
No dia 25 de abril de 1975, cumprem-se agora 50 anos, realizaram-se as primeiras eleições livres em Portugal, tendo a Assembleia Nacional Constituinte sido eleita por sufrágio universal, direto e secreto, dando cumprimento ao compromisso expresso no Programa do MFA.
No início de 1975, o Ministro da Administração Interna solicitou ao Chefe do Estado-Maior do Exército, o General (Graduado) Soares Fabião, a nomeação de especialistas de telecomunicações para apoiar o Secretariado Técnico para os Assuntos Políticos (STAP), recém-criado, no planeamento e execução do sistema de transmissão e de escrutínio provisório dos resultados das eleições. De imediato o Diretor da Arma de Transmissões nomeou o major eng.º de Transmissões José Maria Marques, que contou com a colaboração dos quatro tenentes tirocinantes de Transmissões: Edorindo Ferreira, Paulo Melo Azevedo, João Oliveira Ferreira e António Sousa Maia, então colocados na Escola Prática de Transmissões em Lisboa (Sapadores).
Repartimos o tempo entre a Direção da Arma de Transmissões, no Campo de Santa Clara, e o Ministério da Administração Interna, na Rua do Ouro e, em conjunto com pouco mais de meia dúzia de técnicos do STAP, na maioria licenciados em Direito, em três meses, com uma pequena interrupção devido aos acontecimentos do 11 de março, foi montada “a máquina eleitoral”. O Centro de Escrutínio foi instalado na Fundação Calouste Gulbenkian, onde até ao meio da tarde do dia 26 foram recebidos 4.027 telegramas, um por cada freguesia do país, através das redes dos CTT/TLP.
O apuramento dos resultados foi efetuado por um computador da empresa “Sociedade Portuguesa de Computadores em Tempo Dividido” (Time-Sharing), (de grandes dimensões e reduzida capacidade de processamento), instalado algures em Lisboa. Os dados recebidos pelos telegramas foram introduzidos em terminais informáticos, por operadores da empresa, ligados ao computador por linhas telefónicas.
Saliento a complexidade do planeamento deste Centro, assim como a coordenação do seu funcionamento, que envolveu a participação de diversas entidades e onde trabalharam centenas de pessoas, para além de um pouco mais de 1.000 jornalistas, cerca de metade estrangeiros.
Durante todo o processo de escrutínio, que decorreu das 20 horas do dia 25 de Abril até ao fim da tarde do dia 26, coube-me a missão de assegurar a Ligação com a Comunicação Social (televisões, rádios, jornais e revistas, nacionais e estrangeiros). Todos os documentos, desde cada telegrama das 4.027 freguesias até aos resultados e mapas parciais e totais que iam sendo apurados pelo computador, eram registados e fotocopiados num Gabinete guarnecido por militares da Arma de Transmissões e depois entregues cópias (muitos milhares), devidamente validadas, aos jornalistas acreditados ou seus representantes.
Depois de várias lutas, de algumas noitadas e de alguns casos caricatos, a missão foi um sucesso, mereceu reconhecimentos vários e, nos primeiros dias de maio, culminou com um almoço de confraternização num restaurante no Guincho. Pouco depois os tenentes foram concluir o tirocínio no Regimento de Transmissões (Porto), o chefe da equipa militar foi promovido a tenente-coronel e passou a ter mais tempo para se dedicar à pintura (pintor José de Guimarães).
21 de abril de 2025
Edorindo Ferreira
Anexo: fotografia que prova que estive lá!

Gabinete de Ligação com a Comunicação Social (Foto Miranda Castela)