Um projecto que colocou as Forças Armadas de Moçambique em contacto radiotelefónico full duplex com Portugal e com os territórios sob dominação portuguesa.

No ano de 1968/9, era eu comandante da TPF, do BT, quando recebi a missão de especificar e fazer caderno de encargos para aquisição de um cabo auto-suportado, de 11Km, 30 pares, tecido em quadras, revestimento plástico, 0,9mm2 de secção, com destino a Moçambique, a ser enviado com urgência. Foi fabricado pela Cabos Ávila e seguiu via marítima.

A meio de 1970, três oficiais do BT embarcaram para Moçambique/ Nampula. Primeiro, o Major Garrido Baptista, depois o Cap. Fernando Homero Cardoso Figueira e, por último, eu próprio. A nomeação foi individual, destinando-se o Figueira à campanha e eu ao STM, ambos para o BTm2. Porém, o Major Garrido, nosso director de instrução no BT, no estágio final de curso de Eng.ª Tms, alterou os nossos destinos, segundo se dizia por o perfil do Figueira ser mais conforme ao STM e o meu à campanha. Com a troca, couberam-me a Companhia de Transmissões e a de Instrução, ficando o STM para o Figueira. O major Garrido acumulava as funções de 2.º Cmdt do BTm2 com as de Oficial de Tms do EM do Comando-Chefe.

Em Nampula, encontrava-se como comandante do BTm2, o Major Simões, homem inteligente, que tinha por hábito reunir todas as manhãs com o Figueira e comigo, discorrendo sobre os problemas da Unidade e propondo desafios que, muitas vezes, estavam longe da nossa capacidade de realização.

Um desses problemas foi o de Moçambique só ter ligação a Lisboa a partir de Lourenço Marques, onde praticamente já não havia ninguém, enquanto que o comando e as forças se situavam em Nampula e mais para o Norte. O Centro Emissor encontrava-se quase concluído, mas distava do QG, em Nampula, de 11km. O Centro Receptor desempenhava já as suas funções de forma aceitável e estava ligado precariamente por um cabo ao QG. As bobines, contendo o Cabo Auto-suportado, estavam espalhadas na parada do Quartel, desde o tempo do Cap Alcides de Oliveira, com a madeira quase comido pela salalé, dando uma impressão de abandono e incapacidade de promover o seu lançamento.

Pela lógica das nossas funções, este trabalho pertencia ao STM e, neste contexto, o Comandante Simões pôs a questão ao Figueira.

Este, passado pouco tempo, num briefing do mesmo tipo, declarou que o STM não tinha meios para levar por diante este trabalho e explicou porquê. Como “quem não quer a coisa”, o Comandante Simões perguntou-me o que é eu achava. Respondi que achava que era muito difícil, mas talvez se conseguisse. A conversa parou por aí e cada um de nós seguiu ao seu destino. Pouco depois, nova reunião e novo discorrer do Cmdt, no qual incluiu esta passagem: Cruz Fernandes, se tivesses sob o teu comando quem te dissesse que uma missão era possível, o que é que farias? Respondi que faria o mesmo que ele, de certo, iria fazer. O Cmdt piscou o olho (tique habitual) e disse: Então, quando começas?

Foi assim que, mobilizado para o STM, passei para a Campanha durante a viagem e regressei ao STM para me vincular ao Cabo Auto-suportado.

Fig. 01  – Diversidade de espaço e a integração radiotelefónica

Uma ligação em full duplex, isto é, com emissão e recepção simultâneas, não pode ter o emissor e o receptor no mesmo local. Para a ligação, em HF, entre Nampula e pontos distantes como Lisboa, Lourenço Marques ou Luanda, são necessárias potências eléctricas que tornam absolutamente indispensável separar o ponto de emissão do de recepção de uma distância apropriada, reunindo no Centro Emissor (CE) todos os emissores e antenas de emissão e no Centro Receptor (CR) todos os receptores e antenas de recepção. No caso de Nampula, o CE distava do QG de 11km e do CR 12Km, situando-se estes em pontos diametralmente opostos da cidade. Depois de o sistema de comunicações entrar em funcionamento, toda a rede comutada de Nampula passaria a ter acesso, através do operador da central, a pontos distantes através desta ligação (Nota 1).

Tornava-se pois necessário ligar o CE (na Represa) ao CR (no BTm2), passando pelo QG da RMM, separados entre si de 12km. Entre o CR e o QG havia já uma ligação precária, mas entre o QG e o CE, distanciados de 11 km, não havia nada. O cabo que venceu esta distância ficou a chamar-se Cabo Auto-suportado.

Projecto do Cabo Auto-suportado

O projecto de execução do lançamento e consolidação de um cabo destas dimensões não constitui, por si só, qualquer dificuldade, desde que se realize num ambiente onde todos os meios necessários estejam disponíveis. O que torna este trabalho muito especial é o de faltar tudo para o realizar. A introdução dos cabos auto-suportados era recente, não havendo nos meios militares em Moçambique ninguém familiarizado com a técnica de lançamento, emendas e ensaios. Em Moçambique não havia garras de suporte do tensor, nem quem fornecesse postes. O trajecto do cabo tinha troços de muita delicadeza, e obrigava, em alguns casos, a passar por cima de outras estruturas, como a rede de energia eléctrica de baixa tensão, caminho de ferro, etc. Todas as bobines de cabo pesavam mais de 1.100kg, o que as tornava cargas difíceis de manobrar, mesmo em terrenos planos e sem mato. Parte dos apoios teriam de ser em cimento porque o ritmo de fornecimento de postes de madeira levaria muito tempo a concluir. Estava-se em Junho de 70 e, por desafio do Major Garrido Baptista, o trabalho deveria estar concluído até 9 de Março do ano seguinte, data que era então o dia das Transmissões. Os meios financeiros disponíveis (170.000$00) eram exíguos, havendo necessidade de poupar o mais possível. Foi a sensata ponderação de tudo isto que tinha levado o Cap Figueira a declarar que o STM não tinha meios para o executar. Piorando as coisas, a Frelimo, a seguir ao Nó Górdio, abriu a frente de guerrilha de Tete, constituindo para a companhia de Tms sob o meu comando, um empenhamento de prioridade absoluta.

