Cap. I – Infância, adolescência e início de carreira

Nasci numa aldeia da Serra Amarela, no coração do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG).

Serra Amarela (PNPG)
Serra Amarela (PNPG)

Em 1935, vésperas da Guerra civil Espanhola, a vida era precária e a fome grassava entre as famílias da minha aldeia, algumas vivendo do contrabando.

Com dois anos de idade, o meu pai emigrou para a América, de onde tinha vindo para casar com minha mãe. Meu irmão criou-se com a minha avó até aos sete anos. A minha mãe tinha de fazer face à vida de casa e à lavoura de subsistência e eu, desde que me lembro, ficava sozinho manhãs e tardes inteiras, perguntando à vizinhança que passava pela minha mãe, vizinhança que me dava uma explicação bondosa e prometia que ela vinha já.

Antes de ir para a escola aprendi a ler com uma senhora que sabia umas letras e me ensinou tudo que sabia, que pouco era.

Paradamonte, freguesia de Britelo (foto Google)
Paradamonte, freguesia de Britelo (foto Google)

A freguesia de Britelo tem três aldeias, distanciadas umas das outras de 6km, havendo então escola apenas no lugar da Igreja. Da minha aldeia, Paradamonte, para lá, o caminho fazia-se ou pelo meio de pinhais ou pela montanha, tendo, por qualquer deles, de atravessar dois ribeiros pelas poldras, o que tornava o percurso impraticável para crianças.

Porém, minha mãe, que tinha um desgosto profundo por não saber ler, prometeu a si própria que os seus filhos não ficariam sem escola. Pegou em não sei quantos cabritos e presenteou com eles o Sr. Américo – espécie de encarregado dos bens imóveis da empresa Electra del Lima – e pediu-lhe que, por favor, deixasse os seus filhos frequentarem a escola reservada aos filhos dos funcionários da empresa. Assim se introduziu uma exceção à regra e começámos a ir à escola.

Os anos iam passando sem que nenhum aluno fosse proposto a exame, coisa que não afectava muito nem os empregados nem os seus filhos, pois nunca me constou que alguém reclamasse. Mas um dia chegou Aurora Pires Soares, uma professora excepcional e tudo mudou. Em menos de um ano fez de mim o primeiro aluno saído daquela escola a fazer a 4ª classe, ficando-lhe para sempre grato, por ser a pessoa que mais me ensinou e a levou a ela a declarar, já reformada, que eu tinha sido o aluno que mais a marcou na sua carreira.

Adolescência

De muito novo sobrava-me tempo para tudo e, depois de aprender tudo que havia para aprender na lavoura, fiz a minha primeira espingarda e o meu primeiro banco, que ainda hoje existe. Depois dei comigo em pedreiro e com tanto sucesso que o Sr. Palhares, o capataz, me pôs logo a ganhar tanto como os homens adultos (29$00 por dia). Tomei parte numas teatradas de aldeia e quando dei por mim estava a namorar e em vias de as famílias de parte a parte comentarem que seria um belo destino para uma menina prendada como aquela que eu tinha escolhido.

Só que, ao mesmo tempo que aos olhos dos vizinhos eu ia ser um lavrador desembaraçado e de sucesso, ia-se criando dentro de mim uma nostalgia do mundo, do desconhecido e do imprevisto. Estava entre os meus 14 e os 15 anos e o meu pai tinha regressado havia três da América, sem que tivesse havido um rasgo que desenhasse um futuro para mim. Decidi por isso, pôr a descoberto a pressão que então me abafava, e pedi-lhes para termos uma conversa muito séria, na qual disse mais ou menos o seguinte: “ Meu pai, o senhor que andou pelo mundo, vai compreender o que vou dizer; a minha mãe, acho que nunca o compreenderá, mas estou decidido: Quero ir embora! Se me deixarem partir, eu escrevo, digo onde estou e podem mandar-me as vossas bênçãos nas cartas que me escreverem. Se não me deixarem partir, eu fujo e não digo onde estou, porque sou menor e sei que me podem ir buscar”.

Perante isto, a minha mãe chorou e o meu pai tomou outras medidas: Arranjou que eu fizesse a viagem para Lisboa com um vizinho que estava de férias e combinou com outros dois que “fizessem a favor de adiantar o que o rapaz precisasse, que ele se responsabilizava de imediato pelo pagamento”.

