‘Post’ do TCor Jorge Golias, recebido por msg:
Na guerrilha as transmissões reduzem-se quase tão só às comunicações entre as bases e as principais unidades empenhadas, principalmente para pedidos e informações de carácter logístico (munições e víveres) e também para relatórios de operações.
Não há pedidos de apoio de fogos ou de evacuação até porque não há meios aéreos nem bases aéreas. Por outro lado, na guerrilha, a falta de apoio logístico sistemático em termos de manutenção e, sobretudo, de reabastecimento, inviabiliza a utilização de meios de transmissões tácticos (rádios a pilhas que rapidamente se gastam e cuja espera de renovação de stock é muito grande ou aparelhos que se avariam até pelo mau uso e que não têm manutenção no terreno).
A guerrilha também não promove grandes colunas de viaturas e homens que necessitem de transmissões para coordenação de movimentos. Raramente o fazia e quando isso sucedia tornava-se num alvo perigoso, por vezes previamente detectado pela escuta ou intercepção da contra-guerrilha. O contrário é que nunca sucedia, ou seja, a guerrilha saber de deslocações através da escuta ou intercepção das tm In.
Finalmente a guerrilha supria a falta de transmissões pelas informações das populações para saber do dispositivo, das operações e até das baixas que infligia.
Mas também na contra-guerrilha, as transmissões, apesar de estarem disponíveis em todo o TO, eram reduzidas ao mínimo, no limite devia haver mesmo silêncio-rádio, só interrompido para pedidos de apoio aéreo (de fogos ou de evacuação).
Na prática as coisas não se passavam assim, muitas vezes por indisciplina, e acabava por haver sempre comunicações durante uma operação. Já num deslocamento teria de haver transmissões de coordenação de movimentos e ligação entre a testa da coluna e a rectaguarda. Qualquer força no terreno tinha capacidade de comunicar com os seus aquartelamentos ou fazer pedidos de apoio aéreo directos ou não e de comunicar directamente com os aéreos.
Este uso limitado das comunicações acabava por dar ao STM (Serviço de Telecomunicações Militares) um papel privilegiado, não apenas no tráfego estratégico, administrativo e logístico, mas também no tráfego operacional (relatórios, etc.).
STM que estava em quase todos os locais onde havia aquartelamentos de envergadura (sedes de Batalhões, CAOP’s,COP’s, COT’s), pela simples razão de estes estarem sedeados nas grandes povoações.
STM ainda que se interligava com a rede civil existente. Pelo STM se escoava também grande quantidade de tráfego táctico (mensagens codificadas em grupos de 5 letras que os operadores de tm soletravam foneticamente a uma velocidade que tornava incompreensível o que diziam).
Daí o se concluir que o STM teve um papel tão importante na guerrilha como o das próprias tm de campanha, confundindo-se, por vezes, com estas.
Carnaxide, 10 de Abril de 2007 J.S.Golias
Trata-se de mais um post com a qualidade a que o Golias nos habituou.
Nele apresenta dois temas essencias, aliás pouco tratados na historiografia militar.
O primeiro refere-se à clara inferioridade, em termos de transmissões de campanha, das forças de guerrilha, o que me parece indiscutível.
Em relação ao STM refere a sua muito maior capacidade de escoamento de tráfego em relação às transmissões de campanha das forças combatentes, bem como a sua grande dispersão e interligação com os sistema de campanha.A isto quria só acrescentar que as transmissões das unidades combatentes dispunham de uma quantidade de equipamentos muito superior mas com um tráfego de natureza operacional naturalmente muito mais reduzido mas vital em situações críticas.
A minha esperança é que este tema seja suficientemente apelativo para suscitar mais e melhores comentários.