Conferida que foi a missão de projectar e construir a ligação entre o Centro Emissor e o Centro Receptor ao Comandante de Companhia de Transmissões (CTm), dei início ao projecto de execução, começando pela estimativa dos meios, basicamente meios materiais e trabalhos. Partindo de uma situação em que não havia nada, resolvi anotar os passos e descrever as operações deste trabalho para fazer escola para casos futuros. É por essa razão que a descrição assume uma forma didáctica e o projecto que executei apresenta desenhos pormenorizados das principais operações (Nota 2).

Materiais

210 Apoios (postes de madeira ou cimento);

210 Jogos de garras de suspensão (cada uma com 13 peças);

80 Espias, 80 estropos e 80 esticadores (Arame zincado, n.º 11);

80 Blocos de ancoragem;

2 Bastidores, 2 Esteiras de chegada e 2 Terras de serviço;

11 Emendas do cabo (88 cerra-cabos, 22 sapatilhas, 20 rolos de fita Scotch de 1”, 40 rolos de fita Scotch2”, 20 rolos de Scotch Electrical insulation putty de 3” e 2 rolos de fita plástica não adesiva).

Trabalhos

Abertura de 210 covas para postes (180x180x90cm);

Abertura de 80 covas para espias (120x120x60cm);

Abertura de 2 covas postes de fim de linha (240x180x90cm).

Fabrico de1200 mde espias e estropos (cinco fios torcidos de arame nº.11)

Piquetagem com desbravamento de arvoredo

Transporte dos materiais para os locais de emprego

Levantamento e atacamento dos postes

Transporte e lançamento do cabo

Emendas de tensores e levantamento do cabo

Esticamento

Emendas dos pares

Fixação aos postes e consolidação.

Postes ou apoios

Consultado o mercado, apenas a Moçambique Florestal, com sede na Beira, e a CAVAN, tinham condições de fornecimento. Porém os postes CAVAN eram caros de mais (2.400$00 cada) e a Moçambique florestal levaria 7 meses a fornecer 100 postes, a 800$00 CIF Nacala, e esgotou a sua capacidade.

Foi a partir desta prospecção ao mercado que me convenci que teria de recorrer a conhecimentos pessoais em benefício do apoio à missão que tinha de cumprir. A primeira foi a Câmara Municipal de Nampula (CMN), que fabricava para seu próprio consumo, postes em cimento. Conhecia pessoalmente o Presidente e aí trabalhava também, como consultor, o meu colega de curso Eng.º Ramalho, ao tempo alferes de Eng.ª.

A CMN acedeu em fabricar, sob nossa fiscalização, postes em cimento para as Transmissões, mas não podia concorrer no mercado, pelo que os cedia a uma empresa local que no-los vendia, a preços iguais aos de madeira. Para o estaleiro foi enviado um representante da CTm, que acompanhava os trabalhos e imprimia, no cimento ainda tenro de cada poste, um castelo com raios, emblema das Transmissões, que aí ficou a assinalar a nossa presença nas terras remotas do Indico. A firma local, embora debitasse postes, fornecia apenas ao BTm2 ferro, cimento e arame de ligação.

 Fig. 02 – Jogos especiais de garras de suspensão

 Fig. 03 – Ferragem de Suspensão

Este material não era comercializado no mercado local nem havia nada equivalente. Por isso foi preciso começar pela concepção e desenho de um tipo possível de garra e fazer consulta às firmas capazes de o executar. Veio a ser a CIFEL, uma firma de Lourenço Marques, que os fabricou. A garra de suspensão consta de um parafuso (mestre) que atravessa o poste e se expande de modo a permitir fixar as duas peças que vão agarrar o tensor do cabo. Este parafuso (mestre) permite o aperto ao poste separado do aperto das garras. As garras ou mandíbulas têm um furo central para fixação ao parafuso mestre e dois laterais para passagem dos parafusos de aperto do tensor. As garras de aperto de tensor ou mandíbulas dispõem de meias cânulas longitudinais para alojamento do tensor e são talhadas em chanfre, permitindo que a aresta superior funcione de eixo da mandíbula e que a parte inferior que contém as cânulas para o tensor funcione como mordente.

