A Divisão de Instrução mobilizada para os exercícios em Tancos

ORGANIZAÇÃO
Em fevereiro de 1916, a fim de instruir as tropas que poderiam ser deslocadas para o teatro de guerra europeu, foi mobilizada a Divisão de Instrução para efetuar exercícios em Tancos.
A 3 de maio, o Quartel-General da Divisão instalou-se nos edifícios que lhe foram destinados e a 1 de Agosto foi dada por concluída a instrução. Os exercícios terminaram com uma grande parada na charneca de Montalvo, à qual assistiram o Presidente da República, o Governo, membros do corpo diplomático e adidos militares.
Apresenta-se a seguir a constituição da Divisão de Instrução mobilizada, cujas diferenças fundamentais em relação à Divisão de Instrução planeada nos finais de 1915 eram as seguintes:
– Na Divisão só foi mobilizada uma secção de TSF em vez das duas secções previstas no plano, uma de TSF M.T. e outra de TSF M.M.
– As Brigadas de Infantaria tinham dois regimentos em vez de três como previsto no plano;
– Uma “Coluna de Material Divisionário” a um escalão substituiu a “Coluna de Munições” a dois escalões;
– A “Coluna de Víveres” tinha apenas um escalão, em vez dos dois previstos anteriormente;
– Em cada companhia de infantaria o número de sinaleiros passou de 11 para 9;
– A designação de “velocipedistas” foi substituída por “ciclistas”;
– Não foram mobilizadas a “Secção de Subsistemas de Etares”, nem o “Parque de Rezes”;
– Finalmente, o número de elementos responsáveis pelas comunicações – telegrafistas, telefonistas, ciclistas, motociclistas e elementos de ligação (sinaleiros) – na Divisão mobilizada foi bastante inferior ao previsto anteriormente, que era de 1275.

1 – Quartel-General da Divisão
O QG da Divisão era constituído por um Comando e Estado-Maior e por vários serviços que funcionavam a nível divisionário. Em relação às comunicações, que agora nos interessa realçar, o Comando e Estado-Maior tinha quatro ciclistas e seis motociclistas.
Eram os seguintes os órgãos agregados ao QG:
– Escolta
– Serviço Telegráfico (o seu chefe era um capitão de Engenharia e tinha uma praça ciclista que era também amanuense)
– Serviço de Engenharia
– Serviço de Artilharia
– Serviço de Saúde
– Serviço Veterinário
– Serviço Administrativo
– Pagadoria
– Serviço Postal (com dois ciclistas)
– Serviço de Justiça
– Serviço de Polícia

2 – Tropas Divisionárias
Nas Tropas Divisionárias existiam as seguintes unidades, no âmbito do apoio de engenharia e comunicações:
– Companhia de Sapadores Mineiros;
– Secção de Projetores de Campanha;
– Secção Divisionária de Pontes.
– Secção de Telegrafistas de Campanha (com dois oficiais, 12 sargentos e 92 praças das quais 9 eram 1º cabo telegrafistas, 10 –2º cabos e soldados telegrafistas, 3 – 1º cabos sinaleiros e 8-2º cabos e soldados sinaleiros( ver quadro);

Secção de telegrafistas por fio- divisão de instrução (mobilizada)

– Secção de Telegrafistas Sem Fios (com 2 oficiais, 3 sargentos e 26 praças, das quais 2 eram 1º cabo telegrafista e 2 – soldado telegrafista – ver quadro);

secção telegr TSF digitalizado 001(mobilizada)
3 – Grupos de Baterias de Artilharia Montada de 7,5 TR (3)

Cada grupo era constituído por três baterias (total de nove baterias), tendo o seu estado-maior e menor, no âmbito das comunicações, um chefe telefonista (2º sargento) e cinco telefonistas, sendo um deles cabo.
Cada bataria tinha um 1º cabo telefonista e quatro soldados telefonistas.

4 – Regimento de Cavalaria
O Regimento de Cavalaria era constituído por dois Grupos de Esquadrões a dois Esquadrões cada um. O seu estado-maior e menor tinha, no âmbito das comunicações, um Pelotão de Telegrafistas, constituído por um oficial subalterno (comandante do pelotão), quatro ciclistas e dois motociclistas.
Cada Grupo de Esquadrões tinha, no seu estado-maior e menor um 2º sargento telegrafista e um 1º cabo telegrafista. Cada esquadrão tinha, por sua vez, um cabo telegrafista e quatro soldados telegrafistas.

