Ao post do Maj Carlos Rosado “Memórias do Museu das Transmissões” (ver aqui) que, até agora, foi o único post do Blogue que, mereceu ser considerado como escrito em “prosa camiliana” por um grande apreciador de Camilo, apresentei um comentário onde manifestava o meu interesse em contactar o general Altino de Magalhães.

Com efeito, o post relata a proeza do general Altino Pinto de Magalhães de, numa visita à sala/Museu da EPTm, criada por iniciativa do major Rosado, para surpresa de todos os presentes, iniciar um diálogo, em morse, com um oficial de Exploração das Transmissões. No comentário referi a minha curiosidade em saber, através do general Altino, se esse saboroso episódio tinha tido alguma influência na concessão da verba de 500 contos que posteriormente atribuiu ao Museu e permitiu a sua criação.

GEN APMAGALHAESSó recentemente tive a oportunidade e o prazer de contactar telefonicamente o general Altino de Magalhães que, com 94 anos, se encontra no Lar de Oeiras do IASFA.

O amigo que me facultou o contacto tinha-me informado que o nosso general estava de boa saúde física e mental. Ele, no entanto, informou-me que, infelizmente, não era bem assim pois tinha problemas de locomoção, e tonturas que já o tinham feito cair algumas vezes e que estava a perder a memória.

Isso não impediu que a nossa conversa telefónica sobre transmissões fosse muito simpática e agradável para mim e julgo que também para ele, por lhe permitir recordar velhos tempos em que foi oficial de transmissões.

Em relação ao episódio referido ele disse que “apenas tinha uma ténue recordação”, donde se pode inferir que não pode afirmar que tenha tido alguma influência na atribuição de verba que fez.

No entanto, ao longo da conversa foi recordando factos que vale a pena referir e que contribuem para explicar o episódio.

O primeiro diz respeito à sua preparação em Morse. Tudo começou com o Curso de Transmissões para Oficiais das Armas que o general Altino tirou na Escola de Transmissões, na Penha de França, como subalterno, na década de quarenta do século XX. Classificou o curso de exigente, nomeadamente em Morse, que era eliminatório. Ele aplicou-se e transmitia e recebia a 60 a 80 carateres por minuto. Além disso teve prática posteriormente pois como oficial de transmissões foi instrutor de Morse em várias recrutas, aplicando o Morse pelo som e ótico por lanternas.

Depois o Morse é como andar de bicicleta, pelo que, mesmo como general ele continuou a ser capaz de comunicar em Morse.

No episódio referido ele confessou que pretendeu fazer um desafio e foi nesse sentido que pegou na chave de morse e disse: vamos lá a ver se alguém consegue entender a minha mensagem.

Felizmente na sala estava o capitão Morais de Exploração, (soube-o recentemente, por indicação do maj Carlos Rosado), que era o instrutor de Morse da EPTm , e que permitiu que o diálogo se prolongasse.

O diálogo por Morse teve assim, como protagonistas, o general Altino, um ex-instrutor de Morse, e o capitão Morais, instrutor de morse ao serviço na EPTm.

Outra informação que o general Altino teve a gentileza de me transmitir foi acerca da atribuição dos 500 contos para a criação do Museu. A ele, como Diretor Geral da Instrução, competia-lhe gerir a verba do Fundo de Instrução do Exército que resultava das verbas acumuladas nas unidades com as dispensas de fim de semana. A atribuição da verba à EPTm resultou de todo o seu passado ligado às Transmissões como oficial de transmissões e também por ter conhecimento do interesse das transmissões pelo Museu, através das visitas que fez à EPTm (não necessariamente apenas aquela a que se refere o Maj Rosado).

Julgo que teria interesse saber se o capitão Morais, antigo instrutor da EPTm ainda é vivo e se recorda o episódio que temos referido.