Nas cerimónias de comemoração do 4.º aniversário do Museu Militar de Elvas tive o prazer de encontrar o meu camarada e amigo MGen António Pereira Coutinho, oriundo da Arma de Cavalaria, que à paixão pelos cavalos acrescenta outra que tem, de há muito, pelas transmissões, nas quais adquiriu invulgar competência, reconhecida dentro e fora da sua Arma.

Tive ocasião de confirmá-lo pois, como capitães, prestámos serviço juntos no BTm3, na fase em que a unidade deixou de ser a unidade operacional de transmissões de referência que foi, para se transformar um centro de instrução. No BTm3 ele comandava uma companhia de Instrução[1] e eu era adjunto do comandante. Igualmente estivemos juntos na Índia com contactos mais frequentes antes da invasão indiana[2], eu como chefe do serviço de Transmissões e ele como comandante do ERec 4 e, mais tarde, no Curso de Defesa Nacional.

A sua competência técnica na área das transmissões e a sua total disponibilidade foram, desde o início, para mim uma ajuda inestimável na missão de Chefe do Serviço de Transmissões na Índia, como teremos ocasião de relatar.

Teve a amabilidade de me oferecer um trabalho recente[3], da sua autoria, A Minha Comissão de Serviço no Estado Português da Índia como Comandante do Esquadrão de Reconhecimento Nº 4 “Afonso de Albuquerque”.

ERec4Constitui, em meu entender, uma obra exemplar, extremamente cuidada e completa, envolvendo o período da sua comissão antes, durante e depois da Invasão. Trata fundamentalmente dos problemas do “seu” ERec 4 (incluindo naturalmente a área das transmissões) e aborda também as preocupações que teve sobre a operacionalidade  das transmissões no Comando Territorial da Índia em caso de invasão da União Indiana, referindo  conversas que tivemos, sugestões que apresentou e as soluções que encontrámos.

Sobre as Transmissões na Índia em 1961 não há muita coisa escrita [4], pelo que me pareceu ter interesse apresentar um post, neste Blogue, com base no testemunho do MGen Pereira Coutinho, abordando  os seguintes temas:

  • Situação do material de transmissões do ERec 4 (que não diferia muito da situação do material de transmissões das outras unidades);
  • O problema das Transmissões no Estado Português da Índia nas vésperas da Invasão (onde a colaboração do capitão Pereira Coutinho foi altamente relevante).

Situação do material de transmissões do ERec 4:

No seu livro, o MGen Pereira Coutinho apresenta o esquema das redes rádio previstas para  o ERec 4 (tipo Índia).  Estava-se no período pós II Guerra Mundial  pelo que o ERec era dotado (no papel) com abundantes equipamentos rádio que permitiam a ligação do Comando do esquadrão ao escalão superior e aos seus pelotões e destes às suas secções, como se mostra na figura seguinte:[5]

ERec4 2

SCR 193
SCR 193

Com exceção do SCR 193 (equipamento rádio de campanha, americano, o mais potente e fiável da orgânica do ERec e também do Exército no Estado da Índia), destinado à ligação com o escalão superior, os restantes rádios atribuídos organicamente ao Esquadrão eram de origem inglesa (nítidamente inferiores aos americanos usados na II GM) e a sua atribuição resultava da enorme quantidade de equipamentos que os ingleses forneceram a Portugal depois da cedência da base das Lages.
Além do SCR 193, no Comando do ERec, o Esquadrão era dotado com mais 26 equipamentos rádio ingleses – 17 rádios P19 e 9 P21, assim distribuídos: 5 P19 no Comando do esquadrão e 4 P19 e 3 P21 por cada um dos 3 Pel Rec.

A realidade não podia, contudo, ser mais distante desta orgânica.