5 – Brigadas de Infantaria (2)
Cada Brigada era constituída por dois Regimentos e cada Regimento por três Batalhões. O Comando e Estado-Maior de cada Brigada tinha dois ciclistas e o Estado-maior e menor de cada Regimento tinha um oficial, comandante do Pelotão de Telefonistas, um 2º sargento telegrafista, quatro telefonistas e três ciclistas.
Cada Batalhão de Infantaria tinha quatro Companhias, sendo que no estado-maior de cada Batalhão os agentes de ligação eram dois telefonistas e dois ciclistas. Por sua vez, cada companhia de Infantaria tinha dois telefonistas e nove sinaleiros.

6 – Grupos de Baterias de Metralhadoras (3)
Havia três Grupos, sendo um a três Baterias de Metralhadoras e dois a duas Baterias. No estado-maior e menor dos Grupos havia quatro ciclistas e três ciclistas, respetivamente.

7 – Coluna de Material Divisionário
O estado-maior da Coluna tinha quatro ciclistas e quatro motociclistas.
8 – Ambulâncias (4)
As Ambulâncias eram quatro e cada uma tinha um ciclista.
9 – A Divisão tinha ainda duas Coluna para Transporte de Feridos, duas Colunas de Hospitalização, uma Secção de Higiene e Bacteriologia, uma Secção Automóvel Sanitário, um Trem de Engenharia Divisionária, uma Coluna de Víveres (com três ciclistas), um Comboio Automóvel com 12 secções, sendo três de reserva, havendo dois ciclistas e dois motociclistas na direção do Comboio e dois motociclistas em cada uma das suas secções.
MAPA DA FORÇA
Apresenta-se o quadro do mapa da força da Divisão de Instrução, verificando-se que o total de mobilizados foi de perto de 20 000 homens.

1-Mapa da Força da Div Inst. em Tancos 001

MAPA DO PESSOAL DE COMUNICAÇÕES
Da análise do mapa salienta-se que do total de 824 elementos ligados às comunicações, as duas Brigadas de Infantaria tinham 432 sinaleiros, 112 telefonistas e 40 ciclistas.

Quadro responsáveis pelas comunicações DI mobilizada 001

UNIDADES E FORMAÇÕES DA DIVISÃO DE INSTRUÇÃO
O quadro que se apresenta faz uma síntese das unidades e órgãos da Divisão de Instrução, assim como da proveniência das tropas e dos seus centros de reunião e mobilização:

div unidades e mobilização 1 001 Adiv unidades e mobilização 2 001 Adiv unidades e mobilização 3 001 A

1 comentário em “Grande Guerra -III- A Divisão de Instrução (mobilizada)

  1. Este post, dedicado à Divisão de Instrução mobilizada para as manobras de Tancos, em 1916, vem na sequência do post publicado, neste Blogue em 4 de janeiro, dedicado à organização da Divisão planeada e em que se assinalam as diferenças de efetivos na DI e no pessoal de Transmissões.
    Estes dois trabalhos inéditos, que necessitaram de muitas horas de trabalho (implicaram a análise de pormenor dos QO de toda a DI), permitiram para já, verificar a evolução que se verificou entre a DI planeada e mobilizada.
    Julgo que o modelo será utilizado na análise da organização do CEP.
    Está portanto de parabéns o coronel Costa Dias, por estes trabalhos, mais um passo importante nos trabalhos em curso na CHT sobre as Transmissões na IGM-
    Sem deixar de reconhecer o indiscutível mérito e importância destes trabalhos, permito-me, no entanto, afirmar que julgo que o critério utilizado de apenas considerar algumas especialidades é restritivo e dá lugar a uma avaliação por feito dos “elementos ligados às Transmissões” na DI.
    Um exemplo é a secção de Telegrafia por Fios. Tem no QO 106 elementos dos quais apenas são apontados 42 ligados às Tm. Porém, para mim, todos os 106 elementos de secção deveriam ser considerados (mesmo o ferrador , o clarim, pessoal dos carros, etc.) porque foram mobilizados para permitir o funcionamento da Secção. Ou seja, a sua mobilização para a DI só se justifica para permitirem o funcionamento das Tm.
    Porém só iniciarei aplicação deste critério mais abrangente (por envolver a análise dos QO de toda a DI) se a CHT considerar que isso poderá ter algum interesse para os trabalhos em curso.

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