Aranha das TmTendo sido decidido que o Posto de Comando (PC) do MFA no 25 de Abril seria instalado numa sala recatada do Regimento de Engenharia nº1 (RE 1) na Pontinha, houve que garantir a instalação prévia de meios de comunicações (telefones e rádios), de que o local não dispunha, com urgência e discrição.

Os rádios tácticos e respectivas antenas foram obtidos e instalados de véspera, sob a supervisão do então tenente coronel Garcia dos Santos, responsável pelas transmissões do movimento. Mas a montagem de telefones militares, fundamentais para garantir ligações seguras à rede militar (controlada por oficiais de Tm do MFA) e para providenciar uma linha directa (ponto-a-ponto) entre o PC e a sala da Central automática da EPTm (hoje RTm) em Sapadores, onde eram controladas as comunicações, tinha que começar mais cedo.

Para tal, e aproveitando uma ordem hierárquica já existente para instalar com urgência um telefone militar na zona dos Pupilos do Exército (Estrada de Benfica), foi decidido dar seguimento a esse processo, instalando clandestinamente, a partir das 20H00 do dia 22, um cabo aéreo de 5 pares com 2.000 m (retirado clandestinamente do depósito da EPTm depois das 20H00), primeiro até ao Colégio Militar (Largo da Luz), onde chegou às 04H00 do dia 23, e depois, com um novo cabo de 3.000 m, até ao RE 1, a cuja Porta d’Armas chegou às 06H00 do dia 24, depois de muito trabalho e algumas vicissitudes, como o ter que partir algumas lâmpadas de iluminação pública, para mascarar a instalação a que se procedia. Após um brevíssimo descanso do pessoal envolvido, procedeu-se então às emendas e aos ensaios necessário às ligações a estabelecer, sendo duas à central automática militar (EPTm), e outras duas, por uma questão de redundância, à central do QG de Lisboa e ainda a referida ligação ponto-a-ponto, que viria a permitir um contacto imediato sempre que houve que relatar escutas ao PC, ou coordenar ligações.

Cerca das 18H00 do dia 24, para surpresa dos oficiais que iriam constituir o PC, e que na altura tapavam as janelas com mantas, tal como é relatado por um deles, o Cap Engª Luis Ferreira de Macedo, os terminais do cabo davam entrada no PC, procedendo-se de imediato à ligação, teste e activação dos respectivos telefones.

Esta primeira “operação militar” do 25 de Abril foi dirigida pelo chefe da secção TPF do STM, Cap Verissimo da Cruz (já falecido), coadjuvado pelo adjunto da secção, Cap Pena Madeira, chefiando a equipa de guarda-fios que procedeu à montagem o furriel miliciano Cedoura. A este propósito, “clicar” aqui  para ver, neste blogue, o depoimento do hoje MGen (R) Pedro Pena Madeira.

TrajectoCTA

3 comentários em “22 de Abril de 1974 – primeira operação militar do MFA

  1. A construção do cabo telefónico, entre Sapadores e a Pontinha, nas vésperas do 25 de Abril, que foi, sem dúvida, fundamental, para garantir as comunicações entre o PC do MFA e as unidades envolvidas.

    O post relata a ação desenvolvida e o papel desempenhado pelo TCor Garcia dos Santos, Cap Veríssimo da Cruz (já falecido), Cap Pena Madeira e Furriel Cedoura, chefe da secção de guarda-fios que executou a montagem do cabo.

    Considerando que valorizaria este Blogue a participação dos cabos e soldados que fizeram parte da secção de guarda-fios atrevo-me a desafia-los a enviar os seus testemunhos,

  2. Eu Furriel Carlos Dias tambem estava na EPT na parte dos telefones e o Furriel Cedoura era nos guarda fios, ele é que andou vários dias com alguns elementos da secção a montar o cabo entre o QJ e o RE1 na Pontinha, Depois do cabo instalado foi-me pedido pelo Cap. Verissimo da Cruz que ensaia-se 12 telefones de BL (Bateria Local), que trabalhavam a manivela, depois de ensaiados foram entregues ao Cap.que mandou alguem, penso da equipa do Fur Cedoura instalá-los. Os telefones não funcionaram e o Cap. veio novamente ter comigo dizer-me que os tefones etavam avariados e que tinha que lhe ensaiar outros,Pois aconteceu o mesmo os telef continuavam a não funcionar.Então o que aconteceu foi que os cabos foram passados por tudo o que era sitio,a maioria do cabo foi passado preso aos postes dos eletricos que como sabemos funciona com tensão eletrica e que induziram corrente nos cabos telefonicos.
    Eram para ficar 6 tef na Pontinha ligados com 3 no QG e 3 na EPT teve que se reduzir porque só 2 ou 3 pares do cabo é que se conseguiram pôr a funcionar.
    Foi um trabalho bem pensado pois estes telefones serviam para informar a Pontinha, de todas as conversas nas estações automaticas do QG e EPT.
    Sendo apanhados nas escutas telefonicas muitos elementos do regime, graduados militares e elementos da Pide.
    Carlos Dias

  3. A “sala recatada” do Regimento de Engenharia nº 1 na Pontinha, era à data, o próprio edifício de comando do Regimento. O futuro edifício de comando estava em acabamentos. O R. E. 1 só estava na Pontinha desde Maio de 1972. Antes era o destacamento, sendo a sede aquele que é hoje a Universidade Lusófona, no Campo Grande. Houve da parte dos meus colegas FurrMilº. com a especialidade de Transmissões de Engenharia, um grande empenho (entre muros) em assegurar as TSF E TPF fundamentais para o sucesso. Os discretos e eficientes militares de então, (anónimos de hoje), foram verdadeiros heróis.

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