O SCR 193 não existia no Esquadrão, pois passou a pertencer à rede de Comando.

p19
P 19

Dos P 19, apenas havia um rádio (solo) operacional, que se encontrava no destacamento de Canácona, para ligação (fixa) com o Comando do Esquadrão.[6]

Havia mais 7 P 19 destinados às autometralhadoras que “estavam todos inoperacionais. Os equipamentos, em vez de estarem instalados nas autometralhadoras, estavam em arrecadação. Quando mandei abrir os P 19, para verificar o seu estado, fui confrontado com um cenário que, em toda a minha vida militar, nunca tinha encontrado. Os chassis dos emissores-recetores, os casquilhos das válvulas, os condensadores, os transformadores, as resistências, os condutores e os contactos tinham sido de tal modo atacados pelos fungos que era absolutamente impraticável a recuperação dos equipamentos.”[7]

zc1 mk2
ZC 1 mk II

Havia ainda 10 Postos de rádio emissores-recetores ZC 1 MK II (não previstos na orgânica apresentada).

“Só quatro postos estavam operacionais. Os outros seis, por falta de vibradores para as unidades de alimentação, estavam inoperacionais.

Era o posto que melhor resistia às condições extremas de calor e humidade caraterísticas do clima. Tinham tratamento para ser utilizados em climas tropicais (Um posto estava empenhado na ligação com o comando do agrupamento e outro com o destacamento de Canácona). Trabalhava na banda dos 2 aos 8 Mc/s. Com antena horizontal de ½ onda satisfazia para a ligação das redes fixas.

Quando instalado em viatura, este equipamento não satisfazia porque a receção era afetada pelas interferências produzidas pelo funcionamento do motor. Para se conseguir receber qualquer comunicação, era preciso parar o motor. Por outro lado, desintonizava com a trepidação provocada pela viatura em movimento.“[8]

Existiam ainda 9 Postos de rádio emissores recetores BC-1000 (SCR-300), que estavam inoperacionais por falta de pilhas BA-70 (caríssimas), 2 unidades de alimentação para estes postos, estando apenas 1 a funcionar. E dois telefones, incapazes.

A conclusão que tira é que “OS MEIOS RÁDIO EXISTENTES NO ESQUADRÃO SÓ GARANTIAM AS LIGAÇÕES FIXAS. NÃO EXISTIAM EQUIPAMENTOS PARA MATERIALIZAR A REDE RÀDIO DE CONTROLO OPERACIONAL.“[9]

Esta conclusão é irefutável, em face da dotação estabelecida para as redes rádio do ERec (27 postos, como vimos)  dos quais nem um funcionava nas redes operacionais.

De acentuar que a conclusão era válida não só para o ERec, mas para as ligações rádio operacionais de todas as unidades (de Infantaria, Cavalaria e Artilharia) cujas comunicações operacionais eram todas baseadas no ZC-1, que apenas funcionava como posto fixo.

Por outro lado, as redes fixas funcionavam de forma satisfatória, com os ZC-1 instalados dentro dos edifícios, com antenas bem orientadas e trabalhando o pessoal (bem) em grafia, conseguindo, sem problemas de maior, suportar o tráfego, relativamente reduzido, que existia na situação em que se vivia antes da invasão.

Como, por outro lado, não se faziam manobras ou exercícios, as carências de transmissões operacionais não se tornavam visíveis. Tudo se passava como se as Transmissões não constituissem problema de maior.

Esse foi grande problema que tive que enfrentar como Chefe do Serviço de Transmissões e que desenvolveremos no capítulo seguinte.

O problema das Transmissões do Exército no Estado Português da Índia antes da Invasão indiana:

Fui mobilizado, em 1961, para a Índia, para comandar a Companhia de Transmissões do Destacamento de Engenharia da Índia (DEI), cargo que deveria acumular com a de adjunto do Chefe do Serviço de Transmissões do Comando Militar. Com 28 anos, tinha estado cerca de 3 anos no BTm3, o que me tinha dado uma razoável experiência em transmissões de campanha.