Fig. 04 – O traçado ou percurso do Cabo

Enquanto decorriam os trabalhos referidos estudou-se o desenvolvimento aproximado do percurso do cabo, elaborou-se um anteprojecto e fez-se o levantamento e consulta das entidades com tutela sobre os terrenos abrangidos, para testar a sua sensibilidade ao nosso projecto e nos inteirarmos de obras existentes ou projectadas no traçado do nosso projecto. Provou-se ser útil e prudente por ficarmos a saber que, sensivelmente no mesmo percurso, havia a tubagem enterrada que trazia da Represa a água de abastecimento à cidade de Nampula. Poupou-nos também um dissabor com a direcção dos Caminhos-de-ferro de Moçambique, que chegou a esboçar um embargo da obra, apesar de ter dado o seu acordo prévio. De Nampula para a represa segue paralelamente ao cabo auto-suportado uma linha de Alta Tensão (11.200V). Essa linha alimenta os motores de bombagem de água para a cidade e, no caminho, as instalações do Centro Emissor. Para anular possíveis efeitos electromagnéticos, fez-se a transposição do cabo de um lado da linha de AT para o outro, sensivelmente a meio do percurso. O facto de uma das bermas da estrada estar ocupada pela linha de AT e a outra pela conduta da água, não referenciada à superfície, exigiu cuidados especiais e sondagens entre o poste 52 e o 118, antes fixar o traçado definitivo e proceder ao derrube de árvores. O trabalho de sondagem permitiu encontrar troços de conduta situados a cerca de 10 metros fora do alinhamento esperado. Os postes desde o 52 ao 105 estão perfeitamente alinhados, apanhando as maiores clareiras e dando origem ao derrube mínimo de árvores, o que exigiu que o poste 102 ficasse apenas a 20cm da conduta.

Para fazer o alinhamento deste troço socorri-me de uma estação guia, colocada num morro a cerca de 1Km que tem comandamento geral sobre ele. Aí foi colocada uma bandeirola branca e um operador com um posto de rádio e um binóculo. Uma equipe com outro posto de rádio e outra bandeira branca ia percorrendo o trajecto e sendo conduzida de modo a marcar no solo o alinhamento correcto. Por vezes tinha de subir às árvore e mostrar a bandeirola para ser referenciada e receber indicações da estação guia. Depois disto foram feitas sondagens no solo a acertado o alinhamento geral.

Piquetagem

Na piquetagem faz-se o derrube completo do arvoredo, ficando uma esteira sem vegetação ao longo do traçado, com estacas enterradas nos lugares onde hão-de ficar os postes. Isto porém só é feito depois de dividir as distâncias em intervalos sensivelmente iguais rondando os 50m e fugindo sempre que possível a rocha, riachos, pontos de cota muito baixa, etc.
Este foi um trabalho onde os encontros com os répteis foram frequentes.

Abertura de covas

Este foi um trabalho de grande dificuldade. Na estação calmosa, os terrenos tornam-se rijos como rocha. Os meios disponíveis eram muito rudimentares, ficando-se pela picareta e pela pá. Ao todo foram abertas pelo pessoal da CTm 292 covas, como trabalho extra, para além das funções normais da sua missão. Foi aí que aprendi que as dificuldades vividas em conjunto cimentam os seus protagonistas de uma forma mais marcante. Talvez seja também por isso que, 37 anos depois, o pessoal das Transmissões de Moçambique continua a reunir todos os anos, celebrando esses tempos difíceis.

Preparação dos postes

Paralelamente com os trabalhos de campo, decorriam na Unidade os seguintes trabalhos:

– Improvisação de ferramentas, entre as quais uma chave de enrolar arame em torno de espias e estropos, com 10 vezes o rendimento do alicate, mas sem ferir o arame.

– Tripé-manivela, instrumento de fixar ao solo, que permitia torcer espias, à razão de 100 metros x homem x dia.

– Monopé biarticulado, para fixação de um binóculo, em substituição do teodolito.

– Carimbo, com emblema das Transmissões (castelo com raios), para gravação dos postes de cimento ainda verde.

– Preparação dos postes de madeira que iam sendo recebidos, com fio de terra e perfurações.

Transporte dos postes de madeira

O transporte dos postes de madeira é uma operação fácil, mas a Unidade não tinha, ao tempo, viatura capaz. Por intervenção pessoal, junto do Cmdt da Companhia de Transportes, consegui o empréstimo de uma adequada, fora das horas de serviço, o que por vezes ia pela noite dentro, tendo o trabalho de descarga de ser iluminado por um jipe. Para a descarga também me servi de um artifício, que consistia em levar uma corda presa por uma das pontas à barra fronteira do jipe que seguia a viatura de carga.  Ao chegar a uma cova prendia-se, com nó de porco, a outra ponta da corda a um dos postes. O jipe ficava parado e a viatura de carga avançava.  O poste filado pela corda deslizava da viatura para o chão. O jipe iluminava a operação. O conjunto avançava mais um lanço e repetia-se a operação.

Transporte, descarga e levantamento dos postes de cimento

O transporte dos postes de cimento era, nas condições que tinha, um trabalho perigoso. Os postes de cimento são peças pesadas, esbeltas e frágeis ao choque. Foram fabricados postes de 8,50m, destinados à zona rural, e de 10,50m, destinados à zona urbana. Para o seu transporte foi estudado um sistema de amortecimento ao choque, constituído por 4 pneus sem jante nem câmara, sobre os quais se fixava uma viga de madeira, molejando a carga sobre o conjunto. Os postes eram transportados com a parte grossa para trás. Dado o seu comprimento exceder as dimensões da viatura, a parte fina passava sobre a cabine e a grossa descia além do sistema de molejamento, quase até ao chão. Os postes de 8,50m foram carregados e descarregados a braço, fazendo-se a descarga por deslizamento da viatura para dentro da cova, ficando os postes aí inclinados a cerca de 60 graus em relação ao solo, sem necessidade de espias. Este processo aumentava a rapidez da descarga e permitia evitar o espiamento. Por experiência com os postes de madeira, sabíamos que as populações indígenas cortavam as espias durante a noite, não por maldade, mas por estas lhe serem úteis para os diversos usos. Se acontecesse isto com os de cimento, este partir-se-iam na queda.

