Post do MGen Pedroso Lima, recebido por msg:

Ao elaborar este post tivemos em conta que o aparecimento de novos posts, mesmo sem grandes pretensões, como este, é sempre um contributo para animar o Bogue, para cuja continuidade consideramos dever contribuir.

O texto baseia-se no livro “Impérios em Guerra 1911-1923, uma perspetiva inteiramente nova da PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL” da autoria de Herbert Gerwarth/Erez Manela (coordenadores).

imperios-em-guerraDe referir que a abordagem da Guerra, pelos autores, abrange um período que engloba a Grande Guerra (1914-1918), começando com a conquista da Líbia pelos italianos em 1911 e acabando em 1923, com a paz de Lausanne, que pôs termo às convulsões provocadas pela revolução russa.

O livro relata a evolução da guerra nos diferentes impérios, cada um tratado por um historiador diferente, permitindo comparar e salientar as diferenças que houve, nomeadamente em relação o caso português, da autoria do historiador Filipe Ribeiro Menezes, e do qual se extraem as notas que se seguem.

Singularidade do caso português

A este respeito Ribeiro Menezes refere:

“Enquanto países como a Grã Bretanha e a França (e até a Bélgica) usaram as suas colónias para fortalecer o seu esforço de guerra económico e reforçar os exércitos que lutavam na frente ocidental e noutras frentes, Portugal deu por si a ter de enviar soldados europeus e africanos para os campos de batalha em África.”

Esta singularidade da atitude portuguesa poderá, quanto a mim, ter resultado de os portugueses, ao contrário dos Aliados, terem sobrevalorizado o “perigo alemão” em África, durante a Grande Guerra.

Para os aliados, as reduzidas forças alemãs existentes nas suas colónias africanas não representavam perigo significativo tanto mais que, graças à supremacia britânica nos mares as colónias alemãs não tinham qualquer possibilidade de apoio da metrópole e rapidamente ficaram sem comunicações via rádio ou cabo submarino, logo no início da guerra.

Consequentemente a estratégia aliada em África foi sempre ofensiva, com a utilização sobretudo de tropas africanas, tendo sido, nos primeiros anos da guerra, conquistadas as colónias alemãs do Togo, Camarões e Sudoeste Africano. O caso da África Oriental Alemã (hoje Tanzânia) foi diferente, por se ter prolongado a resistência das forças de Von Letow, um pioneiro da guerra subversiva, que só combatia em condições vantajosas, para permitir a sobrevivência da suas reduzidas forças mas que não aspirava à posse definitiva de qualquer parcela de terreno. O objetivo estratégico de Von Letow, e a sua grande contribuição para a causa alemã foi fixar em África importantes forças aliadas para o combater, que assim não puderam ser usadas noutras frentes. O que conseguiu inteiramente.

No caso português esta fragilidade das forças alemãs foi bem patente em África. Em Angola a ameaça alemã só durou até 1915, porque os alemães se renderam perante a ofensiva sul africana. Antes tinha havido apenas, em Angola, o recontro de Naulila, em que apesar de as forças alemãs terem sido consideradas vitoriosas, retiraram sem perseguir as forças portuguesas também em retirada, o que parece mostrar que os alemães não tinham qualquer intenção de continuar em Angola e muito menos de conquistar a colónia.

O caso de Moçambique só aparentemente é diferente. As forças de Von Letow estiveram 10 meses em Moçambique numa longa digressão de milhares de quilómetros. Sempre em movimento, atacando vários postos portugueses, em situações vantajosas e acossados por foças anglo-lusas muito superiores, mas muito mais lentas. Quelimane chegou a estar ameaçada. Os alemães não atacaram e acabaram por regressar à África Oriental Alemã, para prosseguir a sua guerra de sobrevivência em que não podiam deixar-se envolver em batalhas decisivas nem tomar pose definitiva de qualquer parcela de terreno. Conquistar Quelimane era possível mas manter a posse da cidade seria o seu fim. Havia que prosseguir o seu movimento.

