Nos finalistas do 4º Ano da Academia Militar (Ano Letivo de 1962/63), houve pela primeira vez um curso de Transmissões (14 cadetes-alunos) para promover a Alferes-Alunos de Transmissões destinados a frequentar no Instituto Superior Técnico (IST) a especialidade de Engenharia Eletrotécnica (os últimos 3 dos 6 anos curriculares daquele prestigiado Estabelecimento de Ensino).

Os Cadetes deste Curso de Transmissões (que geraria os primeiros Oficiais Engenheiros Eletrotécnicos para a futura Arma de Transmissões), debateram-se com o problema de a Arma ainda não estar efetivamente criada nem decididos outros aspetos importantes. Entre outros, os traços heráldicos e identificativos da nova Arma, como o seu lema, o seu brasão e até  o desenho da carcelas a impor às golas do Uniforme n.º 1 (na altura o dolmen era fechado) a usar no ano seguinte (1963/64) com a promoção a Alferes-Alunos no IST.
Refira-se que o problema das carcelas foi resolvido, mas já o lema “Por Engenho e Ciência” só foi comunicado ao Director do Gabinete de Heráldica do Exército pela Nota 9216 de 2DEZ1968 da Direção da Arma de Transmissões (nessa altura, o signatário pertencente ao curso originário, já era capitão numa comissão de serviço na Guiné).

Foi neste contexto de necessidade de afirmação e de criação de tradições que os os Alunos do Curso Pioneiro do 4.º Ano da AM, e antes de prosseguirem como Oficiais-Alunos  para o IST, tiveram a ideia de conceber um cerimonial de Passagem de Testemunho ao curso seguinte, seguido de um convívio gastronómico. Esse Testemunho teve expressão física num BASTÃO “fabricado” na área oficinal da Academia Militar em Gomes Freire e que foi passado para o responsável do próximo curso, e cada novo aluno recebia o emblema (o aranhiço) do padrinho (que era o cadete com o mesmo n.º de curso, fazendo-se as adaptações necessárias porque os cursos não tinham exatamente o mesmo número de alunos). O Bastão era oco e continha um papiro enrolado com as assinaturas dos Alunos que passavam o testemunho.

No ano seguinte, foi ensaiado um Grito para a Arma e assim nasceram algumas tradições que o futuro iria consolidar. Foi este genuíno Cerimonial da Passagem do Bastão que terá evoluído para os atuais e muito agradáveis Jantares de Convívio, inapropriadamente chamados de “Jantar do Ceptro”, o que não é de louvar porque representa uma adulteração do nome de batismo original e ainda por cima é completamente inadequado, uma vez que o “Cetro” é realmente um bastão, mas muito específico como um dos três símbolos do Poder do Rei (Coroa, Manto e Cetro). O Bastão, por outro lado,  faz parte especificamente da terminologiadas forças armadas, como, por exemplo, o bastão de Marechal.

No “Jantar do Bastão” de 2003, que teve lugar sob a forma de “Almoço” no dia 13 de Dezembro na Escola Prática de Transmissões, pedi a palavra na altura das intervenções e fiz uma breve resenha do que agora digo, terminando as minhas palavras com o Soneto “O BASTÃO” que pedi para ser anexado ao Livro de Actas e que, a seguir, transcrevo:

   Gomes Freire, 4º Ano – Transmissões
Já os vejo findando a Academia…
São catorze, não faltam ilusões
Na construção da Arma dia a dia.

   Cedo intentaram inventar o Grito
Tornado paradigma da missão;
Implantaram seus nomes por escrito
Em papiro contido num Bastão,

   Que é simples, de formato original:
Visava ser prova testemunhal
A outorgar à nova geração.

   Por isso aquele que na mão o tome
Não curará de lhe alterar o nome
Porque haverá de honrar a tradição

Aluno nº 200 do 1º Curso de Electrotécnicos de Transmissões – 1959/66

Obs: nas págs 248 e 249 do livro As Transmissões Militares existe um texto sobre esta tradição e uma foto do Bastão das Tm

2 comentários em “O Bastão – evocando uma tradição

  1. Em relação ao post do majorgeneral Bento Soares apenas acrescentaria que no livro As Transmissões Militares é referido que no jantar do Ceptro – tradição académica na Arma de Transmissões, se realiza o velho cerimonial do Bastão.
    Trata-se de uma solução híbrida, a que me associei por me parecer satisfazer as correntes de opinião existentes na Arma.
    Considero, contudo, que a questão da designação do Jantar não tem importância suficiente para me impedir de continuar a comparecer nos jantares, caso a comissão organizadora continue a ter a amabilidade de me convidar, o faça para o Jantar do Ceptro, Jantar do Bastão ou Jantar do Ceptro/Bastão, como também já tem sucedido.

  2. À superior atenção do camarada e amigo Maj. Gen. Pedroso de Lima

    Meu General:

    Anoto o seu “híbrido” comentário.
    Há porém alguns equívocos:
    Consultando o Livro das Actas verá que inicialmente estava referido Jantar do Bastão, mas em determinado momento alguém se lembrou de escrever Jantar do Ceptro e noutras ocasiões Jantar do Bastão/Ceptro (ou vice versa pois sito de memória).
    Tem razão quando diz que nos jantares ocorre a Cerimonial do Bastão. Ora, assim sendo, há – a meu ver – falha de coerência na introdução da palavra ceptro nada adequada à coisa militar e cheirando a snobismo serôdio, quando outrossim a palavra Bastão, cunhada pelo Curso que concebeu o Cerimonial, é perfeitamente adequada à linguagem castrense.
    Impõe-se portanto salvaguardar a genuína tradição, tanto mais que ainda pode ser testemunhada pelos 12 oficiais vivos e pertencentes aos 14 “magníficos” ( que assim “modestamente” se autointitularam!).
    Aproveito para render as minhas homenagens aos 2 Oficiais Falecidos Cunha Lima e Cruz Cordeiro.
    É óbvio que seja qual for a designação que vão dando ao Evento, lá estaremos com muito garbo e maior gosto, que mais não seja para contar esta minha estorieta pela enésima vez…
    Na verdade a genuína tradição conta muito para mim e confesso que esperaria de si uma adesão total, pois lembro com saudade os tempos em que ambos fomos estudantes em Coimbra (Rainha das Tradições Académicas) e tendo, inclusivamente, ambos sido atletas de Ténis de Mesa da ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA (V.Exª nos séniores e eu nos juniores).

    Um respeitoso Abraço do

    J A Bento Soares

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