Os cuidados com os postes da 10,50 foram os mesmos. Porém a sua carga e descarga foram mais complicados. Em primeiro lugar, porque os mesmos se destinavam à zona urbana, eram demasiado pesados para manipular a braço e tinham de ser colocados, alinhados e atacados, um de cada vez. Um pedido oficial de um trabalho tão fraccionado como este, ficaria sempre retido para depois das actividades da Eng.ª Mais uma vez recorremos à negociação para conseguir fazer o trabalho, sem colidir com as prioridades próprias da Eng.ª, obtendo, caso a caso, a dispensa de grua e operador aos fins-de-semana e feriados. Por este processo os nossos pedidos foram sendo satisfeitos na própria semana em que submetidos.

Destinando-se estes postes ao traçado dentro da cidade, com tráfego rodoviário, linhas de energia a fio nu, traçados telefónicos etc. podem avaliar-se as dificuldades de manobra e a morosidade do processo. Cada poste era transportado, descarregado, levantado e espiado de uma só vez. Por este processo foram implantados os postes de 132 a 165.

Alinhamento e verticalidade dos Postes

Para tornar o alinhamento rapidamente convergente, fixam-se, em cada poste, duas espias alinhadas com o plano do traçado e duas segundo o plano perpendicular. Não usando esta técnica, um ajuste da verticalidade segundo um plano introduz um desajuste de alinhamento segundo o outro. Para obter um trabalho perfeito, com economia de esforço, fixavam-se primeiro os postes extremos de cada alinhamento rectilíneo e, só depois, os dos intervalos.

Espiamento de ângulo e de fim de linha

Depois de concluída a montagem dos postes, passou-se aos espiamentos assinalados no projecto, indispensáveis à estabilidade do traçado. Além destes houve que instalar espias para suportar o esforço axial do cabo, durante o tempo de lançamento e consolidação do mesmo.

As primeiras exigem covas transversais ao esforço, blocos de ancoragem, estropos e espias, sendo referidos no projecto os pontos onde deverão ficar.  As segundas são de instalação improvisada, destinam-se a absorver os esforços descompensados à cabeça dos postes, durante o lançamento do cabo, e são removidas depois da consolidação do traçado.

Trabalhos com o cabo

Nesta fase o traçado estava preparado para receber o cabo. Os trabalhos parcelares para o seu lançamento tem a seguinte sequência:

Transporte
Lançamento
Travessias
Elevação
Emendas do Tensor
Esticamento e emendas dos pares
Consolidação
Terras
Entradas e bastidores
Ensaios técnicos

Transporte

Pesando, cada bobine de 1000 metros, mais de 1000kg, não dispúnhamos de meios para a sua carga, transporte e lançamento. A única entidade em Nampula que deles dispunha eram os CTT. Eu conhecia já o Eng.º Gustavo Guimarães, seu director, ao qual tinha levado uma carta de apresentação, passada pelo Eng.º Amaro Vieira, já referido a propósito do HF-Tempo Real. Aquele senhor satisfez de imediato o meu pedido, ficando o atrelado em nossa posse até ao fim dos trabalhos de lançamento do cabo.

Lançamento

O lançamento de cabos sempre foi considerada uma operação delicada, desde que se respeitem os princípios da boa técnica de manipulação. Esforços axiais sem ser pelo tensor podem danificar a blindagem eléctrica ou o fio de continuidade, ficando comprometido o isolamento electrostático. O arrastamento sobre objectos duros e ásperos pode romper a bainha e por aí se infiltrar humidade.

Para o lançamento da primeira bobina de 1000 metros, com estes cuidados, precisou-se de um homem de 10 em 10 metros, e de hipotecar pessoal alheio à CTm, com perturbação dos serviços da Unidade. Deveras insatisfeito com os resultados, suspendi o processo e procurei imaginar uma forma mais expedita de lançamento. Ocorreu-me fazer deslizar o cabo por roldanas enfiadas nos parafusos de fixação das garras de suspensão do cabo. Como roldanas servi-me das bobines de baquelite vazias que eram fornecidas com fio de estanho à Companhia de Manutenção. Na manhã seguinte ensaiei o novo processo e os resultados obtidos pela utilização em série destas roldanas foram tão compensadores que imediatamente retomei os trabalhos só com pessoal da minha companhia. Estas roldanas revelaram-se também muito adequadas na fase de esticamento (tensionamento) e uniformização do esforço ao longo do traçado.

Com o novo método passei a fazer o lançamento e a elevação do cabo com uma só manobra, procedendo como segue: Constituí três equipes. A dos Trepa, a dos Puxa e a dos Trava. Colocada a bobine em posição, atava-se com nó de porco a ponta do cabo a uma corda de100 metros. Uma das praças da equipe dos Trepa, ágil e bem treinada, subia ao primeiro poste (poste n) levando consigo a ponta da corda. Passava-a pela gola da roldana e atirava a ponta à equipe dos Puxa. Esta, constituída por 4 ou 5 homens, agarrava a corda e caminhava ao longo do traçado até poste seguinte (n+1). Ao chegar aqui, o Trepa do poste n fixava a roldana e impedia o cabo de recuar, até que o Trepa (n+1), levando a ponta da corda, subisse, a passasse pela roldana (n+1) e a lançasse de novo aos Puxa, que avançavam mais um lanço até ao poste (n+2) e continuava até o cabo atingir o poste (n+3). Neste tempo o cabo elevava-se sem tocar o solo passava o poste (n) e atingia o poste (n+1). O Trepa do poste (n), descia e deslocava-se ao poste (n+2). O Trepa do poste (n+1) fixava o cabo para ele não recuar, enquanto o Trepa do poste (n+2) agarrava a corda, subia ao poste e passava-a pela gola da roldana de novo aos Puxa. Deste modo o cabo passou a avançar suspenso nas roldanas, sem tocar o solo nem fazer ângulos pronunciados sobre as mesmas. Para que a bobine não ganhasse movimento acelerado, mantive junto desta a equipe de débito regularizado, os Trava.

