Autor : Tenente-Coronel Tm (Eng.º) Paulo Margarido

Adjunto do Gabinete de Planeamento e Coordenação de Projetos da DCI

Com o propósito basilar de assegurar a entrega da mensagem ao destinatário, garantindo sempre uma execução em cumprimento da urgência necessária, tem sido um desafio crescente integrar a plenitude de sensores e as necessidades de informação dos principais utilizadores. Trata-se de um contínuo exercício indutivo, com vista a antever as necessidades fundamentais que se poderão apresentar, gradual e sucessivamente, acrescentando capacidades mediante os desenvolvimentos tecnológicos e maximizando o parco investimento disponível nas mais valias possíveis.

Figura 1 – Lacunas nos canais de
comunicação utilizados

Num cenário de evolução rápida e exponencial, em que a celeridade do surgimento de novas tecnologias emergentes e transformativas suplanta a capacidade, dotação orçamental e rapidez na efetiva adoção das novas soluções, ainda que com o esforço contínuo de uma equipa que acompanha os vários desenvolvimentos da indústria, também com um número limitado de efetivos (como perpassa nos vários quadros do Exército), verifica-se que o material recebido muitas vezes não representa já uma solução atualizada ou state of the art.

O projeto “Combat Net Radio” (CNR), em fase de desenvolvimento, é um exemplo concreto do referido, que conta com um rádio eleito (P/PRC-525) que disponibiliza comunicações seguras (SECOM-V), como principal meio de comunicação e que está ao serviço há tempo suficiente para ser sujeito a uma atualização de meio do tempo de vida. O referido rádio não permite a utilização da única forma de onda segura disponível nos Rádios dos Baixos Escalões (RBE) (onda TNW-50), tornando assim impossível a comunicação entre esse projeto e os baixos escalões.

Numa análise mais recente do projeto CNR, com vista à modernização e atualização do projeto, face ao contexto evolutivo acima descrito, foram, assim, encontradas algumas lacunas nos canais de comunicação utilizados (figura 1) entre as viaturas e os combatentes, bem como de acesso à estrutura central de comunicações, o SIC-T (Sistema de Informação e Comunicações – Tático).

Desta forma surgiu a ideia de criação de uma arquitetura unificada de comunicações (figura 2) para viaturas militares táticas, em complemento ao projeto CNR, com vista a equipar as viaturas de combate do Quadro Orgânico de Material das unidades de manobra, desde o mais baixo escalão, para que possam utilizar as diferentes ferramentas de Comando e Controlo com o máximo proveito e flexibilidade para os combatentes.

Neste sentido, e com base nas opiniões dos operadores, face às limitações encontradas do uso da arquitetura do CNR em desenvolvimento, foi explorado o conceito da criação de uma arquitetura genérica, onde a estrutura de comunicações das viaturas de combate se possa basear independentemente da tipologia, permitindo uma mais ágil transformação entre tipologia e, bem assim, canais logísticos mais leves.

O racional utilizado para esta nova arquitetura genérica foi o de utilizar os meios já disponíveis no Sistema de Combate do Soldado (SCS) e no SIC-T, tentando maximizar as larguras de banda disponíveis nos diferentes tipos de meios rádio, e o de ter por base a utilização dos meios do SCS durante toda a operação. A utilização dos meios SCS permite evitar a troca de meios de comunicação dentro e fora da viatura e integrar todos os meios com um equipamento já em uso (o Sistema IP de intercomunicação (ICC- 401), permitindo assim a utilização de canais de voz entre todos os meios de comunicação rádio, com independência dos mecanismos concretamente utilizados (SECOM-V ou TNW-50) nas comunicações seguras.

Esta arquitetura única não está totalmente finalizada, encontrando-se em curso desenvolvimentos relevantes na atualização do rádio P/PRC-525, que permitirá a inclusão da capacidade de implementação da forma de onda TNW-50, compatibilizando o PPRC-525 com RBE (por exemplo o R&S TR5000H) e o Sistema de Informação e Comunicações Tático (PDR 6.00), sem qualquer perda na sua função principal.

Figura 2 – Diagrama de blocos da arquitetura única

Outro dos projetos (figura3) em maturação no âmbito da arquitetura única, mas cuja implementação se prevê como possível num prazo mais curto, é o de inclusão dos acessórios de passagem de voz, dados e energia dos rádios de combate para a viatura. relevantes na atualização do rádio P/PRC-525, que permitirá a inclusão da capacidade de implementação da forma de onda TNW-50, compatibilizando o P/PRC-525 com RBE (por exemplo o R&S TR5000H) e o Sistema de Informação e Comunicações Tático (PDR 6.00), sem qualquer perda na sua função principal.

Efetivamente, o protótipo que permitirá essa inclusão encontra-se em fase final de desenvolvimento e permitirá aos militares, ao entrar na sua posição na viatura, usufruírem de uma comunicação filar para canais de voz entre a tripulação e o recarregamento de baterias dos equipamentos que estão a cargo do militar, mantendo, deste modo, as comunicações de voz e abrindo canais mais amplos para a transferência de dados.

Figura 3 – Projeto de Conexão de Veículos com os Sistemas de Apoio ao Soldado (C4I-DSSVI)

Um dos principais fatores deste desenvolvimento, que está já em fase de validação, é o encaixe, que se pretende que assuma simplicidade (permitindo a sua operação com luvas), baixa complexidade (não requerendo a dispersão da atenção do militar para o operar), robustez (procurando assegurar o máximo de durabilidade possível nas circunstâncias mais extremas) e rápido desacoplamento (permitindo ao militar uma saída rápida e imediata para fora da viatura, sem precisar de qualquer procedimento moroso).

Ainda que com as limitações de efetivos e de investimento, espera-se que os projetos em curso, com assento numa arquitetura única, elevem as capacidades de comunicação nas viaturas militares e, com isso, possam ampliar a facilidade de comunicações entre os vários meios rádio existentes, criando soluções que melhoram a interação dos utilizadores com os equipamentos e diminuem os tempos de ação/reação, tendo em vista a crescente integração de meios no campo de batalha de suporte ao comando e controlo.

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