As radiações electromagnéticas ou ondas hertzianas constituem uma das poucas realidades físicas que foram teoricamente previstas antes de se ter conhecimento da sua existência. É verdade que a luz, que é uma radiação electromagnética, é uma entidade física conhecida desde sempre. A sua relevância está bem patente na referência que a Bíblia lhe faz: “Deus disse “Faça-se a luz”. E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas” [1] . No entanto não se conhecia a natureza da luz e a sua utilização, embora essencial, limitava-se aos fenómenos naturais a ela associados.
Foi o físico e matemático escocês James Clerk Maxwell, empenhado em perceber os fenómenos eléctrico e magnético e a sua relação, que, em 1864, no trabalho “A Dynamical Theory of the Electromagnetic Field”, deduziu matematicamente, através das célebres equações que têm o seu nome, que um campo eléctrico variável produz um campo magnético variável e que, por outro lado, um campo magnético variável produz um campo eléctrico variável. Mostrou ainda que campos eléctricos e magnéticos variáveis, num meio não condutor, se propagam em forma de ondas e com a mesma velocidade da luz. É do seu trabalho, anteriormente referido, a seguinte afirmação: “Esta velocidade (da propagação das ondas electromagnéticas) está tão perto da da luz, que parece haver fortes razões para concluir que a própria luz (incluindo o calor radiante e outras radiações) é um distúrbio electromagnético na forma de ondas”.
Baseado nas previsões de Maxwell, o físico alemão Heinrich Rudolf Hertz intuiu que uma descarga eléctrica no ar, além de provocar uma faísca visível a olho nu, deveria gerar as tais ondas electromagnéticas, uma vez que nessa descarga existem campos eléctricos e campos magnéticos variáveis. Hoje não seria preciso intuição científica para chegar a tal conclusão pois todos já observámos que um relâmpago ou uma motoreta a trabalhar provocam forte interferência em qualquer receptor rádio devido às faíscas que se originam, no caso do motor a gasolina da motoreta, nos terminais das velas de ignição. Todavia, no tempo de Hertz, não havia ainda qualquer tipo de receptor rádio.
Para comprovar a existência das ondas electromagnéticas, em 1886, Hertz utilizou como gerador dessas ondas (emissor) um dispositivo constituído por uma bobina de indução, que havia sido aperfeiçoada por Ruhmkorff, com o seu secundário ligado a um dispositivo constituído por dois condutores rectilíneos terminados, nas extremidades afastadas, por duas bolas metálicas grandes e, nas extremidades próximas, por duas bolas metálicas pequenas separadas, no ar, por um intervalo de alguns milímetros. As bolas metálicas maiores funcionavam como placas de um condensador de pequena capacidade e, assim, o conjunto bobina e sua terminação funcionava como um circuito oscilante LC. Cada vez que era aplicado ao primário da bobina um impulso de corrente contínua, eram originadas, entre as bolas metálicas pequenas, descargas eléctricas sob a forma de faíscas.
A maior dificuldade de Hertz foi conseguir um dispositivo onde fosse possível verificar a recepção das ondas. Note-se que, à época, não havia sido inventado qualquer dispositivo receptor de tais ondas, até porque elas eram desconhecidas. Hertz serviu-se de uma antena constituída por um fio condutor dobrado em forma de circunferência e com as pontas terminadas por duas pequenas esferas metálicas, a uma distância, uma da outra, de alguns décimos de milímetro. Colocando esta antena receptora a alguns metros de distância do equipamento produtor de faíscas, Hertz conseguiu verificar, com a ajuda de um microscópio, que de cada vez que havia produção de faíscas no emissor se gerava uma pequena faísca entre as bolas metálicas do receptor. Estava demonstrada a existência das ondas electromagnéticas.
[1] Genesis 1,3.
Permito-me felicitar o MGen Carlos Alves pelo seu primeiro post que espero constitua um exemplo para inicitivas semelhantes de outros membros da CHT e o princípio de uma promissora participação no Blogue.
Bem-vindo! Muitos parabéns!
Um post digno de quem, logo no primeiro ano da Academia Militar, não por acaso, ganhou o petit nom de Einstein. Muito bem, Carlos, parabéns. Agora é só continuares…