Parti para Lisboa, onde cheguei um dia e uma noite depois. Aqui peguei num jornal e li um anúncio pouco comum: A Exma. condessa de Farrobo, Rua da Escola Politécnica, n.º 47 R/C precisava de uma acompanhante, uma espécie de pagem para quando saía, como nas suas idas à missa, apresentar cartões de cumprimentos a Salazar e coisas assim.

E lá fui eu! Aí fiquei, mas a permanência foi de pouco mais de um mês, porque na casa havia um criado mais velho cujo comportamento não era o meu género.

Daí transferi-me para o aeroporto de Lisboa, onde aprendi a ser empregado de mesa, com carteira profissional e tudo.

Logo que assentei no meu emprego, comecei a fazer contas à vida, não só à económica como à cultural, frequentando como estudante trabalhador (o termo só mais tarde seria inventado), várias escolas e explicadores em Lisboa. Mas a minha idade não me permitia fazer exames até ser maior, altura em que podia propor-me a mim próprio.

Vida Militar

Quando chegou o momento de assentar praça, em 1956, no BT, encontrava-me apenas habilitado com a 4.ª classe.

A recruta foi dada no Casal de Pote, em Tancos, finda a qual regressei a Lisboa para tirar a especialidade de Centro de Mensagens, num período do ano em que começavam a decorrer os exames para a primeiro ciclo Liceal, aos quais concorri e fiquei aprovado com média de 17 valores.

Terminada a especialidade, regressámos a Tancos para um exercício com o BTm 3, sendo o chefe do CMsg e meu chefe imediato o então sargento David. Do Casal do Pote avançámos para Santa Margarida, indo acampar num pequeno pinhal em frente de onde hoje se situa a torre do SITEP.

Acabado o exercício, o “Glorioso” ficou de castigo, acampado em Santa Margarida até (penso eu) Novembro. Um dia chegou uma praça ao acampamento de perguntou por mim. Era portador de uma ordem que me fazia marchar para Lisboa, agora para frequentar o curso de sargentos milicianos, na especialidade de Centro de Mensagens, devido à mudança das minhas habilitações literárias.

De novo no BT, o curso correu às mil maravilhas, dando a minha classificação para escolher unidade, o que fiz, preferindo Lisboa. Fui parar a o Reg. Eng. N.º 1 – Campo Grande, sendo ao tempo a recruta na Pontinha. No Campo Grande foi-nos dada uma preparação primorosa para habilitação como monitores da próxima escola de recrutas. Destaco aqui e na Pontinha três oficiais: Capitães Pacheco (dois irmãos) e Alferes Maia e Costa. Na Pontinha passei belíssimos momentos de camaradagem e recebi conselhos avisados do Cap. Fernando Pacheco. Aí me apercebi que a vida militar era o último reduto onde se podiam afirmar valores pessoais e intrínsecos, sem trazer atrás a estirpe e o parentesco. Aqui cada um revelava-se como era sem subterfúgios e era avaliado pelo fazia e valia. A vida ensinou-me mais tarde que nem sempre é assim. Mas se a um jovem não o movem ideais, o que pode esperar deixar de lembrança da sua passagem pela vida?

Feitas as contas, e como não tinha esquecido de estudar, uma secção do 5.º ano do Liceu foi vencida no meio de toda esta atividade e ainda sobrou tempo para concorrer ao pentatlo militar do Governo Militar de Lisboa, onde fiquei em segundo lugar.

É na Pontinha que encontrei a mulher que veio a ser a mãe dos meus filhos e que ainda faz caminho a meu lado. E foi aí que decidi entre medicina e a carreira das armas. Seguir a carreira exigia, para a minha ambição, concorrer à Academia Militar e isso exigia por sua vez ser sargento do QP pelo menos há dois antes da entrada.

Acabada a recruta, feitos os exercícios finais (em Alcabideche), estava na hora de regressar ao BT e de aí iniciar uma nova fase: Tirar o curso de sargentos do QP e continuar os estudos liceais, o que fiz com a mesma boa disposição e tempo para tudo. Finalizei o 5.º ano do Liceu mais ou menos na mesma altura em que fui promovido a 2.º sargento de QP.