Fig. 05 – Travessias a nível superior

Fig. 06 – Planta de uma Travessia a Nível Superior

Fig. 07 – Poste 102  e Conduta de Água

Chamamos travessias aos cruzamentos das nossas estruturas com quaisquer outras. As travessias são de dois tipos: A nível superior e a nível inferior, não dando estas origem a qualquer trabalho especial. As travessias a nível superior são muito mais delicadas, quer se trate de linhas de sinais ou de energia. Deve ser dito que a distribuição da electricidade, em BT, em Nampula, era feita por linhas de fio nu e a umacota tão baixa que o nosso cabo tinha de cruzar a nível superior. Embora o processo anteriormente descrito tenha servido para resolver algumas travessias, não tinha aplicação dentro da cidade, onde foi preciso fazer alguns cortes de energia para garantir o trabalho em segurança.

Fig. 08 – Poste de Travamento

Além destas, surgiram as da via-férrea onde, mesmo durante a lançamento, era preciso manter a gabarí de via livre. Complicando um pouco mais, nesse ponto cruzava ainda uma linha de energia e outro de sinais.

 Fig. 09 – Emenda do Tensor

Fig. 10 – Emenda do Cabo

A secção recta de um cabo auto-suportado tem a forma de um oito, sendo a parte de cima ocupada pelo tensor e de baixo pelo cabo de sinais. O tensor é a peça que se destina suportar todos os esforços axiais, com preservação do cabo. As emendas do tensor iam sendo executadas, à medida que se iam lançando as bobines, para absorver os esforças axiais e fixação do cabo aos postes. A emenda dos pares faz-se na parte final do trabalho.

Esticamento

O esticamento começou por ser feito poste-a-poste, por uma equipe colocada na cabeça do poste. Este método era moroso, extenuava o pessoal a não garantia a distribuição uniforme da tensão.

Resolvi por isso fazer o esticamento no solo, utilizando a equipe dos Puxa, espiando o poste final e colocando em cada poste intermédio uma roldana sobre a qual o cabo corria. Enquanto a tensão do cabo era baixa, a equipe do Puxa fazia a tracção manual. Quando a tensão aumentava, prendia-se uma garra ao tensor sem o descarnar e esta a um cadernal, que se fixa a uma estaca enterrada no solo, e aumenta-se a tensão até a flecha do vão atingir a altura desejada.

Fazendo assim, conseguiam-se, de uma só vez, flechas uniformes entre cinco a dez vãos. Feito isto, a equipe do Trepa subia aos postes intermédios e fixava o tensor com a respectiva garra. Ao penúltimo poste a contar da próxima emenda prendia-se uma espia temporária para absorver o esforço axial do tensor, libertando o poste adjacente ao vão, o que permitia fazer no solo a nova emenda. Feita esta procedia-se à elevação do cabo e ao esticamento (tensionamento) do lanço seguinte pelo mesmo processo.

Fig. 11 – Emenda dos pares (juntas)

Após a emenda do tensor o cabo era elevado à sua cota final, ficando a junta onde calhasse. Este procedimento foi o único possível, porque o cabo tinha sido encomendado sem folgas e não permitia desperdícios para levar as juntas a coincidir com os postes. Chegou a executar-se uma emenda a mais de dez metros do solo com o pessoal no cimo de uma escada amarrada em cima de uma Berliet.

Consolidação

Depois de montado o cabo procedeu-se ao espiamento dos postes de travamento e à verificação das espias e estropos. Aliviou-se o cabo ao longo dos troços rectilíneos para distribuição da tensão pelos vãos, após o que se procedeu ao aperto definitivo das garras das ferragens e se verificou o fio de terra dos postes de madeira. Este fio começava por baixo da base do paste, terminava 50 cm acima da cabeça e era apertado na ferragem, de modo a fazer a descarga desta e de pára-raios do poste.

Terras terminais ou terras de estação

Estas “terras” foram executadas com 4 radiadores de Berliet cada uma, colocados nos cantos de um quadrado de 3 metros de lado, à profundidade de 3 metros, alinhados segundo a diagonal e ligados por um cabo de cobre sem emendas de 2×35 mm2, vindo um dos ramos terminar num chante de medida da resistência de terra situado no poste terminal e outro dentro do edifício, junto ao bastidor de cabos. O tensor do cabo, que em vazio atingia tensões de 2.500 Volts, foi igualmente ligado a esta terra, sendo o fio de continuidade ligado à terra do bastidor. Para manter a resistência de terra dentro de limites convenientes, ligou-se um tubo de rega de PBC de 3”, que começa numa caixa à superfície se divide a 4 ramos e termina por cima de cada radiador.

Entradas e bastidores

Foram executadas duas entradas, uma para o CR e outra semelhante para o CE.

Fig. 12 – Ensaios – Atenuação e Banda de Passagem

Após a montagem de um cabo tem de se garantir a qualidade do trabalho efectuado e do seu bom funcionamento futuro. Os ensaios efectuados funcionam de certificação de qualidade. Enquanto agente da montagem, funcionei como empreiteiro que teria de cumprir um caderno de encargos, onde constariam os ensaios técnicos a realizar. O facto de não haver caderno de encargos, não retirava a responsabilidade de trabalhar segundo as normas da técnica e as regras da arte, com vantagem de poder aproveitar o facto para fazer Escola, num território onde tudo tinha sido feito até então de forma artesanal.