Na viagem para Goa, no navio Índia, seguia também o major de Engenharia Carlos Granate, para ocupar o cargo de comandante do DEI, que acumularia com a Chefia do Serviço de Engenharia e do Serviço de Transmissões do Comando Militar.

Durante a viagem o major Granate informou-me que nunca na sua vida militar estivera em funções ligadas às transmissões, não estava preparado para ser Chefe do Serviço de Transmissões, pelo que iria propor que fosse eu a desempenhar o cargo.

Acrescentou que, nestas condições, se fosse ele o Chefe, “só serviria para assinar de cruz o que eu, como adjunto, lhe daria para assinar, o que era contra os seus princípios.” Desde sempre tive grande consideração pelo major Granate, que foi o melhor comandante que tive, em toda a minha carreira militar, pelo que não apresentei qualquer objeção e a proposta foi aceite superiormente.

Isto não invalida que a minha “ascenção” a Chefe do Serviço de Transmissões tivesse alguns contras sérios como sejam a minha juventude. Pois uma coisa é o chefe de serviço ser oficial superior outra é ser capitão mais moderno que a grande maioria dos capitães existentes na Índia. Por outro lado a solução adotada deixava-me sozinho no cargo. Se a primeira dificuldade era insuperável já com a segunda não acontecia o mesmo pois não deixei de ter, na Índia, o interlocutor que precisava para as decisões difícieis e que foi precisamente o capitão Pereira Coutinho. Esta escolha não tem qualquer mérito da minha parte. Ele era indiscutivelmente o melhor, pela sua competência, experiência e maturidade.

Vejamos como tudo começou:

“Certo dia, julgo que por finais de julho, o comandante da Companhia de Transmissões foi ter comigo ao esquadrão. Estava preocupado com a inexistência de equipamentos para guarnecer as redes operacionais. Concordei e lembrei-lhe que tinha que se acautelar pois, no caso de invasão, por certo que lhe iriam pedir responsabilidades pela falha das transmissões. Fez-se um esboço de um relatório, a apresentar superiormente, onde eram indicados os meios necessários.”[10]

Julgo que este encontro no esquadrão, que tomei a iniciativa de  provocar, com o capitão Pereira Coutinho, verificou-se em junho.[11] A minha preocupação era grande, pois tinha que apresentar um Relatório sobre a situação das transmissões e sabia que, com o sistema de transmissões existente, em caso de conflito, não tínhamos qualquer hipótese de ter transmissões operacionais. Havia que o transmitir superiormente, pois a ideia que dominava era que “com as transmissões não havia problemas de maior”.

Estes dois pontos (insuficiência de meios e necessidade de informar o escalão superior da situação) esperava ter a concordância completa do capitão Pereira Coutinho. O que aconteceu facilmente pois estávamos em perfeita sintonia.

P 21
P 21

Outro problema que tinha era propor, no Relatório, os equipamentos necessários para suprir as insuficiências  de material de transmissões. A minha ideia era substituir todo o material inglês (ZC 1, P 19 e P 21) pelo equipamento americano AN/GRC-9, que conhecia da 3ª Divisão.

O cap Pereira Coutinho concordou com a ideia do AN/GRC-9, mas acrescentou que não se devia esquecer a necessidade de intercomunicação nas autometralhadoras, as quais deveriam ser dotadas com P 19. Deste modo lembro-me que a solução que apresentei superiormente, no Relatório que entreguei no Comando Militar na sequência deste encontro, foi a de ter indicado a necessidade de 160 AN/GRC-9 e 20 P 19 (estes últimos por influência direta do capitão Pereira Coutinho ).

O Relatório foi muito bem recebido pelo Comando Militar que passou a defender superiormente a necessidade de reforço dos meios rádio existentes.

