Segundo um velho dicionário da Porto-Editora, almenaras significam: “fachos que se acendiam nas torres dos castelos para alumiar ao longe ou dar sinal de alarme. (Ár. Al-manara).
Segundo J. Leite de Vasconcelos, in “Etnografia Portuguesa”, vol V, p. 162, Nr 1, ICNM, Lisboa, 1982, facho tem a seguinte explicação: “O facho era o antigo telégrafo para dar conhecimento de tropas ou sublevação popular. Era uma caldeira grande, contendo breu, resina, etc., que se acendia quando era preciso e fazia muito fumo. Guindava-se por cordas ao cimo de um torreão de pedra e madeira, muito alto. Os lugares onde os havia eram muito altos e houve um, do qual se veem ainda as duas pedras do alicerce e que deu o nome ao monte, que hoje é conhecido por Monte do Facho. Havia um juiz e subordinados que tinham o encargo de acender o facho”.
O post do T Cor Jorge Golias sobre as Almenaras, além de ser o primeiro deste blogue sobre este tema, tem a maior oportunidade visto que foi apresentado dias antes da publicação da Revista Almenara, que sai no dia do RTm.
Para mais o tema é muito pouco tratado na historiografia das Transmissões, quer militar quer civil.
No campo militar, onde seria de esperar o seu maior desenvolvimento, visto que as Almenaras se destinavam a ser utilizadas em situação de conflito, para alertar a presença do inimigo invasor pouco se tem publicado sobre o assunto.
O Cor Bastos Moreira nas suas Notas (vol I, pág.2) indica-nos apenas que “os gregos e os romanos empregavam para garantia da ligação, os fumos durante o dia e as chamas durante a noite,”
No livro da CHT As Transmissões Militares da Guerra Peninsular ao 25 de Abril refere-se (pág. 12) que “as almenaras pequenas torres situadas em locais mais altos permitiam de dia sinais com fumos e de noite com fogo.
Refere a seguir, com base no livro As comunicações na Idade Média refere que “ Fernão Lopes , nas suas crónicas, refere a utilização de Almenaras por D:João I e Nun´Álvares entre Lisboa e Almada e Lisboa e Palmela.”
O mesmo livro apresenta ainda uma fotografia da Almenara de Lérida em Espanha.
Em resumo julgo que se tem escrito muito pouco sobre Almenaras. Com efeito e voltando ao post do T Cor Golias apenas temos referência ao uso de Almenaras nos castelos na região de Lisboa (quando a sua maior utilização deveria ter sido na zona fronteiriça com Castela) e não conhecemos uma única torre isolada em Portugal visto que. quando pretendemos apresentar um exemplo, tivemos que recorrer a Lérida.
O post a que nos temos referido é, assim, também um desafio aos visitantes deste Blogue para acrescentarem o que conhecem sobre esta matéria..
O Elucidário (1), livro de finais do século XIX de frei Joaquim de Santa Rosa de Viterbo (1744-1622) apresente a seguinte definição de Almenaras :
“Fogos artificiais e convencionados com que desde os muros, torres ou atalaias se dava rebate de inimigos ou se faziam outros avisos aos que estavam distantes. O seu número, qualidade, repetição, etc., serviam de anunciar o que se passava. Estes eram os telégrafos de que os nossos maiores fizeram uso e de que são resto ou perfeição os nossos fachos. Ver Lopes, Azurara e Pina.”
A diferença essencial entre esta definição e a de Leite de Vasconcelos, citada no post do T Cor Golias é que Viterbo atribui às almenaras não só a capacidade de avisar a retaguarda da aproximação do inimigo mas também outros avisos (que não especifica),
A definição de Viterbo implicava assim o estabelecimento prévio de um código de sinais, de que nunca ouvi falar. De referir que o livro de Viterbo, na sua época, foi muito contestado por alegada falta de rigor.
Será que algum visitante do Blogue tem elementos para saber dizer qual das definições é a mais correta?
(1) Mais precisamente o “Elucidário das Palavras, Termos e Frases, Que em Portugal antigamente se Usárão:Obra Indispensável para Entender sem Erro os Documentos mais Raros e Preciosos, Qiue entre nós se Conservão: Publicado em Benefício da Literatura Portuguesa.”
Pág. 64 do Tomo I
Neste blogue, até agora, o tema Almenara não tem suscitado grande interesse, o que é bem traduzido na escassez de comentadores que se verifica.
Considerando que o tema merecia melhor sorte e que mais tarde ou mais cedo virá a ter tratamento adequado vou apresentar mais algumas considerações,
Em primeiro lugar convido os visitantes do blogue a apreciar. no youtube, com entrada “almenaras” o celebre video da cena do acendimento das almenaras denominado “Escena de las almenaras”.
Espero que a beleza e espetacularidade do famoso vídeo do “Senhor dos aneis” ajude a inspirar os visitantes do blogue e os leve a pesquisar e a apresentar comentários sobre este tema, Até porque a almenara era “a chama da esperança”.
Em relação às almenaras, entre nós, procurei esclarecer até que ponto era inteiramente válida a definição de Leite de Vasconcelos, citada pelo T Cor Jorge Golias no post em que considera a almenara apenas o fogo.Se assim fosse a torre não fazia parte da almenara. Uma chama em cima de uma torre seria 2 coisas: a almenara e a Torre. Pessoalmente não estava habituado a isso e desde sempre considerei, como no símbolo do RT, a almenara abrangendo o conjunto. Para minha satisfação encontrei esta interpretação na Enciclopédia Delta Larousse. Julgo ter percebido que almenara podia ter os dois significados.
Outro ponto é distinguir almenara de atalaia. Segundo Viterbo no “Elucidário” a atalaia era a torre mais alta do castelo, donde se fazia a vigilância da aproximação do inimigo. naturalmente que da atalaia se podiam fazer almenaras.
Surge também o termo facho, que encontramos no nome de várias terras do continente e ilhas. Está sobretudo ligado ao farol como orientador dos navios, no entanto tamém aparecem fachos, em torres , ligadas a missões de defesa em virtude dos corsários, e que foi objeto de reguamentação em 1570, no tempo de D. Sebastião e que merece , em meu entender, um tratamento mais detalhado.