Ensaio de isolamento – R(iso)

Este ensaio fez-se entre cada condutor e os restantes, ligados estes à bainha. O valor absoluto de foi sempre superior a 100 MOhms.

Ensaio de Resistência ohmica de lacete – R(lac)

Este trabalho executou-se a partir do bastidor doCentro Receptor com a linha fechado no Bastidor do Centro Emissor, tendo dado valores sensivelmente iguais para todos os pares.

Ensaio de continuidade e de encaminhamento

Este ensaio faz-se para verificar se houve troca de pares ou linhas durante a montagem. Os pares dos cabos têm códigos de leitura própria, que servem de guias nas emendas.  Verificou-se que não houve trocas de pares nem pares interrompidos.

Ensaio de diafonia

Este ensaio destina-se a verificar se a actividade num circuito interfere com os restantes. Este ensaio não foi feito com o equipamento convencional, por este não existir localmente. Foi substituído por um ensaio com telefones normais, não se tendo notado qualquer perturbação (diafonia) nas outras linhas.

Ensaio para a determinação da banda de passagem, da atenuação e da perda em linha   

Este ensaio foi feito com a montagem que a seguir se indica, em que

G é o gerador de áudio;
M1 e M2 são voltímetros electrónicos (consumo nulo) e
Ro = 600 ohms (impedância característica);

Ensaio de perda em linha – 5 Volts sobre 600 ohms

Procedimento: Para cada frequência fez-se:

– O ajuste do gerador de áudio, de modo a debitar 5 Volts sobre a carga de 600 ohms;
– Comutação do gerador para linha e registo dos valores lidos em G; M1 e M2.
– A diferenciação M1 – M2 dá queda da tensão em linha para as diferentes frequências, cujos valores dão uma curva sensivelmente horizontal, isto é, as perdas são só ohmicas.

M1 a 5 Voltes sobre a linha – Banda de passagem e curva de atenuação

Procedeu-se, para cada frequência, a:

– Ajuste do Gerador de áudio ligado sobre a linha tal que M1 marcasse 5 Volts;
– Registaram-se os valores lidos em G e M2;

Banda de passagem:

Registando os valores da função A(f) / (Afo) = >1/Raiz de dois, sendo Afo=M1/M2, para fo = 100 Hz, obtém-se a curva n.º 2 da figura 19.

Curva de atenuação

A curva de atenuação obtém-se de  A(db) = – 20Log1o{M2/M1},que se representa como o n.º 1 da figura  19.

O registo de valores apresenta-se no quadro seguinte:

QUADRO DE VALORES PARA
AS CURVAS DE ATENUAÇÃO E BANDA DE PASSAGEM

f ( Hz )

5V SOBRE 600 ohms

 

M1 a 5V SOBRE A LINHA

G ( V )

M1 ( V )

M2 ( V )

 

G ( V )

M2 ( V )

M2/M1

A (db) = – 20 Log10 (M2/M1)

20

5,0

5,4

2,4

 

5,0

2,4

0,48

6,4

50

5,0

5

2,4

 

5,0

2,4

0,48

6,4

100

5,0

5

2,4

 

5,0

2,4

0,48

6,4

200

5,0

4,8

2,4

 

5,0

2,4

0,48

6,4

300

5,0

4,9

2,4

 

5,0

2,4

0,48

6,4

400

5,0

4,9

2,4

 

5,0

2,4

0,48

6,4

500

5,0

5

2,4

 

5,0

2,4

0,48

6,4

900

5,0

4,8

2,1

 

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7,2

1.200

5,0

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2,0

 

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5,0

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1,6

 

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4,3

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15,9

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4

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7,0

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18,4

10.000

4

2

0,2

 

8,5

0,6

0,12

18,4

Inauguração

Com a aproximação do fim dos trabalhos, começou a ser comentada a mudança de possibilidades de comunicação estabelecida pelo Exército, quer entre Nampula e o “mato”, quer entre Nampula e Lisboa. A Marinha que, desde sempre tinha tido o monopólio das comunicações entre Portugal e o Ultramar, ficava agora em posição de desvantagem. Começaram até a aparecer certas picardias entre o nosso pessoal menos graduado, como “Ai Nampula, Nampulinha, não tens mar mas tens Marinha!” De facto a Marinha tinha um Comando Naval em Nampula, com o mar a 200 km.

A poucos dias da entrega ao STM fui informado pelo Major Garrido Baptista que o Comandante, General Kaúlza de Arriaga, faria pessoalmente a inauguração, que esta teria lugar no Centro Emissor nos primeiros dias de Março de 1971, e que me preparasse para lhe fazer o briefing.

O general Kaúlza escutou calado a exposição, durante a qual referi que, embora não tivesse havido baixas nem acidentes, o trabalho tinha custado “suor e sangue”, ao que ele emendou “suor sim, mas sangue não”, observação que demonstra que ele tinha estado atento a tudo.

Do próprio Centro Emissor, o Kaúlza fez uma chamada para Portugal e outra para Porto Amélia.

Terminada a demonstração, o General deu instruções para que eu e o meu pessoal fôssemos distinguidos com uma semana de férias na praia de António Enes, com direito a transporte a cargo do Exército.

Soube depois que nas determinações do General estava incluída a apresentação de uma proposta de louvor pelo comando do BTm2 para o autor do projecto, o que veio a acontecer e consta da minha folha de serviços. 