Imediatamente a seguir inscrevi-me no curso de Material e Segurança Cripto, dado pela CHECIE, entidade que ao tempo tinha uma conotação quase mítica e suscitava pensamentos de mistério. Terminado o curso que fiz com o Nunes (que terminou a carreira em Major), a minha classificação deu para ficar no próprio Serviço, onde permaneci enquanto acabava o 6.º e o 7.º anos liceais e concorria à Academia Militar (AM).

No meu ano de entrada, 1960, concorreram 930 candidatos à AM, dos quais, 29 eram sargentos do QP. No conjunto entraram 103, dos quais apenas um sargento, que fui eu.

Fig1 - Equipa da AM - Campeã Universitária 63-64
Fig1 – Equipa da AM – Campeã Universitária 63-64

E, assim, 4 anos depois de ter começado os meus exames para tirar os sete anos de Liceu, eu tinha concluído os meus estudos secundários e ganho o acesso ao curso superior que eu sempre quis.

A medicina tinha ficado pelo caminho porque na Academia eu podia estudar a tempo inteiro e em Medicina teria de ser em part-time, pois aí, tinha de fazer face à minha vida económica. Também, sempre me orientei para não precisar das garantias de financiamento que o meu pai me havia assegurado em Lisboa.

Apesar da forma ligeira como trato as dificuldades que passei, confesso que tive momentos difíceis na minha carreira de estudante, sendo o pior o segundo ano da AM, no qual, além das atividades escolares, tinha a conferência de S. Vicente de Paula, com três doentes distribuídas, uma das quais tão fora de mão como o Sanatório da Parede. Em cima de tudo isto, iniciava-me no Rugby da AM, batendo-me nos anos seguintes na equipa, conduzida pelo Rocha Vieira, que ganhou o campeonato universitário (1964).

Fig2 - Rugby - Em ação
Fig2 – Rugby – Em ação

Terminado o 2.º ano, na Amadora, deu-se a passagem para Gomes Freire, onde só se entrava com uma praxe em forma. A Academia Militar tinha sido criada recentemente, assim como os cursos de electrotecnia, havendo apenas um antes do meu. Dele faziam parte o Cunha Lima, o Figueira, o Saraiva Mendes, o Carvalho Gomes, o Frade, o Louro, o Cordeiro (Verde), o Cruzinha Soares, etc..

Nesse ano, os cadetes deste primeiro curso resolveram preparar uma espécie de cerimónia, onde se contavam peripécias da vida académica em versão teatral e se impunha aos “caloiros” a invenção do grito da Arma de Transmissões. Na distribuição do trabalho, a invenção do grito coube-me a mim, porque era o único que tinha passado pelas Transmissões e tinha umas luzes do que isso era. Conjecturando sobre o que tinha de fazer, pressentia que um grito, para funcionar, tinha de ser uma coisa simples e curta, para que saísse limpo, uníssono e possante. E passei ao ataque.

Fig3 - Praxe - Nasce o Grito da Arma
Fig3 – Praxe – Nasce o Grito da Arma

Pelos antecedentes que ficam descritos, eu levava já uma grande sensibilidade para a necessidade do segredo em transmissões e tinha a convicção de que, já que estávamos a fazer tudo de novo, porque não trazer o segredo e a CHECIE para a Nova Arma?

Daí saiu “O Segredo – Guardamos”

Sabia também, por já ter participado em manobras e exercícios, que as Transmissões avançam em primeiro escalão para estabelecer as pontes de Comando. Isto, aliado à ideia de terem as melhores tecnologias sempre subjacentes nos equipamentos com que lidavam. Dois elementos determinantes da ideia de vanguarda.

Daí saiu “Na Vanguarda – Avançamos”

Pouco mais de um ano antestinha-se dado o assombro do mundo ocidental, ao acordar uma manhã com o Pássaro Madrugador (Sputnik I), lançado pela Rússia, a fazer bip-bip sobre as suas cabeças, visível a olho nu. Dessa imagem e do carácter universal da missão das Transmissões que já tinha presenciado por experiência própria, surgiu a ideia de encerrar no Grito esse sonho de grandeza, essa chama de utopia.

