Post do nosso leitor Sr. João Freitas, recebido por msg:

O bloco eletrónico do “SCR-300” foi utilizado em blindados ou outros veículos militares, como veremos, com uma diferente alimentação, tomando então a designação “AN/VRC-3”; mais tarde, é produzido no Reino Unido sob a designação “Wireless Set 31” ou de forma abreviada “WS 31” e tomando por cá a designação de “Posto 31” ou “P-31”. De momento e nesta forma de apresentação, não vemos necessidade de criar três artigos diferentes, uma vez que estes aparelhos são basicamente idênticos, diferindo, no caso do “SCR-300”/“WS 31” maioritariamente nos microtelefones e seus sistemas de fichas de ligação aos rádios e no material em que eram feitos alguns dos componentes externos, sendo o rádio americano totalmente em chapa de ferro, e o britânico em magnésio, além de pontuais diferenças nos blocos eletrónicos. Também no “WS 31” não estava prevista (no seu exterior) a fixação de um arnês de transporte (como no “SCR-300”). Este seria realizado fixando o aparelho a uma mochila com estrutura em alumínio.

Conjunto completo do SCR-300

De origem americana o “SCR-300” viu a luz do dia no início da Segunda Guerra e chegou às nossas fileiras logo em 1947/48. Por cá terá ficado integrado até aos primeiríssimos anos da década de sessenta. Da sua permanência em Portugal temos escassa informação, que pouco mais é que o manual do utilizador em português com a data de 1948 e depoimentos recolhidos de antigos militares que ainda se lembram dele, especialmente do seu peso…

WS-31
Painel do WS-31

Do “Wireless Set 31” sabemos que terá vindo em numero muito menor do que o “BC-1000”(*), e terá chegado já no final da década de cinquenta.

VRC-3 com a alimentação veicular

O “AN/VRC-3” segue em Portugal, em questão de datas o mesmo percurso do “BC-1000”, diferindo, obviamente na utilização. Como estes três aparelhos são gémeos, generalizámos a sua apresentação ao modelo americano, devido á maior importância que teve para o nosso Exército.

BC-1000

O “BC-1000” é considerado o primeiro emissor/recetor de transporte ao dorso “walki-talki” (**) funcionando em frequência modelada. Totalmente a válvulas (18), possuía uma sintonia corrida nas frequências de  40 mc/s aos 48 mc/s,   a alimentação era realizada por uma de duas pilhas, a “BA-70“ ou a “BA-80”, esta ultima com as mesmas tensões (4,5v, 60v, 90v) da anterior, mas de menor tamanho.

Painel do BC-1000

Uma das características curiosas deste radio, era a tampa de que estava apetrechado e que protegia toda a zona dos botões e do quadrante, deixando no entanto livre a antena e os encaixes para o microtelefone. Como peça importante deste conjunto, será obrigatório referir a existência de um pequeno saco “BG-150”, que se prendia ao cinto para transporte das antenas e do respetivo microtelefone “TS-15”. Em relação a este ultimo, era muito parecido com o auscultador de um vulgar telefone dos anos quarenta, apresentando na parte interior da sua pega, uma chave de orelhas de carregar-para-falar.

Para a sua utilização principal, em transporte ao dorso, podia equipar com a antena, “AN-30” com 83 centímetros, ou a “AN-131” com 3,30 metros. Quando temporariamente em “fixo” o seu alcance inicial de cerca de 4 km era aumentado se fosse utilizado uma antena mais complexa, necessitando de um sítio alto para ancoragem, este conjunto tinha a designação “RC-291” e não fazia parte do conjunto “SCR-300”.

Fazendo parte integrante do radio, existia um complexo arnês, que compreendia um cinturão (exclusivo) ligado á parte inferior da caixa das pilhas por meio de duas cavilhas, e um sistema de duas alças com ajustes diversos, e ainda uma pequena almofada para interpor entre o radio e as costas do utilizador. No referido cinturão era preso o saco de transporte do microtelefone e das antenas. Este cinturão substituiria o cinturão habitualmente usado pelo militar.

Este aparelho histórico, é substituído, nos últimos dias da guerra da Coreia, pela série AN/PRC-8, 9 e 10. No nosso exército o mesmo vem a acontecer mais tarde, quando o “AN/PRC-10” aparece nas nossas fileiras.

(*) Como se tem referido anteriormente a nomenclatura “BC-1000”, no antigo sistema identificativo americano, diz respeito apenas ao rádio, num conjunto (geralmente vasto) de elementos essenciais para que ele funcione em pleno, neste caso com a designação “SCR-300”.

