O heliógrafo, ou telégrafo óptico, é um aparelho que utiliza o reflexo dos raios solares num espelho para transmitir um código. Em dias de excepcional visibilidade, pode transmitir uma mensagem a dezenas de quilómetros.
Vários foram os heliógrafos utilizados em Portugal ao longo dos séc XIX e XX. Todos eles já aqui foram referidos e tiveram alguma informação disponibilizada neste blogue, nomeadamente o Martins, o Mance, o OMI e o mod/938.
Devemos hoje considerar portugueses dois desses heliógrafos (o primeiro, sem dúvida, mas também o último), sucessivamente utilizados no passado pelo Exército português:
– O primeiro foi inventado pelo então sargento Manuel Martins na década de oitenta do séc XIX (1884) e consistia de dois modelos, o grande, de espelho rectangular, para estações fixas/de guarnição, e o portátil, de espelho redondo e de menores dimensões, para utilizações móveis/táticas. Com o modelo grande foi montada pelo Exército uma rede heliográfica que previa, em 1889, cobrir mais de dois terços do território continental, com 58 estações militares, mas que ficou aquém do pretendido.
Em 1898, quando era já instrutor do serviço telegráfico na Direcção dos Telégraphos de Guarnição e Pombaes Militares, Martins publicou um livro sobre “Telegrafia óptica e acústica” onde estas suas invenções (e outras, como por exemplo o phanógrapho Martins, para comunicação de noite, com luz artificial) foram apresentadas, descritas e tratadas, e de que apresento aqui alguns elementos de interesse, relevantes para este postal:
O modelo grande, sobretudo, foi largamente utilizado no País e durante algumas dezenas de anos.
Nas figuras seguintes podem ver-se:
– estação de Palmela, instalada junto ao castelo, nos inícios do séc XX, podendo observar-se o heliógrafo Martins grande em operação, aqui com recurso a um espelho auxiliar (para situações com o sol por trás);
– heliógrafo Martins grande modelo, montado em tripé;
– a rede heliográfica militar em 1889, no seu auge, tal como consta do livro “As comunicações militares de relação em Portugal”, de 1938, de Afonso do Paço;
– a rede heliográfica militar efetivamente existente em 1899 (ter em atenção que a rede telegráfica eléctrica já vinha sendo instalada desde 1855 pelo Corpo Telegráfico);
Já no séc XX, apesar de o heliógrafo Martins continuar a ser usado pelos especialistas de Transmissões (então ainda integrados na Arma de Engenharia) até aos anos trinta (bem como o aparelho óptico Mangin, para uso noturno, entretanto introduzido, também para uso exclusivo destes especialistas), o principal heliógrafo utilizado pelas restantes Armas do Exército foi, sobretudo a partir da participação na Grande Guerra e até finais da década de 30, o heliógrafo Mance.
Nas imagens seguintes, e a este propósito, podem também aqui ser consultadas as instruções sobre o heliógrafo Mance, para os Sinaleiros da Arma de Infantaria, retiradas do livro Sinaleiros, de 1926, da autoria do ten Infª Rodrigo Guedes Pinto:
– Mais tarde, na sequência da aquisição, cerca de 1930, de um heliógrafo italiano (OMI – Ottico Meccanica Italiana) que utilizava um manobrador e palhetas móveis para cobrir ou descobrir a reflexão do sol, mantendo fixos os espelhos, o que era vantajoso para uma mais fácil transmissão dos sinais Morse, este aparelho veio a ser alterado e largamente melhorado, primeiro pelas Oficinas Gerais de Engenharia (OGME) e mais tarde pela fábrica militar de Braço de Prata, constituindo verdadeiramente um novo modelo de heliógrafo, que mereceu a designação de heliógrafo português mod/938 e teve larga divulgação e utilização.
Duas imagens do heliógrafo OMI pertencente à coleção visitável do RTm (Lisboa), hoje DCSI:
E três imagens do mod/938 pertencente à mesma coleção:
As instruções para este heliógrafo português mod/938 já anteriormente foram publicadas neste blogue, podendo ser consultadas clicando aqui.
Exmos. Senhores
Muito Vos agradeço que reencaminhem para o Senhor Coronel José Manuel Canavilhas[1] o meu pedido de informação das localidades a que correspondem os postos 47 a 50 da Rede heliográfica em 1889.
Saudações
Mário Rui Simões Rodrigues Rua Carlos Eugénio, L. 30 – 1.º Esq.º 2410-043 Leiria Portugal 244040109
Ex.mo Sr Mário Rodrigues:
Como lhe disse na msg que lhe enviei para o seu endereço pessoal, alterei um pouco o texto e acrescentei-lhe um mapa, de 1899, para o tornar mais claro, uma vez que os dois mapas parecem tratar realidades demasiado diferentes em apenas uma dezena de anos. A conclusão de que o primeiro, de 1889, se baseia num estudo, é minha, face à realidade de 1899, mas pode tratar-se tão sómente de um progressivo abandono de muitas estações, apesar de isso não parecer credível em tão pouco tempo e numa época em que as alternativas para uma rede de comunicações não eram ainda muitas.
De qualquer modo, posso dizer-lhe que a informação constante do primeiro mapa foi retirada do livro “As comunicações de relação em Portugal” de 1938, do TCor Manuel Afonso do Paço.
A pág 250 do livro citado permite dar resposta às seguintes localizações:
. 47 – Rabaçal – Monte de Cinco Reis.
. 48 – Figueira da Foz – Encosta do cabo Mondego.
. 49 – Sicó – Junto à povoação deste nome.
. 50 – Serra de Aire – a 15 km aproximadamente de Torres Vedras.
Se vier a identificar claramente no terreno estes e/ou outros locais, agradecíamos que nos informasse e providenciasse a informação que conseguir obter.
Com os melhores cumprimentos,
José Manuel Canavilhas