Francisco António Ciera nasceu em Lisboa, filho de um matemático italiano e de uma portuguesa. Criador do telégrafo ótico português, destacou-se também como matemático, cartógrafo e astrónomo.
Em 1782, com 19 anos, por falecimento do pai, lente da Academia Real de Marinha, foi escolhido para o substituir.
Em 1785 foi eleito sócio da Real Academia de Ciências de Lisboa e, em 1790, iniciou os trabalhos geodésicos em Portugal, para efeitos de elaboração da Carta do Reino, que marcaram o início da uma nova etapa na Cartografia Nacional.
Em 1798 foi membro fundador da Sociedade Real Marítima, Militar e Geográfica para o Desenho, Gravura e Impressão das Cartas Hidrográficas, Geográficas e Militares, onde, no ano seguinte, foi apresentada a vasta e valiosa documentação resultante dos trabalhos para a elaboração da Carta do Reino, costa marítima incluída.
Em 12 de junho de 1803 foi encarregado pelo príncipe regente (futuro rei D. João VI) de estabelecer comunicações telegráficas óticas em todas as embarcações mercantes do Reino. Em dezembro do mesmo ano foi nomeado diretor da Rede da Barra, a primeira rede de telegrafia visual ligando vários postos entre o cabo da Roca e o Castelo de S. Jorge, para aviso da chegada de navios e o inerente controlo alfandegário, e incumbido pelo futuro rei de “dar seguimento aos trabalhos dos telégrafos”, que se viria a traduzir na expansão da rede e na invenção do telégrafo português. Em 1805 a rede telegráfica já chegava a Mafra, Queluz e Salvaterra de Magos, e em 1808 o telégrafo de ponteiros, por ele concebido e considerado um avanço tecnológico em relação aos existentes noutros países, já estava a ser utilizado.
Em 1810 foi nomeado diretor do Corpo Telegráfico, nessa altura constituído para assegurar a eficaz e eficiente operação das várias redes telegráficas óticas, que para além da zona de Lisboa já chegavam a Elvas e Almeida, utilizando telégrafos de conceção e fabrico português. Para além da operação da rede fixa já instalada, o Corpo iria utilizar os telégrafos de Ciera nas Linhas de Torres Vedras, aquando da 3ª invasão francesa, o que terá sido a sua primeira atuação em campanha.
O Corpo Telegráfico, que ficou na dependência no Ministério da Guerra e adstrito ao Real Corpo de Engenheiros, é considerado a primeira unidade de Transmissões, sendo reconhecido que o seu primeiro diretor – Francisco Ciera – foi o pioneiro das telecomunicações militares e civis em Portugal.
Ciera adoeceu em 1813 e nem mesmo o tratamento que foi autorizado a fazer nas termas das Caldas da Rainha evitou o seu falecimento em 6 de abril de 1814. Deixou uma obra brilhante e inúmeros trabalhos, também no âmbito da astronomia e da matemática.
Extrato do Livro:
DCSI, 2023. Arma de Transmissões – 50 anos “Por Engenho e Ciência”, Vol. II, pp 341 e 342