Daí Saiu “O Mundo – Informamos”

A própria AM tinha dado o seu contributo, ao introduzir no conhecimento dos alunos o universo das novas partículas que, com os velhos electrões, vieram enriquecer o campo dos nossos obreiros electrónicos.

Daí saiu: “ Alfa, Beta – Radiações”

Faltava identificar numa espécie de apoteose quem era esta entidade que tinha tais atributos numa alegoria um pouco camoniana, entrelaçando código morse com sinais de sputnik.

Daí saiu “Bip bip – Transmissões”

Faço notar que as alterações tardias, introduzidas no Grito, uma pelo General Pinto Correia “As Transmissões – Mantemos” e “Alfa, Bravo – Radiações”, por confusão da noção da partícula Beta, com o som da letra B no Alfabeto fonético, são espúrios relativamente ao grito original.

Terminei a AM nos 4 anos previstos, saindo daí para o Técnico, em 1964, ano em que casei. Quando passámos da AM para o IST, havia um aluno do meu Curso, o Rodrigo Leitão, que levava nota superior à minha. Chegados ao IST, estudei o primeiro e o segundo anos (3.º e 4.º dos internos), com grande seriedade e afinco, tornando-me até explicador de certas cadeiras para colegas civis que não tinham alcançado aprovação em anos anteriores.

O último ano foi de consagração, sentindo-me dominar completamente a situação, a ponto de a minha mulher se assustar com receio que eu perdesse o ano. Sosseguei-a e terminei na primeira época (Junho/Julho) com a obtenção da minha licenciatura. Só eu, do meu curso, terminei na primeira época, com nota superior à do Rodrigo Leitão. Refiro esta passagem porque vai ter reflexos no futuro.

Além de terminar o Curso na primeira época, tinha, durante o mesmo, feito dois estágios, um na CNE (Companhia Nacional de Electricidade), em Sacavém, e outro na RARET, em Glória do Ribatejo. Desta última apresentei um relatório escrito e publicado em livro.

Terminei o curso de IST colocado em 1.º do meu curso e tendo ultrapassado cerca de 1/3 do curso anterior ao meu. Os camaradas do 1,º curso que ficaram depois de mim foram, entre outros, o Cordeiro Verde, o Cruzinha Soares, o Frade, o Louro, o Honrado Gomes, etc. Estávamos em 1967.

Outra vez no BT (1968)

Acabado o curso no IST, procedeu-se ao Estágio no BT, onde, entre outros, foram nossos professores o Garcia dos Santos, Garrido Baptista, Saraiva Mendes e Carlos Alves Inácio. Terminada a primeira parte do Estágio no BT, seguia-se a segunda parte no Porto, para parte do efectivo. Terminei no BT mais uma vez à frente do Leitão e, por isso, era a ele que competia deslocar-se para o Porto, mas acabei por ser eu, já casado e com filhos.

Depois de 17 dias de Porto (já eu tinha a minha tese pronta), quando marchei do novo para Lisboa para ser enviado para Ânzio (Itália) para um curso de guerra electrónica, entregando a minha tese ao Louro que a publicou no livro de estágio.

No regresso de Itália entreguei o Relatório na 5.ª de EME, cujo chefe me identificou pelo nome e me compeliu a que eu contasse o que se tinha passado no BT com as nossas classificações finais do curso.

Daí, e talvez de outros testemunhos que já haviam sido acumulados na Repartição, resultou que retomei a minha posição de 1º classificado no curso.

Logo que me apresentei no BT fui nomeado instrutor de Guerra Electrónica, seguindo nessa função ao cap. Garcia dos Santos (1968).

Os CTT

Quando era aluno do IST, passou-me pelas mãos um livro sobre antenas de HF que deveras me impressionou. Quis comprar a obra mas não estava à venda. Em contrapartida descobri quem era e onde trabalhava o seu autor. Tratava-se do eng. Amaro Vieira, chefe dos Serviços Radioeléctricos dos CTT e também Chairman de um Grupo de Trabalho da UIT (União Internacional das Telecomunicações). Dirigi-me ao local de trabalho do eng. Amaro Vieira, informando a secretária de quem eu era e o que pretendia.

Amaro Vieira quis conhecer-me, talvez pelo apreço que demonstrei pela sua obra, e, no fim da nossa conversa, ofereceu-me o livro e quis saber outras referências minhas, que eu lhe forneci.