No verso da foto: 1971 – A malta do cabo auto-suportado segue para férias para António Enes
Cabo Auto-suportado – Lançamento Inicial (nem Trepa nem Puxa)
Cabo Auto-suportado – Trabalhos no Poste
Cabo Auto-suportado (Cor J. Rio e Maj G. Baptista)
Cabo Auto-suportado – Execução de emenda (Cap Cruz Fernandes)

Agradecimentos – Pessoal da Unidade

Terminada a fase de ensaios com resultados positivos, feita a inauguração oficial e a entrega ao STM, estava cumprida a minha missão. Restava agradecer aos colaboradores que mais se distinguiram. Pela importância que teve no estímulo que me deu e desafios que sempre me punha, agradeço postumamente ao Major Garrido Baptista, um dos poucos oficiais com quem realmente aprendi. O que lhe saía das mãos era de qualidade superior e de primorosa execução, nunca aceitando a desculpa de falta de meios para apresentar trabalho de qualidade inferior. Foi pela sua exigência que eu o admirei e outros o odiaram.

De um modo geral todo o pessoal da CTm tem jus ao meu agradecimento, mas destaco os seguintes, por serem aqueles a quem mais exigi:

Furriel Pereira Delgado, especialista em cabos e colaborador, como desenhador, no Projecto;
1.º Cabo Bernardo (1.º Trepa)
1.º Cabo Sousa (2.º Trepa.)
Soldado guarda-fios Caetano Luís
Soldado guarda-fios Portugal
Soldados condutores Constantino, Fonseca e Raimundo.

Agradecimentos – Entidades Alheias à Unidade

Alferes Eng.º Ramalho (fabrico de postes)
Cmdt da CTp – Capitão Vasconcelos (transporte de postes)
Capitão Eng.º Bonito (Máquinas carregadoras).
Director dos CTT-Nampula, Eng.º Gustavo Guimarães (atrelado de transporte da cabos).
Sr. Bártolo – Funcionário da CMN (fabrico de postes e cortes de energia)

Considerações finais

Apesar de, nos fins do ano 70, a Frelimo ter aberto a frente de combate de Tete e ser a CTm, do meu comando, a responsável pelas transmissões da operação, os trabalhos do Cabo Auto-suportado terminaram em tempo de a ligação a Lisboa ser inaugurada antes do Dia da Arma, para satisfação de todos os envolvidos na acção.

Refiro ainda que a forma didáctica como o trabalho está apresentado é propositada, destina-se a criar Escola e a funcionar como guia em trabalhos futuros.

Nota 1 – Comunicações que incluem a integração telefone/rádio (radiotelefónicas) têm uma parte do percurso em que a emissão e a recepção se faziam pelo mesmo circuito e a outra em que o circuito de emissão é separado do da recepção. O equipamento electrónico que executa esta operação chama-se híbrido. Pode-se descrever um híbrido como um dispositivo electrónico com três portas: Uma delas aceita sinal nos dois sentidos e liga-se ao circuito telefónico. Das outras duas, uma é de emissão e a outra de recepção. Numa chamada radiotelefónica, o operador cativa um híbrido, usando a porta de saída para enviar o sinal. Ao receber o retorno, envia o sinal à porta de entrada do mesmo híbrido, que o encaminha para o circuito telefónico iniciador. A partir deste momento a comunicação continua sem necessidade de intervenção do operador.

Nota 2 – Toda a descrição dos trabalhos efectuados, antes de Março de 1971, refere-se ao troço de cabo entre o Comando e o CE. O troço entre o Comando e o CR foi por mim executado mais tarde, já o Cap Bastos Moreira comandava o STM.

16 comentários em “Cabo Auto-Suportado – Moçambique

  1. Excelente post. Excelente relatório, detalhado e rigoroso, que dá bem a ideia, sobretudo aos mais novos, do que foram as dificuldades dos trabalhos técnicos em África nesses anos de grande actividade das Tm, mas também a capacidade para as ultrapassar. Parabéns, gostei muito deste teu trabalho. Um abraço.

  2. Em primeiro lugar, dou os meus mais sinceros parabens ao Cruz Fernandes pela magnífica descrição que faz deste trabalho, que, como ele refere tem tambem uma finalidade (importantíssima, diria eu) didática. A experiência que muitos de nós adquiriram no terreno (arrostando com inimagináveis dificuldades) deve ser transmitida aos mais novos para que se consiga que os esforços destes sejam menores do que foram os nossos.
    Em segundo lugar, creio que um post deste tipo e quilate incentiva outros visitantes do blog a fazer o mesmo.
    Em terceiro lugar, a descrição deste tipo de trabalhos (neste caso na área das transmissões, mas há muitos outros casos, nomeadamente na área das operações) que demonstram e divulgam o que foram os esforços dos militares em geral na Guerra Colonial. E estes esforços são, na sua grande maioria, desconhecidos e ignorados pelos portugueses. E, o que é triste, é que NINGUEM (ou muito poucos) se preocupam com essa divulgação. E, desta situação, resultam no mínimo duas graves consequências, a saber:
    -a primeira, a forma como, hoje, se “olha” para as Forças Armadas e, em especial, para os militares;
    -e a segunda, o desconhecimento daquilo que há de positivo para o nosso País nas actividades desenvolvidas no seio das suas Forças Armadas, mesmo em tempo de paz. Apesar desta atitude e sentimento algo penoso e frustrante que eu tenho perante o que se passa no nosso País em relação aos militares, ainda existe em mim uma pequenina satisfação:
    -quando há qualquer coisa que “cheira a esturro” venham cá os militares para a resolver!!!
    E por aqui me fico. Parabéns Cruz Fernandes, mais um vez.
    Garcia dos Santos

  3. Amigo Canavilhas
    Agradeço todos os apoios que tens dado para lidar com o Blogue e, principalmente, as tuas palavras de apreço pelo post. Um abraço. CF

  4. Concordando inteiramente com o teor das considerações apresentadas quanto á excelente qualidade do post do coronel Cruz Fernandes e à sua importância para o Blogue e para a CHT, dado o respeito que me merece este trabalho excecional, permito-me acrescentar o seguimte;

    A “operação cabo auto-suportado”, plena de sucesso, representou uma realização marcante, a nível da Arma, pois constituiu a primeira demonstração da capacidade técnica da nova elite tecnica da Arma, protagonizada por um engenheiro eletrotécnico. com a patente de capitão…
    A sua dificuldade era enorme, gastando lembrar que o saudoso capitão Figueira, o oficial da Arma mais prestigiado tecnicamente da Arma, considerou a operação “impossível”.

