partido Republicano Português.
Em 1931 foi nomeado vice-governador do Banco de Portugal, passando em 30 de junho de 1936 a vice-governador em exercício de funções de governador (governador interino), cargo em que foi confirmado nesse mesmo dia pelo ministro das Finanças, Oliveira Salazar, e nos anos seguintes por outros ministros das Finanças, só terminando essas funções em 20 de junho de 1956, quando atingiu o limite de idade (70 anos). Ou seja, o general Carlos de Barros Soares Branco foi governador interino do Banco de Portugal durante vinte anos sucessivos.
Enquanto vice-governador, o então tenente-coronel Soares Branco colaborou na reforma monetária de 1931 e no novo contrato entre o Estado e o Banco e participou na resolução da crise madeirense desse mesmo ano. Mais tarde, em novembro de 1946, presidiu às comemorações do 1º Centenário do Banco, tendo proferido uma alocução alusiva, e entre 1948 e 1951 estabeleceu contactos com outros Bancos Centrais e colaborou na gestão da ajuda de 140 milhões de dólares oferecida a Portugal pelo Plano Marshall.
Publicou vários trabalhos de âmbito militar, como “A Batalha de ‘La Lys’ e as Transmissões” na Revista de Artilharia, números 55 a 66 de 1930; um artigo na Revista de Engenharia Militar, em 1947, com o título “A Grande Guerra de 1914-1918 e a formação do engenheiro militar”; e um opúsculo intitulado “Os Altos Comandos e Alguns Problemas Económicos Actuais”, em 1949.
Ao longo de toda a sua carreira foi um militar distinto, muito apreciado, que soube conciliar as suas funções de âmbito militar, especialmente dedicadas à Engenharia e ao ensino, com uma longa carreira no Banco de Portugal, sendo caso único, pelo facto de ser um militar a desempenhar as funções de efetivo governador do Banco durante vinte anos, entre 1936 e 1956.
Extrato do Livro:
DCSI, 2023. Arma de Transmissões – 50 anos “Por Engenho e Ciência”, Vol. II, pp 344 a 346