Bose nasceu em 30 de Novembro de 1858 em Mymensingh, na altura território indiano, que, actualmente, pertence ao Bangladesh, e faleceu em 23 de Novembro de 1937.

Estudou em Calcutá, onde se formou. Com 22 anos mudou-se para Inglaterra onde continuou os  estudos, inicialmente, em medicina, na Universidade de Londres, e, posteriormente, em Ciências Naturais, em Cambridge.  Aqui foi aluno de Lord Rayleigh, que muito o influenciou.

Regressou à índia, onde foi, durante 30 anos, professor e investigador no “Presidency  College of Calcutta”. Em 1917 fundou o “Bose Reserch Institut”, em Calcutá, a primeira instituição de investigação científica da India. Depois de 1900 dedicou-se à área científica mais ligada à sua formação inicial: a fisiologia de animais e plantas. Nesta área fez estudos pioneiros sobre os efeitos da radiação electromagnética nos seres vivos.

Foi eleito membro da “Royal Society” em 1920.

Contribuição para a evolução da TSF

Quando Bose regressou à Índia, milhares de homens da ciência, por todo o mundo, investigavam as recém-descobertas ondas electromagnéticas e procuravam aplicações práticas das mesmas. Bose não fugiu a esta “moda”. A leitura do livro de Oliver Lodge, “Heinrich Hertz and His Sucessors” teve influência nesta orientação. Em 1894 criou um pequeno laboratório, dentro do “Presidency College”, onde começou a desenvolver as suas investigações orientadas essencialmente para duas áreas:

– Estudo do comportamento da radiação electromagnética, envolvendo refracção, difracção, e polarização;

– Estudo de dispositivos e técnicas para detecção da mesma radiação.

No que se refere à primeira área, Bose trabalhou essencialmente com ondas milimétricas sendo um precursor das microondas. Como se pode verificar na figura abaixo apresentada, que mostra o dispositivo da sua demonstração perante a “Royal Institution”, em 1897, utilizou vários componentes de microondas, inventados por si, tais como: guia de ondas, antena de corneta e polarizador.

Bose demonstrando as suas descobertas na “Royal Institution”, em 1897
Esquema da montagem utilizada na demonstração

Em 1895 Bose fez uma demonstração pública da utilização das ondas de rádio, conseguindo fazer tocar uma campainha e detonar uma arma a uma distância de aproximadamente uma milha, facto que lhe permitiu entrar no restrito clube dos que primeiro demonstraram a utilidade prática de tais ondas.

Na segunda área, Bose, conhecedor das limitações que tinha o dispositivo de recepção então usado – o coesor de limalha –  dedicou-se a pesquisar  um dispositivo alternativo. Fez estudos com dispositivos de junção entre dois materiais diferentes, que foram precursores do detector de galena. Em 1899 Inventou o chamado coesor de junção imperfeito ou auto-coesor ou coesor de ferro-mercúrio-farro que consiste numa pequena quantidade de mercúrio contida numa cápsula de ferro com uma pequena quantidade de óleo a cobrir o mercúrio e, em contacto com o óleo, um outro eléctrodo de ferro. Quando se aplica uma radiofrequência entre o eléctrodo que constitui a cápsula e o outro eléctrodo de ferro, a resistência entre os eléctrodos diminui muito, permitindo a passagem de uma corrente contínua. Quando deixa de existir o sinal de radiofrequência a resistência de contacto volta a aumentar. Por isso, este coesor, ao contrário do de limalha, era auto-recuperável.

Ainda hoje não se conhecem bem quais os fenómenos físicos que permitem este funcionamento mas julga-se que estão ligados à polarização dos materiais nas junções o que configura tal dispositivo como o antecessor do díodo de junção que apareceu 40 anos depois.

Mais uma controvérsia envolvendo Marconi

À semelhança de Tesla, há também um contencioso de patentes entre Bose e Marconi, embora este nunca tenha sido objecto de disputa judicial.

Marconi, nas suas primeiras experiências de rádio, até 1900, utilizou como detector o coesor de limalha, inventado por Branly e aperfeiçoado por Lodge , mas, na primeira ligação transatlântica, em Dezembro de 1901, utilizou um detector mais sensível, o denominado coesor ferro-mercútrio-ferro ligado a um telefone, que alegou ter-lhe sido oferecido por L. Scolari, engenheiro da Marinha Italiana e seu amigo de infância, a que chamou “coesor da Marinha Italiana”.

É hoje consensual que tal dispositivo foi inventado por Bose que, em 27 de Abril de 1899, havia feito, na “Royal Society”, uma conferência intitulada “On a Self Recovering Coherer and Study of Cohering Action of Different Materials”, na qual terá feito a descrição de tal dispositivo.

Nem Marconi nem Scolari tiveram a hombridade de reconhecer a autoria da invenção de Bose.

Marconi obteve mesmo uma patente de um dispositivo praticamente igual (British Patent 18105 de 19 Setembro 1901).

Fontes:

(1)    The Work of Jagadish Chandra Bose, 100years of mm-wave Research, D. T. Emerson, National Radio Astronomy Observatory.

(2)    Jagadish Chandra Bose: The Real Inventor of Marconi´s Wireless Receiver, Varun Aggarwal, Div. of Electronics and Comm. Engg., NSIT, Delhi, India.

1 comentário em “Os Pioneiros da TSF – Jagadish Chandra Bose

  1. Primeiro, os parabéns pelo bom trabalho.
    Em segundo lugar a minha confissão de ignorância: Desconhecia este cientista.
    O que vamos concluindo é que nas épocas em que a humanidade está preparada para novas necessidades há sempre uma pléiade de espíritos votados à aventura de inventar formas de satisfazer essas necessidades. Estas vagas são cíclicas. A nossa foi a vaga a Informação.
    Cruz Fernandes

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