    Julgo que se, em 1971, a actuação do coronel Cruz Fernandes contribuiu para que uma “operação impossível” se tornasse possível, penso que agora mais de quarenta anos depois o seu post contribua também para que o que até aqui tem parecido impossível: alguns dos membros da CHT apresentem o seu tesremunho de factos que não devem ser esquecidos.

    A exemplo do que alguns já fizeram e como o general Garcia dos Santos preconiza ao citar este post do Cruz Fernandes como exemplo a seguir. No interesse de todos n´sos.

  5. Extraordinário exemplo e trabalho detalhado em todos os promenores com uma vasta equipa,mas acredito com enormes dificuldades e por vezes sabe…contrariados. Mas,” mais palavras para quê…é um artista Português”
    Cumprimentos e Alfas Bravos p/tds. Luís Simplíçio

  6. Ainda a propósito do Cabo Auto-suportado, quero dizer que nunca me esquecerei do esforço heróico feito por todos aqueles que nele colaboraram. Trabalharam dia e por vezes já noite, de semana, Sábados, Domingos e dias santos, debaixo daquele clima terrível. Foi isto que eu vi e senti. Não trabalhei no cabo mas sofri ao ver. Um abraço para todos eles.

    1. 14 de Março de 2017.
      Talvez não seja este o sítio certo para fazer esta comunicação, mas mesmo assim faço. Faço porque faleceu um homem, um amigo, que foi a alma, ( para além do Sr. Eng. Manuel da Cruz Fernandes ) do Cabo autosuportado,
      ABEL PEREIRA DELGADO. Faleceu ontem no IPO de Lisboa.
      O seu funeral foi hoje em Sines, local onde trabalhou e morou. Foi cremado no Crematório da Quinta do Conde concelho de Sesimbra, distrito de Setúbal. A quinta do Conde fica muito perto do Barreiro. Que descanse em PAZ.

      1. Amigo Manuel Mecha, 15 de Abril de 2017
        Foi com grande consternação que tomei hoje conhecimento, através do seu comunicado, do falecimento do saudoso amigo e camarada Furriel Abel Pereira Delgado. De facto o seu saber e a sua dedicação constituíram valores fundamentais para que se levasse a bom termo o trabalho do Cabo Auto Suportado.
        O seu exemplo de dedicação e a sua experiência profissional muito contribuíram para o sucesso da obra. A nossa vivência em conjunto transformou-se numa amizade a ponto de ele ser visita de minha casa em Moçambique e ficarmos ligados até à sua ida para Sines e tomar aí rumo da sua vida com sua mulher moçambicana.
        Depois a nossa ligação foi afrouxando acabando por perder o seu contacto, mas nunca a saudosa lembrança da sua pessoa e da sua camaradagem. Foi com grande choque e muita saudade que tive conhecimento da infausta notícia da sua morte. À família enlutada os meus mais profundo sentimento de perda e de solidariedade. Manuel da Cruz Fernandes

        1. Sr. Engenheiro, Senhor Coronel.
          A minha mensagem tinha essas duas funções. Lembrar O Delgado como uma pessoa e trabalhador exemplar tal como o senhor reconheceu e fazer com que o Sr. Engenheiro tivesse conhecimento do seu falecimento. Como grande amigo que era do Delgado, agradeço as suas palavras e deixo lhe, Sr. Engenheiro, um grande abraço.

          1. Muito obrigado pelo seu poster. Guardemos um sentimento de eterna gratidão e saudade deste exemplar camarada. Cruz Fernandes

  7. Exmos Sr. Coronel Manuel da Cruz Fernandes
    Fiquei estupefacto.
    Excelente pormenor técnico descrito
    Excelente a actuação das nossas tropas no antigo Ultramar.
    Os PORTUGUESES, são de facto extraordinários, com bom comando, com engenho, boa vontade e empenho superamos as dificuldades.
    Sr. Coronel Manuel da Cruz Fernandes, (perdoe-me a frontalidade),mas quando no(s) longínquo(s) ano(s) 1982/83, em que estava no Rtm , e me cruzava com o Sr. (à época), Tenente Coronel, e que inclusivamente chegámos a falar na “oficina” de Feixes Hertzianos, à qual pertenci, (juntamente com o Sr. Capitão Félix, Sr. Capitão Varela. 1º sargento Louro), o Sr. Coronel apesar de todos os seus feitos, demonstrava sempre uma perfeita normalidade e cordialidade,para com todos, sempre dentro dos padrões hierárquicos.
    Nada mais posso dizer senão “espectacular”, aliás já demonstrado no post “história de vida”
    Amilcar Delgado
    (ex1º cabo 185/82
    Rtm/Compª Manutenção)

    1. Amigo Amílcar Delgado
      Muito obrigado pelo seu comentário. De facto Moçambique foi um viveiro de boas experiências e uma oportunidade única nos conhecermos uns aos outros, avaliarmos as nossa qualidades e as nossas deficiências.
      Um abraço e obrigado

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