Algum tempo depois do meu regresso de Itália fui informado que teria de ir (devidamente fardado de n.º1) à Rep. Gab. M E. Lá me fardei e fui, sendo aí recebido pelo coronel Catela, que me informou que eu iria trabalhar em part-time nos CTT, que S. Ex.ª o Senhor Ministro de Exército já havia decidido. Depois de algumas perguntas do Coronel Catela, mal acreditava ele que eu não soubesse o nome do santo de tal cunha, mas, de facto, não sabia. Porém, fiquei sem dúvidas de que teria sido Amaro Vieira, a quem eu tinha contado algumas restrições do meu início de vida. A normalização da situação fez-se com um requerimento posterior meu, a solicitar a benesse que já me tinha sido concedida.

E lá fui eu para Barcarena, onde colaborei até embarcar para Moçambique e onde tive alguma sorte no desempenho de missões, nem sempre fáceis, uma das quais já contei ao referir-me ao HF Tempo Real.

O Trabalho nos CTT não diminuiu em nada as minhas responsabilidades no BT. Aqui, além de Instrutor de GE, era também comandante da Companhia TPF. Nesta qualidade visitei todas as Unidades das Regiões Norte e Centro, ficando-me desse tempo uma panorâmica do País e do Exército a servir que viriam a ser muito úteis quando, mais tarde, desenvolvi a questão do SITEP. Foi ainda na qualidade de comandante da Companhia TPF que elaborei o caderno de encargos e fiz a aquisição do cabo auto suportado para o Comando das FA de Moçambique, o mesmo que, mais tarde, eu mesmo viria a instalar.

3 comentários em “Coronel Cruz Fernandes – Uma notável história de vida (1)

  1. Início de vida bem interessante. Pelo menos para alguém como eu que também vim da província ( Alentejo raiano) com 15 anos, fui para a tropa com a 4ª classe, iniciei os estudos após o regresso de Moçambique em Dezembro de 1974 e entrei para o IST poucos anos depois. Sei como deve ter sido difícil a sua vida em alguns momentos. Parabéns.

    1. Muito agradecido pelo seu testemunho, especialmente vindo de alguém que teve de percorrer caminhos idênticos.
      Cruz Fernandes

  2. A parte inicial do primeiro post da “história de vida” do coronel Cruz Fernandes, dedicada à sua infância e adolescência, é impressionante, pelas dificuldades que encontrou para evitar ser o lavrador analfabeto a que parecia estar irremediavelmente condenado.

    Aparentemente a impressionate luta que travou na sua infância não tem nada a ver com a história da sua vida militar.

    Para mim, porém, a narrativa da sua infância é importantísima, porque nos dá a chave para compreender a sua vida na idade madura, onde iriam abundar as “missões impossíveis” em que se empenhou e cumpriu, como sucedera quando foi o primeiro aluno da sua aldeia a passar no exame da quarta classe.

    Neste primeiro capítulo permito-me distinguir duas enormes “missões impossíveis” que soube cumprir:

    . a primeira foi a de ter entrado na Acadenia Militar, com o posto de sargento, tendo sido o único sargento que, nesse ano, entrou na Academia, o que nada tem de especial pois muitos outros sargentos têm entrado na AM. Porém o caso de Cruz Fernandes é absolutamente extraordinário se nos lembrarmos que quatro anos antes, com 20 anos, tinha apenas a 4ª classe, quando foi incorporado como soldado e para entrar na Academia tinha que ter o curso liceal completo.

    . a segunda foi a de, apesar de todas as dificuldades por que passou, ter sido, na Academia Militar, o 1º clasificado do seu curso.

    Para terminar, uma referência à sua primeira missão militar, que foi relativa a Guerra Eletrónica, tirando um curso em Anzio e depois substituindo, no BT, Garcia dois Santos como instrutor.

    Penso que esta missão foi importante para ele, assim como a estadia anterior na CHERET, para lhe dar uma sensibilidade particular que lhe reconheço em problemas de Segurança das Transmissões.

    No entanto o texto nada diz sobre esta passagem de Cruz Fernandes pela GE. Ao ver o Ìndice dos posts percebi que terei que esperar pelo capítulo dedicado à GE, que certamente virá preencher uma lacuna neste Blogue sobre esta matéria.

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