Para além deste exemplo, do Relatório, da franca cooperação que tivemos com o capitão Pereira Coutinho, outros houve que descreve no livro e dos quais me permito assinalar os mais significativos enquadrados no esforço que se fez, no DEI, para a preparação face á invasão indiana. Vejamos alguns destes casos;

Pereira Coutinho refere “eu ter facilitado a ida do radiomontador do seu esquadrão para as oficinas do DEI, uma vez que na sua unidade nada podia fazer”.[12]

Sempre pensei que quem tinha que estar grato pela presença do radiomontador do ERec nas oficinas do DEI éramos nós, que beneficiávamos de ter mais um sargento radiomontador nas oficinas do DEI, aumetando a sua capacidade de resposta às inúmeras solicitações que tinha que responder.

Estava a chefiar as oficinas o então sargento Conceição Dias, que conhecia do BTm3.  Era excelente em competência e dedicação. Teve iniciativas interessantes. Penso que muito ganharia este Blogue se ele se dispuzesse a narrar a história da sua passagem pela Índia, em particular como chefe das oficinas de radiomontador do DEI.

A certa altura, o capitão Pereira Coutinho, a respeito das redes fixas, sugeriu que “para já era uma boa solução arranjar para cada posto das diferentes redes rádio um recetor transistorizado, o que não seria muito dispendioso, iria permitir escuta permanente e poupança dos ZC – 1. Passado pouco tempo, o ERec4 recebeu um Siera. A solução resultou muito bem. Logo a seguir, para a rede do esquadrão foram recebidos mais três recetores National, que satisfizeram perfeitamente”[13]

A sugestão do capitão Pereira Coutinho foi transmitida superiormente e rapidamente concretizada, mostrando o interesse que passaram a merecer ao Comando Militar os problemas de Transmissões.

Em relação ao problema das redes rádio fixas e que funcionavam, procurou-se, por parte do DEI, fazer uma vistoria completa a todos os postos da rede, nomeadamente a orientação das antenas para otimizar as condições de emissão e receção. O sargento encarregado dessa terefa foi o então sargento Rogério, que fez un excelente trabalho.

Em relação às redes fixas, desta vez telefónicas, um militar do DEI, de que guardo as mais gratas recordações, foi o sargento Ramos que me propôs a substituição de postes de madeira da rede telefónica por postes de betão armado, para a qual fiz o respetivo cálculo. Construiram-se os primeiros postes, mas com a invasão nenhum chegou a ser instalado.

“Também sugeri que, para guarnecer a rede de comando do CTI, me parecia vantajoso recolher os quatro SCR-193 que estavam nos esquadrões de reconhecimento e instalá-los nas viaturas de TSF da Companhia de Transmissões. Ainda me lembro de ter recomendado que as baterias para alimentação do rádio, que eram independentes do sistema elétrico das viaturas, deveriam ser de 180 Ah.”[14]

Esta sugestão, dada a sua pertinência, também teve o devido seguimento. O sargento Rogério, se a memória me não falha, foi quem fez estas montagens. O falhanço destes postos, durante a invasão não derivou dos SCR-193 mas do sistema de carga de baterias das viaturas. Funcionaram até as baterias se descarregarem…

Pereira Coutinho, depois de referir as infrutíferas diligências do Comandante Militar, em Lisboa, para conseguir o fornecimento de material de Transmissões refere que “Não foi autorizado o fornecimento de qualquer material. Ainda bem. Sejamos pragmáticos. Se os meios tivessem sido fornecidos, o curto período que decorreu até ao momento em que se deu a invasão não dava tempo para os rádios serem instalados nas viaturas, o pessoal instruído e as redes ficarem operacionais. Por outro lado, o fato de não terem  sido fornecidos transferiu para a governação do país e do exército a responsabilidade pela inexistencia no CTI de um sistema de transmissões rádio capaz de apoiar as forças em operações.”[15]

Mais uma vez concordo com o “Ainda bem” do MGen Pereira Coutinho.  Caso o pedido tivesse sido satisfeito pelo Governo e se tivessemos conseguido que as redes operacionais passassem a funcionar no CTI (o que não era nada provável) isso não alteraria em nada o resultado do conflito, dada a esmagadora superioridade das forças indianas. Eram  uma despesa e esforço completamente inúteis.