(**) Temos lido em diversos manuais americanos diversas formas de escrita destas palavras. Originalmente já vimos com terminações em “ i “, em “ ie”, e em   “ y “, em ambas as palavras, ou conjugações entre elas! Será importante referir que nos EUA e contrariamente ao que se passa em Portugal, um aparelho de transporte ao dorso tem a designação generalista de “walki-talki”, um outro que se segure apenas numa mão ser-lhe-á dado a designação de  “handi-talki”. Nesta última também se aplica o que foi dito sobre as diferentes grafias.

João Freitas

(adaptado de um artigo original publicado na revista “QSP”)

4 comentários em “Os SCR-300 (BC-1000), AN/VRC-3 e WS-31

  1. Em maio de 1954, quando aos 18 anos como 2ºSarg radiomontador da Arma de Engenharia ingressei no Exército (EPI; Mafra), logo a seguir ao respetivo curso obtido no Instituto dos Pupilos do Exército, trabalhei com este E/R nas suas diversas formas (composições).
    Pouco depois, 08 de setembro, o BC-1000 também fazia parte do material de rádio do Batalhão de Caçadores Vasco da Gama (BCVG) que esteve na Índia Portuguesa no período 1954/1957, sendo eu o radiomontador (2ºSargEng).
    “Enfrentei” este material com interesse pela sua inovação técnica, não sendo nada fácil de operar (sintonia) nem de reparar, mas funcionou razoalvelmente. O BC-1000 foi um dos E/R “responsáveis”, logo no início da minha carreira militar, pelo meu envolvimento na Exploração que desde sempre considerei indispensável para se obter sucesso no Sistema de Transmissões de Campanha.
    António Pena.
    Coronel TecnManTm (SitRef – 76 anos)

  2. Dado que no post apresentado se encontram tratadas de forma completa,as caraterísticas do SCR 300, limitar-me-.ei a fazer algumas consideraçôes sobre a oporunidade do texto e a utilização militar desta “família ” de rádios.

    Pretendo, em primeiro lugar, acentuar a importância de se referir no Blogue este equipamento. Daqui a uns anos será tarde. Com efeito, como refere o autor, a última utilização deste equipamento deveria ser “nos primeiríssimos anos da década de sessenta”.(1). Ora, como 1961 foi há 51 anos, os seus utilizadores têm hoje mais de 70 anos. Não é muito provável que encontrarmos muita gente que tenhha usado o rádio e que se disponha a testemunhar para o Blogue, embora haja alguns e pode ser que se disponham a isso como sucedeu com o coronel Pena.

    Em relação ao aproveitamento militar o equipamento, fazia parte do material de Transmissões da 3ª Divisão (desde a década de 50), dentro da orgãnica das unidades de Infantaria e Cavalaria.

    Nas unidades de Infantaria as suas aplicações mais frequentes eram as redes de Companhia (ligação aos Pelotões) e as de Batalhão (ligação às Companhias) .

    Nas unidades de Cavalaria (GDCC; ECC/RI e ERec) cada carro de combate tinha um VRC:3 para ligar ao SCR 300 da infantaria que o acompanhava.

    De referir que quando, em 1961, estive na índia havia lá SCR 300 que não funcionavam porque as baterias BA-80 eram carísimas e não duravam muito com o clima da Índaia,

    (1)Devia ter sido a partir de 1961 visto que não teve aplicalção na Cuerra Colonial

    1. Em relação ao problema das pilhas e como o Senhor General bem refere, elas não aguentavam muito tempo guardadas em armazém, fosse na India ou em qualquer outro lugar. Curiosamente as altas voltagens perdiam-se ao fim de algum tempo e apenas as baixas tensões (geralmente para os filamentos) duravam mais um pouco.

      Teríamos que esperar cinquenta anos para, com o aparecimento dos transístores e com o crescente interesse por antigos aparelhos militares, se poderem fabricar pequenos osciladores que alimentados a 12v fornecem todas as tensões (geralmente 3 ou 4) para um aparelho deste tipo desempenhar a sua função em pleno e sem perde de qualidade. Estes aparelhos têm o tamanho de uma caixa de fósforos média e a bateria primária pode ser uma bateria de gel de 12v/4amp.

      Estes curiosos osciladores são feitos, nomeadamente, em Itália e o seu fabricante tem todos os modelos necessários para pôr em funcionamento qualquer rádio da 2ª Guerra (Aliados ou do Eixo) ou posteriores, que utilizem válvulas. Nada é preciso modificar nos aparelhos!

      1. Adquiri um radio WS-31 e necessito de alguns acessórios, tais como o “handmicrophone” e o saco de transporte. Onde posso conseguir estas peças e outras para o wireless set n. 31?
        obrigado

        Mário Correia

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