Parece portanto que Portugal poderia ter adotado uma atitude semelhante à dos aliados e não enviar os fortes contingentes expedicionários metropolitanos, como enviou e que a fragilidade da ameaça alemã parecia aconselhar.

Porém não foi isso que fez e, no entanto essa decisão prece ter sido a mais correta, não por causa da ameaça alemã mas porque outra ameaça mais significativa se verificava, o que veremos a seguir, na resposta à seguinte pergunta:

Afinal contra quem combateram os portugueses em Angola e Moçambique?

Filipe Ribeiro de Menezes diz-nos o seguinte acerca do emprego dos nossos contingentes expedicionários em Angola e Moçambique durante a Grande Guerra:

“…só em parte estes (contingentes) foram destacados para fazer frente ás pequenas forças alemãs reunidas contra eles. Grande parte do esforço português em África, durante a guerra, foi dedicado a combater os africanos.”

De facto, Ribeiro de Menezes, a este respeito refere a importância das sublevações indígenas nas nossas colónias, a que as forças expedicionárias enviadas para Angola e Moçambique tiveram que fazer frente e que não cabe aqui descrever. Limitamo-nos a indicar as sublevações, que o livro aponta, nestas nossa colónias africanas, durante a Grande Guerra:

  • Em Angola, depois do combate de Naulila, forças alemãs ao mesmo tempo que retiraram provocaram uma forte rebelião indígena no sul de Angola que envolveu os cuanhama e a que expedição portuguesa comandada pelo general Pereira de Eça, combateu de forma “extremamente brutal” , e venceu a batalha de Môngua, em Agosto de 1915, “uma das maiores batalhas campais entre tropas africanas e europeias”. Em 1917 revoltaram-se os indígenas das plantações de café de Amboim e Porto Redondo, prolongando-se a revolta pelo ano seguinte, Em 1918 uma nova revolta – a dos ovundos que se propagou por todo o Quanza Sul.
  • Em Moçambique refere uma revolta em 1917 junto ao rio Zambeze, mais forte no antigo reino barué e que durou de março a setembro e alastrou até á província de Tete e, no mesmo ano, a revolta dos macondes.

Em especial esta segunda nota, respeitante à aplicação da forças expedicionárias enviadas para Angola e Moçambique, durante a Grande Guerra, no combate às rebeliões indígenas poderá ter interesse para a CHT, para eventualmente incluir no seu estudo da participação das transmissões na Guerra, visto que. como se sabe, da composição das forças expedicionárias faziam parte tropas de telegrafistas e não conhecemos a forma como foram utilizadas no apoio a este tipo de operações.

3 comentários em “Notas sobre a Grande Guerra nas colónias portuguesas (1)

  1. Este assunto, que de certo modo continua o post de 30 de janeiro “A diplomacia portuguesa em defesa das colónias (…)”, é da maior oportunidade. Em termos de contribuir vou preparar um post com referências sobre a influência do desempenho diplomático de Manuel Teixeira Gomes (Ministro em Londres – “Embaixador”) na problemática da entrada de Portugal na Grande Guerra com base da influência da GG na África Portuguesa e com pesquisa no Arquivo Histórico Militar sobre o funcionamento das Transmissões em Angola e Moçambique durante aqueles anos.

  2. O comentário do Cor Pena despertou-me curiosidade por anunciar um post sobre a influência do desempenho diplomático de Teixeira Gomes na entrada de Portugal na Grande Guerra, pois a ideia que tenhho é que a política portuguesa, com esse objetivo, foi totalmente subordinada à Grã Bretanha,, sem qualquer margem de manobra, o que certamente o post permtirá retificar..

  3. Gostaria de pedir ajuda para as minhas pesquisas :
    Meu avo Victor dos Santos mecanico particiipou na grande guerra no Sul de Angola. Ele era motorista / mecanico e foi ferido Numa Mao e condecorado.
    Gostaria de saber onde puderia encontrar informacao sobre o servico militar que prestou em Angola Durante penso eu os Anos de 1910 e 1918. O emu pai lembra-se de ver a medalha mas Diz que o pai Nao gostava de falar desses tempos da guerra .
    Desde ja Muito Obrigada .

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