Post do MGen Pedroso Lima, recebido por msg:
O pombo-correio tem sido objeto de vários posts, o que não invalida que haja vários temas importantes que ainda não tenham sido abordados neste Blogue, pelo que me pareceu adequado destacar aqui alguns.[1]
Dentro dos muitos temas interessantes suscitados pela leitura da “Breve Histoire des Pigeon-Voyeur” escolhi fazer uma breve referência aos seguintes:
- A columbofilia em Portugal
- As capacidades do pombo –correio e a simbologia
A columbofilia em Portugal
Surpreendeu-me verificar[2] que a columbofilia portuguesa, tem atualmente, expressão a nível internacional, visto que ocupa um lugar de destaque na Federação Columbófila Internacional, que aglutina cerca de 60 países de todos os Continentes. Com efeito, a columbofilia é, em Portugal, o segundo desporto mais praticado (logo a seguir ao futebol), com cerca de 20.000 associados, 750 clubes, com 4.500.000 pombos-correio registados e Portugal é bi-campeão Olímpico em columbofilia.
Gambeta prestes a embarcar de balão, durante o cerco de Paris[3]
No caso francês quando se deu, na guerra Franco-Prussiana, o cerco de Paris (1870-1871) a columbofilia já tinha expressão significativa em França e foi a columbofilia civil francesa que assegurou as comunicações de Paris, cercada, com o resto da França. A columbofilia militar só viria a ser criada em França em 1877.
Em Portugal a rede de pombais militares foi criada em 1880 (com um atraso relativamente pequeno em relação ao caso francês), mas ao contrário do que sucedeu em França, a rede militar foi criada de raiz, (com pombos belgas) sem qualquer recurso à columbofilia civil que deveria ter, na época, uma expressão muito reduzida.
No entanto convém assinalar que na Idade Média, em Portugal, se verificaram, possivelmente, atividades columbófilas, à semelhança do que se verificava em França. “Na Idade Média só aos senhores feudais e ao clero era autorizado a criação e detenção de pombos correio. Este “droit de colombier” apenas foi abolido com a Revolução Francesa, em 4 de Agosto de 1789”[4].
Em França a expansão do uso de pombos correios devia ser maior, porquanto “Na Idade Média: cada castelo, solar de fidalgo, quinta senhorial ou lugar de culto importante possuía um pombal cuja dimensão era proporcional à importância do proprietário. Estas infra-estruturas eram destinadas a produzir não só pombos para a alimentação, mas também pombos-correio. Estima-se em cerca de 50.000 o número destes produtores nas campanhas francesas do século XVIII».[5]
A capacidade de orientação dos pombos-correio e simbologia
Segundo a publicação a que nos temos referido, a excecional capacidade do pombo-correio para se orientar, que o leva a percorrer distâncias da ordem dos 1000 quilómetros para regressar ao seu pombal, deriva da conjugação de três sistemas anatómicos aperfeiçoados.
- Uma visão muito apurada associada a um « relógio interior » que lhe permite reconhecer a hora do dia ;
- O olfato ;
- A faculdade de perceber a informação do campo magnético terrestre, através de duas estruturas de localização diferentes: uma na caixa craniana e outra mos músculos do pescoço.
A ave parece ser influenciada mais ou menos por cada um destes sistemas conforme as condições exteriores, que lhe permitem, por exemplo, orientar-se de noite.
Mas os três sistemas anatómicos de elevada qualidade indicados, que possui, não serviriam para nada se o pombo-correio, ao ser libertado, não tivesse uma motivação muito forte para os utilizar, com vista a regressar ao seu lar o mais depressa possível.
E o pombo-correio tem essa forte motivação por os casais de pombos-correio estarem fortemente ligados, serem extremamente fieis e ciumentos de qualquer outro pombo.
Sendo largado o pombo ou pomba não descansa enquanto não volta ao convívio do seu par.
Este amor conjugal dos pombos é aproveitado pelos columbófilos que pretendem que, nos concursos, os pombos façam os percursos o mais rapidamente possível. Daí que utilizem, no seu treino métodos como o da « viuvez » que consiste em terem os pombos separados durante uma semana para lhes estimular o desejo de regresso. Muitos columbófilos têm métodos de treino que guardam zelosamente com vista a aperfeiçoarem os seus tempos de percurso.
Estas caraterísticas dos pombos correios levam a que sejam associados a uma simbologia. A primeira é como símbolo da paz e do Espírito Santo, nomeadamente com a descrição bíblica do batismo de Jesus Cristo por São João Batista, em que aparece o Espírito Santo sob a forma de pomba branca.
A pomba branca como símbolo de paz , no CEP, na IGM, encontra-se na página 56 do livro « As Transmissões Militares da Guerra Peninsular ao 25 de Abril », simbolizando o final da Grande Guerra.
Outra simbologia a que o pombo-correio está associado é a do Amor. Desde tempos muito remotos entre os fenícios existia a Deusa Astarté – a Deusa do amor – cujo símbolo era uma pomba.
Esta simbologia da pomba também existe na Deusa grega do Amor Afrodite e na romana Venus.
[1] Nomeadamente o post “Le Pigeon-Voygeur” e o trabalho “Une Breve Histoire do Pigein-Voygeur” nele referido.
[2] Ver Factos Curiosos – Federação Portuguesa de Columbofilia
[3] Notar que um militar transporta para o balão, na sua mão esquerda, o que parece ser um cesto para transporte de pombos-correio
[4] Ver documento citado da Federação Portuguesa de Columbofilia
[5] Ver documento “Une brève histoire de la Colombophilie”, publicado na Revue Historique des Armés e da autoria de Florence Calvet, Jean Paul De3monchaux, Regis Lamand e Giles Bonert. Em: http//rha.revues.org/1403.