Neste post julgamos ter contribuido para divulgar alguns apontamentos, pouco conhecidos, sobre a atuação das Transmissões da Índia, baseados no testemunho do MGen Pereira Coutinho, a quem aproveito para prestar a minha homenagem e afirmar o meu reconhecimento pelo apoio que me deu no CTI e pela valiosa ação que lá desenvolveu em proveito das Transmissões.


[1] O capitão Pereira Coutinho introduziu no BTm3, com sucesso, a metodologia de ensino de Morse praticada na EPC

[2] Durante a invasão estivemos em locais diferentes e depois em campos de prisioneiros diferentes. Ele em Pondá e eu em Alparqueiros

[3] Concluído em Outubro de 2013

[4] O texto mais desenvolvido que conhecemos sobre esta matéria encontra-se no livro da CHT  As Transmissões Militares da Guerra Peninsular ao 25 de Abril, pág. 121 a 126.

[5] Livro do MGen P Coutinho pág 22

[6] Idem pág. 43

[7] Idem, pág. 44

[8] Idem, pág. 45

[9] Idem pág. 45

[10] Idem, pág. 63

[11] Ver livro  citado da CHT pág. 124

[12] Livro citado do MGen Pereira Coutinho, pág. 60

[13] Idem, pág. 61

[14] Idem, pág. 61

[15] Idem, pág. 62

5 comentários em “As Transmissões na Índia em 1961

  1. Os meus parabéns ao Sr MGen Pedroso de Lima pelas informações que nos transmite sobre as transmissões na Índia em 1961.
    Há poucas informações e estas são preciosas para termos algumas noções das dificuldades passadas pelos homens das transmissões.
    Revi as fotografias de alguns dos equipamentos do início da minha carreira militar em 1961 como instrutor dos mesmos na Escoila Militar de Electomecânica.
    Obrigado meu General.

  2. Tive o grande prazer de conhecer o Senhor MGen António Pereira Coutinho, em Elvas, durante a inauguração da exposição sobre meios de comunicação militar. Foi um encontro único.
    A sua lucidez, simpatia e o profundo conhecimento sobre as transmissões deixaram-me a mais agradável das impressões. A conversa versou variados temas, desde os aparelhos menos conhecidos, às suas fontes de alimentação, pilhas, amplificadores e outras questões relacionadas.
    O momento não permitiu que a conversa se prolongasse, no entanto, aquilo que me disse e que não vem nos livros, por ser fruto de uma experiencia própria, foi de extrema importância.
    Espero que a vida nos proporcione mais algum tempo frente a frente.
    João Freitas

  3. Os meus agradecimentos ao TCor Viegas de Carvalho por o meu post lhe ter merecido o comentário que teve a amabilidade de fazer, e que tem o mérito de contrariar a prática corrente neste Blogue,
    Penso que há muita história por contar, vivida pelo nosso pessoal ao serviço das transmissões . Por exemplo, na minha estadia na Engenharia no final da década de 50 e no princípio da década de 60 estive no BTm3 e no DEI na Índia. Na parte de Manutenção apercebi-me da excelência das oficinas do Pelman do BTm3 e das Oficinas do DEI. Muito pouco está escrito sobre isso. Não parece que isso seja irremediável e que os protagonistas não possam, neste Blogue, deixar os seus testemunhos, enquanto é tempo.

  4. Ao fim de tantos anos “deu-me” para escrever D.E.I. e, afinal há testemunhos escritos dessa sigla histórica.
    Li os escritos e, não comungo da maior parte do que foi explanado.Fui Radio-Telegrafista e chefe de Postos;estive no Altinho(Pangim),Mapuçá,Bicholim;Alparqueiros (Vasco da Gama),Pondá (séde do
    D:E:I:) com passagem rápida por Aguada e Angediva.Na minha condição de não
    profissional militar devo afirmar que genéricamente o material de transmissôes era
    uma trampa e repare-se que era a Rede do Comando;isto é não era a dos Esqua-
    drôes de Cavalaria ou de Caçadores.Éramos uns tantos ao serviço 24 horas por
    dia com material de trabalho e condicções atmosféricas diabólicas.Lembro ainda
    com muita “raiva” quando já Prisioneiro entrei aliás,reentrei em Alparqueiros e vi
    na que fora a parada,alinhadas,seis viaturas móveis de rádio ainda por estrear,
    quando durante dois anos fiz questão de informar da situação precária dos apa-
    relhos com que trabalhávamos.Mesmo assim, sem medir as consequências, entrei
    em todas elas e parti as válvulas, deixando-as inoperações.
    Para vós Oficiais é tudo agradecimentos versus agradecimentos, condimentados
    com processos feitos e não andados ou recusados:Na prática, os executantes no
    terreno é que tinham que “desenrascar”.
    Lembro em notas breves:o então major Morais, nomeado comandante do Agrupa-
    centro deu-me ordem para abandonar o D:E:I: (só já lá estávamos dois radio-tele-
    grafistas) mas entretanto recebeu um pedido do então Capitão Engrácia para lhe
    ser enviado meio de transmissões:Pois,… o meu Posto Móvel foi enviado com o
    meu colega ao Esquadrão do Capitão Engrácia e eu tive de desmontar os apare-
    lhos fixos do DEI e monta-los numa camioneta aberta,já com os avioôes da U.I.
    a sobrevoarem em reconhecimento:Valeu que entretanto o major Morais,”apanhou”
    na estrada,…em fuga para Mormugão e completamente alucinado um soldado guiando um Posto Móvel e, obrigou-o a ir ao DEI ao meu cuidado.Parei de montar
    o da camioneta aberta e utilizei o “milagre chegado”, já debaixo do bombardeamento do quartel e fui juntar-me ao comandante do AgrupoaCentro.

    Isto é um resumo resumido de um soldado da India, sem parangonas floreadas.
    Creio que ainda está por ser feita justiça aos modestos e ignorados intervenientes
    desse triste episódio da Nossa Historia.

    J.Viegas

  5. Em relação ao comentário do sr. José Marques Viegas , junto dois breves esclarecimentos ao texto do meu post “As Transmissões na India em 1961”.
    O post resultou da leitura do trabalho do MGen Pereira Coutinho, que considero de grande qualidade, “A Minha Comissão de Serviço no Estado Português da Índia como Comandante do Esquadrão de Reconhecimento Nº 4 “Afonso de Albuquerque”.
    No post tratei apenas dois temas, interessando aqui apenas focar a situação das transmissões na Ìndia, mas unicamente para o caso das transmissões de campanha nomeadamente quanto à sua capacidade de responder a situação de conflito, tal como acontecia no livro,
    Dentro deste critério não cabia referir nem problemas da Rede de Comando, antes da Invasão, nem a qualidade do DEI, embora não ignorasse a grande qualidade dos radiotelegrafistas que guarneciam as estações e que permitiam que o serviço se fizesse, em condições dificílimas e com material francamente obsoleto e também não poder esquecer que o DEI foi a melhor unidade a que pertenci em toda a minha vida militar.
    A rede de Comando, que ligava o QG aos Agrupamentos, durante a Invasão, estava equipada com o melhor rádio que existia na Ìndia, em quantidades muito limitadas – o SCR -193 – montado nas “viaturas de TSF” que eram velhíssimas e que,. nos meses que antecederam a invasão, foram reparadas mecanicamente e revistos os seus sistemas de carga de baterias.. Como referi no post, o que falhou não foram os rádios, nem as viaturas, mas o sistema de carga de baterias.

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